O timoneiro e o profeta

Aqueles a quem os Deuses querem destruir primeiro enlouquecem. (Eurípides)

Por Ralph J. Hofmann

- Grande Timoneiro, o que o levou a convidar Octavius a ser seu homem de confiança para a futurologia.
- O desejo de vingança pelas palavras desairosas que escreveu em outras épocas contra mim.
- Como Mestre? Promovendo-o acima dos outros mortais?
- Ele veio pro jogo não veio? Desdisse tudo que havia dito não desdisse? Agora ele vive na palma da minha mão. O apelido de seu ministério lembra quem? O Super Homem? O Batman? Não! Lembra o Patolino e o Hortelino Trocaletra?
- Mas agora Mestre? Sua criação virou pó. O homem e suas seis centúrias estão aqui e não temos sequer um espaço adequado para armazená-los.

- Sai barato. Ninguém gosta dele mesmo. Nem mesmo eu. Mas veja, no entender dele faço o possível para permitir que ele ajude a tocar estepaiz. São os outros que não gostam dele. Agora ele entende que “Sassá Mutema” só tem um aqui. “Salvador da Pátria” não pode vir de Harvard num tapete mágico. Tem de vir do sertão e do ABC.
- Mestre, o senhor ainda tem algum plano para o Octavius?
- Bom, estou considerando aconselhá-lo a se embrenhar no agreste e durante uns seis meses pastorear cabras, tomar apenas leite de cabra ou água, feijão de corda e queijo de cabra, vestir longas vestes cor açafrão, calçar sandálias, deixar crescer a barba e os cabelos. Depois ele viria a pé até Brasília, puxando uma cabra. Aí nós o chamaríamos de “Profeta” e o nomearíamos encarregado de nosso Planejamento a Longo Prazo. Um ensaio fotográfico seria fornecido à Time, The Economist, Nesweek e à Reitoria de Harvard. Tenho certeza que ele já se considera um profeta. Não deverá ter nada contra adotar o visual e o fedor de cabras.
- Mas não é cruel demais?
- Cruel nada Ele sempre pode voltar aos Estados Unidos e fundar uma seita na Califórnia.