22 de ago. de 2007

Em boca fechada não entra mosca

Por Ralph J. Hofmann

Ha anos atrás estava em Brasília, um grupo de empresários e um setor discutindo alternativas para melhorara as quotas de exportação aos Estados Unidos de certos tipos de aço protegidos por um tratado de auto limitação.
A reunião formal de estratégia havia acabado, o contingente americano se reuniria conosco no Itamaraty o dia seguinte. Fomos para um restaurante conhecido e passamos a conversas informais.
Em algum momento surgiu o assunto da criação de empresas na região do Caribe, aquelas beneficiadas pelo CBI (Caribbean Basin Initiative) que recebiam grandes quotas de exportação aos Estados Unidos desde que fosse agregado 36% de valor ao produto por transformação no Caribe.
Uma pessoa, presidente de empresa explodiu em voz alta e estridente. – Mas então é o que vou fazer! Mando para um desses países e faço o acabamento lá! Houve silêncio tumular à mesa.
Estávamos acompanhados de alguns dos diplomatas designados pelo Itamaraty para fazer as negociações. Pessoas experientes e que há anos trabalhavam este tipo de assunto. Um deles falou: - Meu senhor, se vai fazer isto planeje fazê-lo no silêncio e sigilo de seu gabinete. Não num dos principais restaurantes de Brasília. Quem lhe garante que os americanos sentados na mesa ao lado não sejam da comissão de empresários que acompanhará a comitiva americana ao Itamaraty amanhã.
A resposta do empresário foi – Mas eles não entendem português! - E o diplomata: -
Será? E espanhol?
Esta manhã li que o Presidente Lula, o grande mascate dos biocombustíveis declarou que iremos exportar álcool via unidades de desidratação no Caribe. Em primeiro lugar, duvido que o custo de desidratar chegue a 36% de valor agregado. Realizar o lucro no país do Caribe não é solução, pois o Departamento de Comércio dos Estados Unidos examina os 36% sobre o custo e não sobre o custo mais lucro do produto.
Estes são fatos que o Sr. Lula poderia ter verificado consultando os peritos do Itamaraty ou os peritos do Ministério da Indústria e Comércio que estavam na ativa nos anos 80 e 90.
Além disto, quase todos os países do Caribe produzem álcool e açúcar. Se prestarão a um expediente destes? Precisam de um expediente desses?
E o governo dos Estados Unidos, que é pressionado elo lobby álcool/açucareiro e que mantém fechada a porta a todos os exportadores de açúcar, inclusive do Caribe vai ficar quietinho?
E finalmente, não teria sido questão de convidar os produtores de álcool para, a portas fechadas, discutir uma estratégia, em lugar de publicamente informar o concorrente via discurso em público, relatado pela imprensa, sua intenção de usar um expediente.
Me pergunto, que produtos brasileiros que hoje estão se aproveitando deste expediente cairão sob a lupa do Departamento de Comércio dos Estados Unidos esta semana.

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