11 de set. de 2007

Tropa de Elite Osso Duro de Roer...Pegou, Padilha!

Por Fabiana Sanmartini

O filme Tropa de Elite deveria estrelar no cinema este mês, mas depois dos acidentes de filmagem (roubo da van com as armas cenográficas), e a impossibilidade do diretor José Padilha (foto) de fazer um documentário (os policiais sinceros temeram retaliações) foi PROIBIDO.
Você pode estar rindo da expressão “policial sincero”, mas é o que o filme retrata. Com um elenco invejável, uma direção primorosa e a realidade contada de uma forma honesta: quando a polícia não é a polícia, o bandido não é o bandido, a milícia é sabida, o caixa da prostituição e do tráfico é disputado pelas altas patentes da polícia. Tem policial honesto e com ideais de justiça, tem a pressão que se passa para fazer parte de uma “tropa de elite”, policial abalado emocionalmente, sensível ao nascimento de um filho. O filme não retrata somente o lado corrupto, este nós já estamos cansados de ver nos jornais escritos e televisionados. Trata do lado humano da polícia, sem panos quentes, tem corrupção, violência, vista grossa, mas também é feita de gente, não só de animais. Em uma cena onde o BOPE é chamado para socorrer um “batalhão normal” da PM a frase dita pelo PM alusiva à caveira com uma faca na cabeça que estampa os carros e fardas do BOPE: “ faca na cabeça e nada na carteira”.
Fala sobre os filhos da classe média, as “crianças” nas faculdades particulares, e caras, traficando como gente grande. E vale lembrar que, na vida real, quando a corda arrebenta os pais vão aos noticiários da TV defender seus rebentos como “crianças querendo se divertir”. O BOPE entrou como uma ação pedindo a proibição e indenização pela imagem exposta do batalhão no filme. Processar por que, existe mentira nas formas de tortura mostradas? É mentira a corrupção noticiada diariamente em todos os jornais? O Rio de Janeiro é um mar de rosas e não existe violência tampouco prostituição e tráfico? Os policiais que são selecionados para pelotões especiais são convocados em casa, formalmente e vão para um spa relaxar antes do trabalho? A população conhece de cor os refrões cantados pela tropa, coisa amena, do tipo “Homem de preto/ o que é que você faz?/ Faço coisas/ que assustam Satanás.” Ou ainda: “Eu sou do BOPE/ sou treinado para matar.” Nada contra afinal cada um canta o que quer e gosta, mas é hipocrisia tentar calar um filme que retrata a realidade, até que de forma mais branda, já que na película morrem bandidos e afins, a comunidade é poupada. Aliás, caso as incursões fossem como as relatadas no filme, o Complexo do Alemão teria sido menos desastroso. Ah, deve ser pela imagem mostrada do Estado e do País, ficou feio? Neste país de onde não existem corruptos, onde não se vendem a vista grossa o filme é ficção perigosa. Francamente! Visto de perto o filme é algo como aqueles compactos coloridos de historinhas, que quem tem em torno de 35 anos, lembra bem. Um relato real. Se o filme está proibido pela violência, vamos rever este valor também. Todos assistimos inúmeros Rambos e Exterminadores, policiais enlatados com violência de sobra, estratégias policiais contadas, até porque se já são sabidas está na hora de mudar porque bandido também vai ao cinema. E quanto a algumas estratégias do BOPE, o narcotráfico está careca de saber, aliais como fica claro no filme. As que não foram contadas é porque são secretas de verdade. De qualquer forma, depois desta exposição, fica a pergunta que não quer calar, a quem interessa a proibição e por quê? A população conhece as atrocidades, melhor que ninguém, diga-se de passagem. Fica parecendo que a proposta é lesar, para não dizer coisa pior, quem tem compromisso com a verdade. O prejuízo pela não apresentação do filme é enorme. Vale então o refrão cantado pelo pelotão nos treinamentos “tropa de elite osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você”? Pegou Padilha! A arte não é e não pode ser encarada como ópio. Ela é informativa, mesmo quando é divertida e até quando retrata a violência. Ou então estaremos concordando com a velha instituição do futebol e do carnaval para manter o povo calmo e sob controle. Afinal nós somos a força e temos o poder de mudar quando quisermos. Não estamos à venda pelo preço do assistencialismo barato. Longe das armas temos em nossa voz e em nosso voto (por incrível que pareça) todos os poderosos. Assim é a democracia. Queremos o direito de assistir o que bem quisermos na telona, nos palcos e na telinha. Ou será que o “companheiro Chavez” está fazendo escola?

2 comentários:

Anônimo disse...

Desnecessário elogiar o conteúdo - perfeito. Agora, vamos, venhamos e façamos justiça: que primor de texto, dona Fabiana!

Mcarvalho disse...

"Honestos"
Que palavra pura para classificar os políciais que fazem um trabalho íntegro contra e que escolheram ser policiais de fato apesar de tudo está conspirando contra e tem a coragem de colocar a cara para levar porrada de uma burguesia hipócrita que alimenta o crime cada vez mais organizado,consumindo droga, que é a moeda usada para negociar armamento, essa elite criminosa, sem um código de ética, porque éticaindepende da formação moral dos envolvidos.
Uma burguesia criminosa que esconde dentro de moradias luxuosas seu delinquentes, mas, que saem para espancar os que julgam está abaixo do seu poder aquisitvo e que conseguem uma outra "Plêiade" de defensores, nada honestos para abafarem a cagada e os atos nefastos que cometem.
Parabéns pelo artigo!
Eu sou a favor de que se mostre para a garotada que usam os termos que aprenderam nas favelas como acabam os grandes criminosos. Policiais corruptos e os que buscam nas armas e nas drogas o poder. Mortos !