10 de abr. de 2007

Que Água Você Bebe?

Por Laurence Bittencourt Leite

O grande mal, talvez insolúvel das democracias, e isso é um paradoxo, é que ela é uma porta permanentemente aberta para o surgimento de demagogos e populistas. Esse é o caminho fácil, e que tem sido o comum ao longo da história do nosso país e da América Latina como um todo. A questão diante do dilema é: o que fazer? Como enfrentar esse “mal”? Pela ditadura? Claro que não. A pretensão totalitária já foi pensada por gente como Sócrates, Platão, Hobbes, Marx, e colocada em prática por gente como Lênin, Stalin, Mao, Hitler, Fidel. Todos tendo em comum (variando de grau) o ódio à democracia, tida como um retrato irreal e pernicioso da realidade, burguesa como tal, capaz de provocar desvios de uma suposta ordem ideal que busca levar as massas à autoconsciência. Mas essa autoconsciência, tão desejada, oh, se tornou um monstro pernicioso quando posta em prática.
As massas são ineducadas e vivem de paixões. Claro que a Europa rica (primeiro mundo) conseguiu uma espécie de conciliação via liberdades individuais, sendo este o grande remédio para tentações coletivistas e totalitárias. Basta pensarmos teoricamente em John Locke que deu a virada de mesa condenando inclusive os tais “direitos divinos”, e que na prática foi levada ao extremo pelos Estados Unidos que mesmo sendo o “novo mundo” foi quem deu o exemplo prático, através de uma elite formadora que construiu uma Constituição livrando o peso do Estado das costas do indivíduo, impedindo o surgimento de demagogos e populistas, prezando pelas liberdades privadas. O Estado sempre foi visto como o mal, acertadamente, por gente como Thomas Jefferson, George Washington, o próprio James Madison, ou Thomas Payne. Percebam que diferente de nós, lá não tem, por exemplo, Ministro da Educação, da Cultura, ou do Turismo, mas é lá que tem os maiores e melhores museus, universidades, e no turismo, mesmo não tendo “morro do careca” (foto) ou preocupações ambientais é onde reside o grosso da fatia do turismo do mundo.
Mas por que estou falando tudo isto aqui? Por causa da tentativa de aprovação pela prefeitura de Natal do novo Plano Diretor. Tudo organizado, para defender o “patrimônio do povo”. Mas que patrimônio do povo? Do povo ou deles, os políticos? O prefeito quer aprovar o novo Plano Diretor paralisando os investimentos em Natal, para evitar “espucalação imobiliária” e para não retirar a visão da Praia de Ponta Negra por causa da construção de edifícios.
Mas um dos jornais locais, “Tribuna do Norte”, deu como destaque (não vi ninguém mencionar fato) recentemente que entrou em nosso Estado nos últimos anos, mais de 1 bilhão de Euro. Eu falei 1 bilhão de euro. E isso sem precisar mostrar ou ter “Agenda do Crescimento” que é o novo plano do governo do estado. Mas adianta? E só mentes imbecis para dizer que se devem podar os estrangeiros especuladores. E para quê? Para ter nossas paisagens livres. Jesus! Não há saída para isso! É inadmissível. No entanto, em outros momentos, adoramos aplaudir e falar dos estrangeiros. Inclusive viajando para lá. Com dinheiro de quem? Às custas de quem? Desse mesmo povo que eles, os políticos, dizem defender o patrimônio. Por acaso a “nossa” água também entra no “patrimônio do povo?”. Seria bom perguntar aos nossos deputados e vereadores (e mesmo aos jornalistas locais que defendem isso) se eles bebem a água da Companhia de Água e Esgoto (estatal) direto da torneira, ou se compram água privada, mineral? Mais uma vez o privado. Discurso é bom e fácil, mas a prática é outra. A prática deles é pela iniciativa privada, igual ocorre na saúde, na educação e na segurança. Ou seja, apelam para a iniciativa privada, mas fazem o discurso contra ela. Claro, para eles, o bom, para as massas o sobejo. No entanto, os poluidores americanos, e europeus ricos, tomam água da própria torneira de lá. E isso não sendo ambientalistas.
Mas a demagogia e os feudos estão instalados na discussão do “novo” Plano Diretor, como de resto em nosso país, e na América Latina. Claro, aqui o caminho mais fácil sempre foi a política. Entendemos: iniciativa privada dar trabalho, coisa que eles não querem. E tomem entrar na política. Os nossos órgãos de comunicação locais é o exemplo. A própria ex-TV Cabugi (hoje, Inter Tv, filiada da Rede Globo) quando teve que se profissionalizar (senão iria fechar) teve que demitir funcionários. Mas na política não precisa. E deve ser bom a política, pela disputa para entrar nela. Vide agora também Micarla de Souza que abandonou o gerenciamente da TV Ponta Negra e foi ser candidata a deputada estadual (eleita). Ou mesmo o atual deputado federal Nélio Dias, imagine, dono de uma antiga fábrica de confecções, COTÊ. Não deu certo. Faliu. Hoje, na política. Iniciativa privada não é fácil. Esse é um retrato três por quatro do nosso atraso. E ainda faço mais uma perguntinha: quem é mais útil para o nosso Estado, Aluízio Alves ou Nevaldo Rocha. Jesus! Se forem pesquisar vai dar de barbada o político. Mas o mundo real está com Nevaldo, empresário de sucesso, que tem só em nosso estado, duas lojas Riachuelo, uma industria Guararapes, e agora ergue um Shopping moderno sem um vintém do governo. Quantos funcionários? É o mundo real. Na política eles podem ter 100 mil funcionários, mas para produzir o quê? Nada. Quem paga a conta de todos eles, é a iniciativa privada, onde só sobrevive quem tem competência, apesar do governo. Na política, é tudo fácil e confortável. Confortabilíssimo. E tome discurso. O novo Plano Diretor é mais uma excrescência. Aonde vai parar tudo isso? Aonde?
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