11 de out. de 2007

Quanta pantomima

Por Chico Bruno

O Correio Braziliense publica matéria da jornalista Helayne Boaventura que merece uma profunda reflexão sobre o momento político do país. A repórter trata de assunto que está passando ao largo na grande imprensa, a denúncia contra o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão e sócio preferencial do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado.
Na moita o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados levou dois meses, depois do início do processo, para iniciar a investigação contra o peemedebista, acusado de vender uma fábrica de refrigerantes superfaturada à Schincariol em troca de vantagens em órgãos do governo federal.
Primeiro arrumaram um relator, Sandes Junior, se não falha a memória, que havia recebido doação eleitoral da cervejaria. Claro que sob suspeição ele se viu obrigado a renunciar ao cargo logo depois de ouvir o depoimento de Olavo. Essa foi à primeira pantomima que permitiu deixar o caso em Banho-maria.
O novo relator José Carlos Araújo (PR-BA) postergou o caso sob a alegação que estava muito ocupado com os meandros da política baiana. Finalmente, dois meses depois da denúncia, o Conselho ouviu o depoimento do diretor de Relações Institucionais da Schincariol, José Domingos Francischinelli, sem ao menos terem feito uma auditoria na compra e venda da fábrica de tubaína dos Calheiros. O correto seria o Conselho contratar uma empresa especializada para avaliar o negócio, para isso o Conselho possui recursos.
Como isso não foi feito, as declarações de José Domingos são inócuas e o ajudaram a negar qualquer irregularidade no negócio e a necessidade de ter um lobista em Brasília.
Os deputados membros do Conselho não apertaram o depoente, se o quisessem fazer teriam estudado melhor a denúncia, conhecida em Alagoas desde o dia em que o negócio foi fechado. Um assunto que ocupou as mesas dos sofisticados bares e restaurantes por políticos e jornalistas de Maceió.
Disse José Domingos:
- A Schincariol não solicitou nenhum auxílio. O deputado Olavo Calheiros não prestou nenhum auxílio para a Schincariol objetivando a redução de débitos. A Schincariol tem condições de resolver seus problemas sozinha.
Ora bolas, todo o mundo político de Brasília sabe que o diretor da cervejaria saiu pela tangente, pois as coisas funcionam de modo contrário ao narrado por ele. As grandes empresas doam recursos para campanhas eleitorais em troca de favores parlamentares. Até a velhinha de Taubaté sabia disso, quando mais o ilustre relator José Carlos Araújo.
Segundo Helayne, “Francischinelli negou uma a uma as informações contidas na reportagem da revista Veja, que deram origem à representação feita pelo PSol contra o irmão de Renan Calheiros. Garantiu que foi regular a compra da fábrica de refrigerantes Conny, de propriedade da família Calheiros em Murici (AL), pela Schincariol. Segundo ele, Olavo pediu R$ 38 milhões pela empresa, mas o negócio foi fechado por R$ 27 milhões. Foram pagos R$ 10 milhões em dívidas da Conny, especialmente uma contraída com o Banco do Nordeste (BNB) de R$ 7,7 milhões. O diretor de Relações Institucionais garantiu que foi pago o preço de mercado, avaliado pelo departamento de engenharia da empresa.”
Ora bolas novamente. Por que suas excelências, não confrontaram o depoente com informações de outras aquisições feitas pela própria Schincariol, todas com desembolsos menores para patrimônio maiores. Especialistas do ramo de bebidas até hoje não entendem as razões que levaram a Schincariol a comprar a Conny por preço tão elevado.
O diretor da cervejaria gozou com a cara dos deputados ao afirmar que o negócio foi regular, pela forma de pagamento — 72% do pagamento estão sendo feitos em 36 parcelas — e a comunicação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Desde quando forma de pagamento atesta a regularidade de um contrato de compra e venda. A informação ao Cade é uma obrigação que, também, não transforma a operação em regular.
O melhor da matéria é a informação e o recado ao Senado do relator do caso, José Carlos Araújo. Ele avisa que, ainda, fará investigações antes de apresentar o relatório, como uma visita ao prédio da fábrica em Murici. O problema é que Araújo não diz que investigação fará e a ida a fábrica não vai acrescentar nada, a não ser gastar dinheiro da Câmara e postergar mais um pouco o processo.
Aliás, no recado aos colegas senadores, fica clara a vontade do deputado baiano em empurrar com a barriga, que é imensa, o relatório. Ele diz que não terá pressa no trabalho para agilizar o julgamento de Renan Calheiros, que também enfrenta processo no Senado pela mesma denúncia.
- O Senado tem de cuidar do processo em andamento lá e nós vamos cuidar aqui do deputado, fez questão de avisar.
O grande problema é que a sociedade é obrigada a ver tudo isso impassível, pois é impotente. Resignada, aguarda que um belo dia tenha potência para virar o jogo. Enquanto isso vai acompanhando a pantomima que permeia a política do país.

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