27 de set. de 2007

Ao poupar Renan, governo criou sarna para se coçar

Por Chico Bruno

Está muito difícil entender o que se passa com o governo Lula. Teve a chance de acabar com a crise no Senado, mas preferiu postergá-la. Venceu a votação em 1º turno da CPMF na Câmara dos Deputados e imediatamente abriu uma crise com o PMDB, nomeando petistas para duas diretorias da Petrobras. Como se não bastasse, a Polícia Federal vazou o relatório do mensalão mineiro, que atinge o ministro Mares Guia, das Relações Institucionais. Uma atitude que mereceu críticas do procurador geral da república Antonio Fernando de Souza.
Pelo visto, ou presidente Lula gosta governar sob fortes emoções, ou não sabe o que está acontecendo debaixo do seu nariz.
O ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, convive as turras com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, bem embaixo do nariz do presidente Lula, pois os dois são seus vizinhos no Palácio do Planalto.
Mares Guia negocia as nomeações para cargos do governo com os partidos da base aliada, mas Dilma segura às nomeações. Ao contrário, atende com agilidade as indicações de petistas, principalmente as do seu aliado Tarso Genro, ministro da Justiça, ou as de seu interesse.
A disputa entre o petebista e a petista ganhou contornos dramáticos com as nomeações feitas por Dilma de dois petistas para a presidência da BR Distribuidora e uma diretoria da Petrobras, apesar do acordo fechado por Mares Guia com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (PMDB-SP), que as nomeações só sairiam após a aprovação em todos os turnos na Câmara e no Senado da CPMF.
Além disso, a Polícia Federal, subordinada a Genro, desestabilizou o ministro de Relações Institucionais precipitando o anúncio do pedido de seu indiciamento no inquérito que investiga a existência de caixa Dois na campanha ao governo de Minas Gerais do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), em 1998.
Este rebuceteio entre Dilma e Mares Guia, proporcionou ao PMDB do Senado mandar dois recados para o governo e o PT. O primeiro é que a maioria dos senadores do partido não admite que o governo e o PT se aliem a oposição para retirar da presidência do Senado, o absolvido, Renan Calheiros. O segundo é que sem o PMDB, a base aliada não consegue aprovar nenhuma matéria de interesse do governo.
Materializaram os recados, derrubando a medida provisória que cria a já instalada Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, expurgando da cadeira o ministro Mangabeira Unger e os 660 cargos de confiança que já estavam preenchidos. Criaram um problemão para o governo resolver, haja vista, que o presidente Lula não irá deixar ao relento o ministro.
Por trás de tudo isso, está o erro estratégico do governo Lula e do PT na condução do processo do pedido de cassação do senador Renan Calheiros. Não tivessem interferido em favor de Renan, e desde 12 de setembro o senador alagoano já estaria recolhido a Murici. Poderia ter causado algum estrago, mas seria bem menor, do que o que está causando agora.

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