11 de out. de 2007

O que é que eles fazem?

To dream, the impossible dreamSonhar o sonho impossível – de Man of La Mancha

Por Ralph J. Hofmann

Segundo consta, por projeções baseadas no crescimento conhecido, ao mesmo tempo em que atingimos a marca de 190 milhões de habitantes também estouramos o nível de um milhão de funcionários públicos federais.
Não vamos falar dos concursados ainda. É perda de tempo. Mas falemos da contratação de CCs.
Ao ouvir as heresias de Lula, alegando que se a economia está crescendo nada mais natural que aumentar os impostos, e contratar mais pessoas para receberem salários do Estado, confirmamos mais uma vez que está faltando ao Grande Timoneiro algum estudo. Não necessariamente o estudo universitário. O mero estudo que absorve um torneiro mecânico que abre uma oficina própria, adquire com o tempo mais equipamentos e dentro de vinte anos é responsável por uma empresa com centenas de operários.
Fatalmente, inercialmente vai se sofisticando. Aprende a ler balancetes, aprende os problemas trabalhistas que deve administrar, aprende a contratar e controlar engenheiros, químicos, economistas e contadores. Tive um amigo que dizia que todo lenhador ou motorista de caminhão no sul do Brasil é como um soldado de Napoleão. Potencialmente tem um bastão de marechal na mochila. E ainda adicionava. “Melhor se no começo não souber ler nem escrever. Com o tempo aprende as duas coisas, mas tem a garra do sujeito sem expectativas que vence todos os obstáculos”.
Lula venceu de forma falhada. Venceu sem trabalho. Foi carregado nas costas, primeiro pelos colegas, depois pelos intelectuais de esquerda. Hoje controla o erário e compra através do paternalismo os votos de que precisa.
Essa grande massa de CCs seria muito fácil de desmistificar. Bastaria a contratação de firmas ilibadas de recursos humanos que examinassem todos esses cargos e criassem uma descrição do cargo, como se faz corriqueiramente em qualquer empresa. Aí saberíamos o que realmente faz esse exército de um milhão de pessoas.
Descritos os cargos entrevistariam as pessoas que ocupam os mesmos. Essas pessoas teriam que dizer o que fazem, onde fazem, que cadeira ocupam ou que veículo dirigem, de que forma se qualificaram para o que dizem fazer. Aqueles que não pudessem responder a contento seriam sumariamente afastados. Calculo que se isso fosse feito criteriosamente o governo eliminaria bem mais do que os salários que essas pessoas levam para casa. Eliminaria custos futuros, responsabilidades por passivos trabalhistas potenciais, desperdício de materiais, cafezinho, desmandos cargos que ocorrem quando uma pessoa não qualificada dá ordens apenas por ter poder para faze-lo. E mais, os que restassem teriam consciência de que ou produzem ou serão afastados. Esse incentivo pelo temor deveria praticamente eliminar as filas em muitos setores administrados por órgãos do governo.
É claro que para fugir às contratações o governo não raro tem terceirizado, como é o caso das ONGs. Mas aí novamente há uma solução oriunda do setor privado. O terceirizador precisa provar que tem capacitação para prover o serviço, e sofre a fiscalização do contratante. No caso dos terceirizadores para o governo sua própria contabilidade deveria ser examinada por auditores independentes, que não fossem da receita nem de qualquer órgão do governo, para indicar a presença de tráfego de influência.
Outra coisa, as empresas têm bancos de currículos. Elaboram um currículo de cada pessoa admitida. Periodicamente estes currículos são atualizados. Quando buscam preencher uma vaga analisam seu banco de currículos. Digamos que três anos antes um funcionário tivesse declarado estar estudando idiomas. Surge uma vaga no setor de comércio internacional. Antes de se procurar alguém fora da empresa é realizada uma busca interna para ver se alguém nesse meio tempo atingiu a qualificação necessária. É aí que, num governo, um aproveitamento de pessoas já concursadas pode ser usado com fins de promoção e melhoria salarial através do ensino adquirido nos anos decorridos após seu concurso. Assim se evita novas admissões por concurso até que todas as pessoas já empregadas pelo governo tenham atingido seu nível de competência. A conseqüência seria diminuir o inchaço de funcionários concursados desnecessários, que certamente existirão neste mundo cada vez mais informatizado.
Gostaríamos de ver isto como condição de uma aprovação, digamos por mais um ano, do CPMF. Assim o governo teria um ano para eliminar todos os ministros como Mantega, ocupantes de cátedras, mas que não sabem administrar sequer a mercearia da esquina, substituindo todos por administradores sem vínculos políticos, que ante pressões políticas saibam que na indústria ou no comércio serão recebidos de volta de braços abertos.
Mas é um sonho impossível. Lula, se lesse este artigo não o entenderia, e os que o cercam, que o entendem não quererão jamais ver um sistema que administre as contas eficazmente. Como é que poderiam sifonar recursos para seus objetivos cavilosos.

4 comentários:

ma gu disse...

Alô, meu caro Ralph.

Não dá para saber se você é um fabulista desconsolado ou se é um inocente esperançoso, dado sua arenga a respeito de um apedeuta. Como acredito mais na primeira hipótese, esta é a melhor fábula que você já escreveu, até aqui.
Novamente, meus parabéns.

Ralph J. Hofmann disse...

Veja bem, magu.
Eu começo citando Don Quixote de La Mancha na versão musical.

To dream, the impossible dream.

O que tem de ser feito é fácil. Basta estudar dois sementres de Introdução à Administração. Fazer é que são elas.

Ralph

Ralph J. Hofmann disse...

Diga-se de passagem que Introdução à Administração não tem pré-requisitos, nem cálculo, nem Geometria Analítica, nem Sociologia nem Cálculo numérico. Apenas exige que se saiba ler e entender o que se lê.

Ralph

ma gu disse...

Alô, Ralph.

Desculpe, mas não resisti aos seus comentários:

Acho que ele gosta mesmo é só da Introdução...

Quanto ao resto, ele tem dois cupinchas: um que sabe ler mas nunca vai aplicar e outra que sabe escrever e fazer planos, cálculos, mas depois vai vender papel velho para fazer dinheiro.