31 de out. de 2007

3º mandato pode ser desvio de foco

Por Chico Bruno

Os repórteres Fernanda Odilla e Ugo Braga, do Correio Braziliense, conseguiram acabar com o marasmo que invade Brasília as sextas-feiras.
A matéria com dois deputados petistas, adeptos da tese da reeleição por três mandatos, entornou o caldo da tranqüilidade das sextas-feiras e deu uma carga de combustão atípica para a festa de aniversário de Lula.
O Distrito Federal às voltas com a crise do Senado, o aprova ou desaprova da CPMF e da DRU, a discussão da Emenda 29, os marcos temporais fixados para a infidelidade partidária, o fim da obrigatoriedade de recolhimento do imposto sindical, o relatório da CPI do Apagão, que pede a cabeça de petistas ilustres, e a regulamentação do direito de greve dos servidores públicos fixado pelo STF, se viu de repente com um palpitante assunto para incrementar o “happy hour” da sexta-feira, como sempre, esvaziada de políticos e lobistas, mas pródiga de servidores públicos.
Os poucos parlamentares que circulavam pelo Congresso reagiram com repúdio ao movimento dos deputados petistas Devanir Ribeiro (SP) e Carlos Wilson (PE), demonstrando irritação com a ação.
O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), por exemplo, foi categórico ao afirmar:
- Isso é casuísmo. Não se pode trazer esse tipo de expectativa. É muito precoce. Não devemos pensar nisso numa democracia madura. São movimentos lúdicos.
O líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), que se preparava para a festa de aniversário de Lula se colocou contra a pretensão dos colegas da base aliada.
- Isso não vai prosperar. Não é o pensamento do presidente da República, eu garanto. Lula será o grande eleitor em 2010, mas não há da parte dele qualquer movimento pelo terceiro mandato consecutivo. Do meu ponto de vista, também sou contra.
O alto tucanato reagiu com irritação à proposta e ameaçou suspender as negociações em torno da aprovação da CPMF, que foram iniciadas, nesta quinta-feira, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
- Ou isso é desmentido, categoricamente, ou está anulada qualquer iniciativa de discutir CPMF", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
O futuro presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), bateu na mesma tecla de Virgílio e foi mais enfático:
- Esse chavismo [referência a reeleição indefinida aprovada na Venezuela], já começa a prejudicar a relação e a convivência de forças políticas que até ontem negociavam de forma equilibrada a CPMF.
Já o grande interessado na proposta, o presidente Lula, condenou a proposta de terceiro mandato para presidente da República. Para ele, não é o momento de debater o assunto.
- Ficar discutindo 2010 agora é um atraso. Acho que essa discussão não cabe. Acho que o Brasil não precisa disso. A alternância de poder é uma coisa extremamente importante para o fortalecimento da economia.
Apesar de se posicionar contra as propostas dos companheiros do partido, não custa nada lembrar, que o presidente Lula sempre que pode toca no assunto, principalmente nas últimas entrevistas exclusivas que concedeu para alguns veículos de comunicação. Em uma, aventou, inclusive, a hipótese do governador de Minas, Aécio Neves, trocar o PSDB pelo PMDB para ser o candidato da base aliada. Um assunto encerrado, por enquanto, com a decisão do STF/TSE.
Talvez, as recentes declarações de Lula tenham feito o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) avaliar a questão por outro prisma.
Ele acredita que a proposta pode vingar, pois os dois deputados fazem parte da copa e cozinha de Lula, deixando transparecer certo jogo de cena do presidente.
- Creio que existe um risco extremamente forte, diz Cristovam.
O senador acha que os petistas podem tentar manter Lula, pois não tem um nome forte para substituí-lo. Cristovam avalia que Lula não seria o condutor da proposta, pois mancharia a sua biografia, mas não deve fazer nada para impedir seus companheiros de fazê-lo.
- Isso não vai partir do presidente Lula. Mas de sua base, diz Buarque.
Como todo gato escaldado tem medo de água fria e o assunto foi levantado de maneira extemporânea, tudo leva a crer que a proposta de re-reeleição faz parte de uma tática para desviar a atenção do relatório da CPI do Apagão Aéreo no Senado, que pede a cabeça, justamente de um dos autores da proposta, o deputado Carlos Wilson, ex-presidente da Infraero.
Quem já esfriou a cabeça deve estar pensando nisso.

2 comentários:

ma gu disse...

Alô, Adriana.

Somos obrigados a repetir aqui César Maia:

É UM FACTÓIDE !

Getulio Jucá disse...

Esse Carlos Wilson é aquele da INFRAERO?
Tá explicado...