10 de set. de 2007

Uma sessão secreta e suspeita

Por Pedro Oliveira - Jornalista e presidente do Instituto Cidadão.

Um país que não acredita em seus políticos, que vê o Senado Federal como uma instituição focada nas mais podres suspeitas de corrupção, bandalheira e conivência com o imoral, é acometido de indignação. Pelo passado e pelo presente dos que lá estão não guarda maiores expectativas quanto à sessão extraordinária marcada para quarta feira, quando será julgado o presidente da Casa, senador Renan Calheiros.
As suspeitas aumentam quando usando como artimanha um regimento interno forjado na conveniência e no corporativismo da podridão parlamentar se anuncia não apenas o marginal “voto secreto” no qual se escondem os facínoras e os canalhas com medo e vergonha de se mostrarem ao povo, ainda surge uma afrontosa “sessão secreta”, na qual se supõe as negociações mais espúrias, os acordos mais putrefatos, e um resultado calcado na imoralidade, no crime contra a instituição política e um tiro mortal e traiçoeiro no coração de cada brasileiro.
Ninguém tem dúvida de que a absolvição de Renan vai simbolizar o sepultamento moral do Senado e de seus componentes, do governo e da oposição. O espetáculo já está com o script pronto, segundo Cláudia Lyra, diretora da Secretaria do Senado e única funcionária que poderá participar da reunião. Os acordos da absolvição serão feitos “intra-muros”, uma ata será naturalmente forjada pelo segundo secretário da Mesa e assinada pelos demais comparsas que irão “chancelar” uma das maiores afrontas à democracia, e aos princípios da moralidade e da legalidade já vistos na República.
Fosse em um país de vergonha e em um Senado de respeito, não haveria nem o que se discutir. Renan já estaria cassado. O relatório aprovado na Comissão de Ética e que recomenda a sua cassação é incontestável. As provas de seus crimes estão robustamente recheadas de comprovações, perícias e evidências da quebra do decoro parlamentar. A Polícia Federal em um trabalho competente e profissional desmascarou as falcatruas do senador. Os relatores Renato Casagrande e Marisa Serrano ofereceram um relatório com o propósito de promover a “assepsia moral” que o país exige, dando condições da cassação sumária do mandato do acusado.
O relator Renato Casagrande se dizia indignado esta semana quando afirmava:” considero uma posição pré histórica, por parte do Senado, essa história de sessão ser secreta”. Casagrande nutre ainda a esperança de que seus colegas na hora do votar levem em conta a prioridade de preservar a instituição “ reproduzindo no plenário o que aconteceu no Conselho de Ética”. Pessoalmente não acredito nessa possibilidade, tendo como protagonistas da história as figuras que todos conhecemos e que fazem parte de um parlamento equivocado e comprometido com o lado podre da vida pública brasileira.
A coisa cheira tanto a transações tenebrosas que o acusado se diz que vai enfrentar o julgamento “com a mesma tranqüilidade que tem enfrentado a crise desde o começo”. Claro que confia na solidariedade dos iguais.

Absolvição forjada não vai parar “inferno astral”

Agora não imagine o senhor Renan e seus seguidores nesse roteiro de podridão que tudo se encerra com a afrontosa sessão. Vem muito mais por ai e sua possível absolvição deverá trazer mais forças aos brasileiros para sair as ruas e exigir maior rigor nas novas denúncias. O PSOL já protocolou representação por quebra de decoro parlamentar, no Conselho de Ética. Como as primeiras, as novas denúncias são gravíssimas. Já se fala até na criação da “CPI dos Calheiros”, diante de tantas denúncias acumuladas contra Renan Calheiros, seu irmão Deputado Olavo, além de outros familiares envolvidos em ações muito suspeitas.
A imprensa nacional, que teve um relevante papel neste primeiro julgamento, tem ainda munição suficiente para sustentar uma nova guerra pela ética e muita coisa ainda virá a público nos próximos dias. A auditoria no Cartório de Murici (AL) terá um resultado com efeito de “nitroglicerina”, segundo informações seguras.Além de outros tantos que estão na fila aguardando o momento oportuno.
Uma sessão secreta e suspeita poderá até absolver Renan, mas o Brasil que o condena vai prosseguir em busca de justiça e não estará disposto a conviver com um “cadáver insepulto”, forjado nos balcões de negócios do Congresso Nacional.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parlamento (Houaiss):
conjunto das assembléias ou das câmaras legislativas, nos países regidos por uma constituição.

No Brasil, em razão do nível de dignidade, honestidade, integridade e respeito ao dinheiro público, especialmente no governo atual, o atual parlamento vai passar à história como PRALAMENTO!

E o político brasileiro dos mensalões, dos sangue"sungas", do corporativismo, dos dolares nas cuecas, registra seu nome e passa à história como PRALAMENTAR!

Anônimo disse...

Vem cá: alguém duvida que aí pela quinta, sexta feira o youtube vai estar botando imagem dessa reunião pelo ladrão(ladrão, aí, é muito aplicável)? Aos celulares, senadores, aos celulares.