12 de set. de 2007

O indelicado e o delicado

Por Adriana Vandoni

Sintomático as matérias veiculas na imprensa de Mato Grosso sobre o evento ocorrido na segunda-feira em Diamantino/MT, para a assinatura de um protocolo de intenções entre o governo do Estado e o Grupo Bertin que pretende construir lá, um complexo industrial. Estavam presentes além do empresário Blairo Maggi (PR), o ministro da agricultura Reinhold Stephanes, o representante do grupo Bertin, o deputado federal Wellington Fagundes (PR), o prefeito da cidade Chico Mendes (PR) e seu irmão, o ministro do STF Gilmar Mendes.
O investimento previsto é de máxima importância para a região, inquestionável valor na geração de emprego e renda. Mas o ponto máximo do evento foi quando o governador Maggi disse em discurso que “Gilmar Mendes vale por todos os deputados e senadores de Mato Grosso”.
Em primeiro lugar o governador foi indelicado ao desmerecer o deputado Wellington Fagundes que estava presente. Nota-se nitidamente que Wellington está em pleno cozimento para ser engolido pela turma do governador que ele próprio abriu porta dentro do partido. Fagundes incorreu num dos clássicos erros políticos, transferência de poder. Isso só se faz quando entre os grupos existe confiança, tradição no cumprimento de acordos, cultura partidária, enfim, não é o caso. Ao abrir mão do partido e deixar com que Blairo se apossasse dele, Wellington deixou de ser a liderança. Deixou inclusive de ser uma peça importante na sucessão de Rondonópolis, sua base eleitoral, e mesmo tento tido uma boa votação para a prefeitura e ser uma referencia na região, a eleição do ano que vem nem passa por ele. Blairo foi indelicado com a bancada do estado que tanto o atende, aliás, não é a primeira vez e nem será a última que Maggi se refere aos deputados e senadores como um grupo sem importância. Os parlamentares escutam calados e abaixam a cabeça? Bem, cada qual com seu igual.
O discurso do governador também revelou uma delicada relação entre a política e o ministro do STF Gilmar Mendes, ao colocá-lo no patamar de lobista. Blairo disse: “Ele (Mendes) tem uma força muito grande”. O que a frase insinua?
Para completar a delicadeza da situação, o deputado federal Wellington Fagundes arrematou: “O ministro Gilmar tem usado o seu prestígio para beneficiar Mato Grosso, apesar de não ser nem do Executivo e nem do Legislativo”. O ministro de fato não é legislativo ou executivo, daí a estranheza no evento. O ministro é um representante da mais alta corte da justiça brasileira e dentre as suas inúmeras competência não está a de fazer uso político do cargo.
As faixas encomendadas e distribuídas pela cidade denunciam uma tênue separação entre o apoio de um irmão ao outro que é prefeito; da interferência de um ministro do STF na política de um município: “Obrigado ministro Gilmar Mendes pelo apoio à vinda do Grupo Bertin para Diamantino”. A pergunta que se deve fazer depois desse evento em Diamantino é: de que maneira o ministro do Supremo Tribunal Federal participou das negociações para que o grupo Bertin decidisse investir na cidade?
O ministro pode não ter usado da sua posição para atrair tão importante investimento, mas as palavras são tão delicadas que insinuam interferências impróprias para a liturgia do cargo vitalício que ocupa. As palavras ditas e escritas durante a assinatura do protocolo de intenções, coloca sob suspeição futuras decisões que Gilmar Mendes, como ministro, possa vir a tomar, caso chegue ao STF algum processo que tenha como interessado o grupo Bertin. Situação mais real que se pode imaginar.
A cidade de Diamantino e todo o estado de Mato Grosso devem exaltar e admirar Gilmar Mendes, o filho da terra que chegou a ministro do Supremo Tribunal Federal. É motivo de orgulha para todos os mato-grossenses, mas neste Brasil que vive tempos de fragilidade ética, além de ser é preciso parecer.

(na foto, da esquerda: o procurador geral de justiça, Paulo Prado; o prefeito de Diamantino, Chico Mendes (PR); o presidente do grupo Bertin, Reinaldo Bertin; o ministro Gilmar Mendes; o governado Blairo Maggi e o ministro da agricultura Reinhold Stephanes.) clique para ampliar.

2 comentários:

Unknown disse...

O governador esta certissimo em fazer a sua cama ao terminar o mandato, ele quer ir a senador e quem pode julgar senador? Bingo quem disse o STF.depois daquela chuva de Habeas-corpus na operação navalha...............não sei não hum!hum!
(este comentario foi vetado no Rdnews)

Anônimo disse...

Com certeza, vale muito mais, pois ele faz o que quer e os outros em referencia fazem aquilo que o "molusco" quer e manda, infelizmente essa subordinaçao do Senador Jonas ao PT, feriu de morte a História do Senador, com muita convicçao, tenho que esse é o pensamento de todos matogrosssenses que sempre apoiaram o Senador, até para eleger seu afilhado ao governo de Mato Grosso. É triste, mais é a verdade.