10 de out. de 2007

Os arapongas de Renan

“Renan Calheiros reduziu o Senado a um centro de patifaria e canalhice” (Senador Tasso Jereissati. Presidente do PSDB).

Por Pedro Oliveira - Jornalista e presidente do Instituto Cidadão

Quem conhece o senador Renan Calheiros, sua história e sua prática política, sabe muito bem de sua capacidade para arquitetar as tramas mais ardilosas para atingir seus objetivos quase sempre para o lado do mal. O mais recente episodio sórdido de sua trajetória marginal o consagra no pódio do cinismo e o conduz, sem dúvida, ao merecido patíbulo exigido pela grande maioria da sociedade brasileira.
Mais uma vez impossibilitado de mostrar provas consistentes em sua defesa culpa a imprensa e cinicamente vai à tribuna do Senado e afronta a todos: "Quero repudiar, mais uma vez, uma indignidade que o mau jornalismo me atribuiu de forma tão infame, tão abjeta", afirmou. "Todas as mentiras desta cooperativa de calúnia contra mim até aqui foram derrubadas pela força da verdade. Todas falsas imputações foram desmentidas com documentos que eu apresentei. Todas as acusações torpes foram desmascaradas".
O escabroso fato está ai: narrado em todos os seus detalhes pelo advogado Heli Dourado que confirmou a ação do assessor especial do gabinete de Renan, Francisco Escórcio, cujo objetivo era espionar, filmar e fotografar os passos dos senadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Demóstenes Torres (DEM/GO), ambos adversários do ainda presidente do Senado.
O passado do assessor especial de Renan o condena e não deixa dúvidas de que recebeu ordens do chefe. Chiquinho Escórcio já foi flagrado usando os mesmos métodos criminosos a serviço do Clã dos Sarney contra seus inimigos no Maranhão. Foi feito suplente de senador para cumprir o papel podre e ter trânsito livre nos corredores do Congresso. Teve emprego na Casa Civil, junto com Valdomiro Diniz e José Dirceu (formação de quadrilha?). Com a desgraça dos dois companheiros foi deslocado para o Senado. Como Sarney não queria se expor, foi lotado no gabinete de Renan, de quem passou a ser serviçal, com salário de R$ 9.300,00. Virou “assessor para assuntos de arapongagens”.
Será que Renan acha pouco os processos que responde por quebra de decoro, ou confia tanto em seu poder ameaçador não acreditando na real possibilidade da cassação de seu mandato? Mas parece que coisa não é bem assim. Ainda existem senadores que não temem suas ameaças, suas tramas e seus esquemas imorais. E são estes que o levarão ao desprezível final.
As palavras do senador Tasso Jereissati traduzem o sentimento que hoje domina a maioria da Casa e estarrece o Brasil que aguarda um final que não venha sepultar de vez na lama o Congresso Nacional. "As circunstâncias, do jeito que estão, não dá mais”, disse Tasso. “Vamos pedir celeridade imediata e a indicação de relator. O Senado virou o centro de patifaria e canalhice, não dá mais."
Demóstenes Torres e Marconi Perillo não são os únicos adversários políticos que Renan Calheiros e seu esquema de arapongas estariam espionando. O presidente do Senado coleciona informações contra outros senadores. Um de seus principais alvos é José Agripino Maia (RN), líder do DEM. Renan vasculha os negócios do filho de Agripino, o deputado federal Felipe Maia (DEM-RN).Entre quatro paredes, Renan diz ter "uma bomba" contra Agripino. Afirma que, se necessário, não hesitará em detoná-la. A estratégia do presidente do Senado é a de demonstrar, segundo diz reservadamente, que seus pares "não têm autoridade moral" para afastá-lo. Agripino Maia reagiu: “Ele que faça as investigações que bem entender. Acho bom que essas coisas apareçam. Que venha logo às claras. Que o Renan diga o que tem e contra quem. Mas diga logo e não fique com insinuações vagabundas”.
Agora a coisa vai para o confronto e os senadores precisam mostrar que não temem as ameaças de Renan Calheiros e que não são tão podres quanto ele. Resta saber quantos terão coragem e passado para topar a parada.
As reações estão tomando corpo tanto na oposição como na base aliada do governo, principalmente por parte daqueles que se mostram envergonhados e temem pelo futuro da instituição. O senador Aloísio Mercadante, antes um aliado, já declara “O fator que está desestabilizando as relações políticas no senado é o fator Renan”. Ele garantiu que contribuirá para a cassação do presidente. Outros senadores governistas também já se pronunciam pela perda do cargo de presidente e até do mandato de Renan.
Hoje é o Brasil que clama e cobra do Senado o julgamento rápido e a condenação do seu presidente. A degradante cena de sua primeira e absurda absolvição não será tolerada. A OAB, por seu presidente Cezar Britto, considerou de muita gravidade as últimas denúncias. “É extremamente grave qualquer informação de que o País vive um estado de big brother, de bisbilhotice”.
Esta nas mãos do Senado o seu destino diante da Nação e a busca da reconquista do papel honrado que deveria desempenhar e que aos poucos vem perdendo pela degradação moral de alguns de seus integrantes.

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