11 de ago. de 2007

A jogadora de xadrez

Por Adriana Vandoni

Ai que alegria!, hoje é sábado e como todo sábado de manhã, lá vou eu com meu pai para o Clube de Engenharia. Esse era o meu programa de sábado. Saia toda faceira de mão dada com meu pai. O Clube ficava em um prédio ao lado da então Residência Oficial do governador. Morávamos ali perto, na Rua Campo Grande, bem ao lado da pensão de Ninira Cuiabano. Nina, como eu a chamava, a melhor comida do mundo. Nossa!, do quintal da minha casa eu sentia o cheirinho daquele feijão e do bife na chapa.
Íamos a pé, eu e meu pai. Passávamos pela Praça Alencastro e subíamos aquele bequinho que não me lembro o nome. Era tempo do General Saco, do Zé Bolo Flor, do Mão Branca e tantos outros personagens da minha infância. Mas aos sábados eu passava imponente, nem me importava se ia ou não encontrar com eles no coreto da Praça, afinal, estava com meu pai e não ia sentir o costumeiro medo que sentia quando os via.
Lembrei-me dias atrás dessas manhãs de sábado. Estava em casa com meus filhos e alguns amigos e amigas deles. Assistíamos a uma partida de xadrez que um deles jogava pela internet.
- Uai!, Mas eu sabia jogar xadrez. Eu jogava todo sábado lá no Clube de Engenharia com meu pai. E era campeã, ganhava de todos lá. Porque não estou me lembrando das regras do jogo?
- Quantos anos você tinha na época, mãe? Perguntou meu filho assim meio incrédulo, meio que gozando da minha cara.
Fiquei quieta...pensaaando. Estranho mesmo, eu não estava me lembrando de nada do jogo, uai, mas eu jogava xadrez quando era criança. Por um longo tempo eu havia me esquecido que jogava xadrez, claro, outras preocupações surgiram como paquera, namoro, vestibular, filhos, as paqueras e namoros dos filhos...nossa, quanto tempo passou e eu sem me lembrar que quando criança joguei xadrez. Será possível ter me esquecido de tudo? Foi aí que me deu um estalo e eu comecei a fazer cálculos na minha cabeça. Será possível? Hummm! Pelas minhas contas, quando eu ia lá com meu pai, nós ainda morávamos na Rua Campo Grande. Mas nos mudamos de lá e eu tinha ... quantos anos mesmo eu tinha quando fomos para o bairro Duque de Caxias? Hummm, deixa eu ver... uns oito ou nove anos ... oito, isso!, eu tinha oito anos quando me mudei da Rua Campo Grande. Isso quer dizer que quando eu ia ao Clube de Engenharia com meu pai pra jogar xadrez eu devia ter... a não!, essa não!
- Alô, oi pai, tudo bem?
- Oi filhinha. (até hoje ele ainda fala filhinha)
- Pai, o senhor lembra quando a gente ia ao Clube de Engenharia aos sábados de manhã.
- Claro que sim.
- Pai, eu devia ter menos de oito anos.
- Isso.
- Paai, o senhor e seus amigos mentiam pra mim que eu jogava xadrez e ainda me davam a vitória?
- Não acredito que só hoje que você descobriu isso!
- Paaaai, e eu a-cre-di-tei! Que lerda! Eu nunca joguei xadrez, então?
- Claro que não, mas você ficava quietinha lá. Cada hora era um que ia perder de você. Nos revezávamos. Eu, o Saul, Castilho, Timóteo, o Odenir.
- Mas pai, que sacanagem!!! Eu a vida inteira pensei que jogava xadrez e ainda acreditava que era boa nisso!
- Tá zangada comigo, filhinha? Perguntou meu pai dando gargalhadas.
- Não, né pai. Mas que foi uma sacanagem, isso foi!
Pois é, desliguei o telefone e o duro mesmo foi agüentar a gozação da molecada que estava ao meu lado. Mas tudo bem, essas são as lembranças doces da minha infância, são momentos únicos e inesquecíveis que meu pai me proporcionou.
Pai, te amo! Feliz dia dos pais!

3 comentários:

Abreu disse...

Parabéns pelas deliciosas memórias.
Os últimos meses têm sido muito penosos para mim, com seguidas e doloridas perdas familiares.
Faz 15 dias, perdi meu pai. Aliás, não perdi, o devolví à eternidade e guardarei para sempre, comigo -- dividindo com meus filhos, sobrinhos, netos, etc., as lembranças tão boas quanto as suas, com histórias sempre saborosas e edificantes.
Será meu primeiro dia dos pais sem ele, mas fico feliz e satisfeito por Você, pelos demais que ainda podem abraçar seus velhos nesse dia e também por mim, logo que passar minha amargura pessoal.
FELIZ DIA DOS PAIS! (e nem posso me esquecer que também sou papai...)

Anônimo disse...

Oi Adriana, olha fazia anos que nao lia algo tão prazeroso, afavel, mas que presente voce dar para os teus leitores. Parabéns pela cronica e pela doce e sincera homenagem ao dia dos pais, e com muito humor. Continue assim. É uma das poucas coisas que nos resta nesse país tomado pelos caos: rir e ter humor. Parabéns e feliz dia dos pais com o seu pai e marido.

Lúcio Lopes disse...

Adriana, sua crônica está soberba!
Foi um super-presente para nós, leitores e pais.
E não apenas a crônica, também o blog.
Parabéns e obrigado!
E a campanha EU TAMBÉM VOU VAIAR LULA tem de continuar!
Um abraço, deste seu leitor.