12 de abr. de 2007

Porque Não Mais Me Ufano Do Brasil

Por Peter Wilm Rosenfeld

Quando eu era jovem, e não entendia muita coisa, tinha verdadeiro orgulho em ser brasileiro nato. Filho de imigrantes alemães, meu primeiro idioma, como seria de esperar, era o português. Até certa idade, mais ou menos 8/9 anos, falava português com sotaque alemão.
Ao sobrevir a guerra, minha irmã e eu nos recusamos a falar alemão em casa. Éramos brasileiros e havia que falar português. Afinal, era a nossa pátria.
Já se falava de muito coisa, como da indústria da seca no nordeste, do poder dos plantadores de café (não sabíamos o que era escravidão) e tantas outras que aconteciam aqui.
Mas, garbosamente, participávamos das solenidades da semana da Pátria, cantávamos o hino nacional com entusiasmo. Até mesmo aplaudíamos o Presidente-Ditador Getúlio Vargas, aplaudíamos o Interventor em nosso Estado, pois era um homem de bem.
Em suma, amávamos nosso País. Nos orgulhávamos de ser brasileiros, nascido em uma terra que tinha de tudo para proporcionar bem estar a seu povo.
Aos poucos, à medida que crescíamos e passávamos a conhecer as desmazelas, foi “caindo nossa ficha”. Torturas(vide Filinto Müller), perseguições, roubalheiras, os coronéis do Nordeste, e tudo o mais, começaram a nos preocupar. Apesar de ainda muito jovens em 1945, apoiamos a deposição de Vargas.
O Gal. Dutra, eleito para a Presidência, apesar de ter sido Ministro da Guerra durante a ditadura, era igualmente homem de bem, democrata e respeitador da lei. Sempre que lhe propunham algo, perguntava: “isso está no livrinho ?” Esse livrinho era a Constituição em vigor. Infelizmente, porém, Dutra conhecia pouco de economia e de administração, razão pela qual permitiu que todas reservas em dólares americanos, que havíamos obtido durante a guerra, fossem gastos, dilapidados, com a compra de milhares de bugigangas que não tinham qualquer utilidade, Mas era uma questão de “status” ostentar roupas, carros e tantas outras coisas que não estavam ao alcance de todos.
Os políticos de então eram, em sua grande maioria, cidadãos com uma excepcional formação humanística, extremamente cultos e sérios. Não havia mordomias, quem se candidatasse a deputado ou senador sabia que teria que viver no Rio de Janeiro, em um imóvel de sua propriedade ou alugado, arcando com todas as despesas.
Dutra presidiu as eleições de 1950, que foram limpas e honestas (claro que ainda era a época dos votos de cabresto, principalmente de parte dos coronéis do nordeste e do norte).
Getúlio Vargas foi eleito Presidente. Em seu mandato começaram as falcatruas em escala industrial, levando a uma insatisfação popular que adquiriu força à medida que o tempo passava, culminando com seu suicídio em 1954. Sua queixa e justificativa para esse gesto definitivo nunca me convenceu. Acusou forças alheias (sem nomear quais eram) de o terem forçado a cometer o ato final de sua vida no que, pareceu-me, esqueceu de mencionar que quem causou todas as atividades desonestas foram pessoas de sua copa e cozinha, a começar por seu irmão Benjamin (vulgo Beijo) e por seu guarda costas Gregório Bezerra, considerado com o anjo negro que “protegia Getúlio.
Logo veio Juscelino, que tomou posse pela atitude das forças armadas, que não aceitaram compactuar com todos os movimentos que visavam a impedir sua posse.
E aí acentuou-se a degringolada moral, iniciada no período Vargas. Com a maluquice de construir Brasília durante seu mandato, ou seja, em curto espaço de tempo, iniciou um processo de corrupção nunca visto no País. Além disso, para incentivar os funcionários e os políticos a se mudarem para a nova Capital, foi o criador da série de regalias e mordomias para funcionários e parlamentares. Não criou todas as que hoje mancham nossa cena política, mas abriu o caminho para seu crescimento, até chegar à intolerável condição atual. Vários palácios, apartamentos (ou casas) para funcionários e ministros, passagens, verbas de representação, etc., etc., enquanto esquecia de criar uma infra-estrutura absolutamente necessária.
Abandonou as ferrovias, os portos, a navegação fluvial, dando toda a força aos meios rodoviários.
Bem, isso é história; relembrei-a para mencionar que meu orgulho de ser brasileiro foi enfraquecendo gradativamente.
Agora chegamos ao governo Lula, e estamos vivendo o auge da corrupção, da safadeza, da imoralidade. O próprio Presidente não escapa disso. Apesar de se declarar o torneiro mecânico de maior sucesso e que mais longe chegou, transformou-se em proprietário de um luxuoso guarda-roupa, com ternos feitos sob medida com tecidos importados (Da. Marisa Letícia não ficou atrás), certamente pagos com o cartão de crédito corporativo.
Formou o maior ministério que “esse país já teve”, não dando a menor importância no que se refere à qualificação das pessoas que está nomeando, apenas atendendo a recomendações (ou exigências dos partidos que compõem a “base aliada”) .
Igualmente, situação única no Brasil desde sua descoberta, não administra nada (até porque não sabe faze-lo). Não importa se a pessoa não tem a menor qualificação. Se for seu amigo do peito, continua ministro e Lula não o demite. Ao contrário, quando consegue “negociar” a substituição, paga os maiores elogios aos que estão saindo (vide Palocci, Gushiken, José Dirceu, etc). Sem falar no Ministro Waldir Pires, que deveria ter tido uma atitude de pessoa decente renunciando, quando viu que não tinha condições de ser Ministro da Defesa.
Aliás, por que tantos querem ser ministros de qualquer pasta ? É altamente suspeito. O recente episódio da nova Ministra do Turismo, que se submeteu aos maiores vexames para se tornar Ministra de qualquer coisa, é um perfeito exemplo do que acabei de dizer.
Nossos legisladores, nos três níveis. Que vergonha ! Com as exceções que provam a regra, nenhum deles se elege e atua visando ao bem do País. Querem cargos apenas para se locupletarem ou para que algum laranja se locuplete, dividindo o butim com seu amigo.
Tornando a repetir a frase do Presidente, “nunca nesse País houve tanta imoralidade como está ocorrendo agora”. Deputados provadamente corruptos são inocentados pelo plenário da Câmara; provas não valem mais para nada. O preço de cada um varia, mas quase todos são corruptos, de uma ou de outra forma. São mensaleiros, sanguessugas, e ninguém foi punido.
O Procurador Geral da República denuncia quarenta pessoas por corrupção, dentre eles políticos empregando para tanto palavras fortes, jamais utilizadas anteriormente para deixar claro qual sua convicção. Aconteceu algo ? Nada !
Nossos códigos todos, o penal, o civil, o de processo civil, enfim, todos, estão obsoletos e ninguém se preocupa em atualiza-los. O Brasil é a terra da impunidade, onde só os pobres, sem recursos, são processados e levado às cadeias.
Realmente é intolerável.

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