7 de nov. de 2007

Auto-suficiência

Por Peter Wilm Rosenfeld

Há já algum tempo, o Presidente da República proclamou que o Brasil se teria tornado auto-suficiente em petróleo. O que se entende por auto-suficiência ? Que não mais haverá necessidade de se comprar o produto de terceiros.
À época, escrevi um artigo demonstrando que essa propalada situação não existia, já que a maior parte do petróleo extraído no Brasil não podia ser refinado aqui, o que obrigava o País a importar quantidades significativas de outro tipo de óleo (leve) e exportar o pesado. Aquele bem mais caro do que o nosso, logo a conta era deficitária.
O saldo negativo entre exportações e importações no corrente ano já excede o valor de Us$ 4 bilhões o que, convenhamos, não é pouco.
A Petrobrás já anunciou que se transformou em uma companhia que trata de energia, e não apenas de petróleo. Isso porque passou a ser uma importante fornecedora de gás natural, quer o nacional como o importado (por enquanto, da Bolívia).
Ao mesmo tempo, o Sr. Da Silva também declarou que o País não mais sofreria qualquer apagão de energia, pois os reservatórios de água para a energia hídrica que produzimos estavam em níveis confortáveis. Em caso de algum problema, poderíamos ativar as usinas hidroelétricas já existentes e aumentar o consumo de gás natural. Além disso, seriam construídas duas novas hidroelétricas no Rio Madeira, com o que o problema estaria resolvido em termos de longo prazo.
Agora, repentinamente, tivemos um apagão, deixando de fornecer gás a algumas indústrias e diminuindo de forma dramática o fornecimento de gás natural veicular às distribuidoras desse combustível.
E as duas hidroelétricas ainda não saíram do papel !
Concomitantemente, o ridículo Sr. Evo Morales encampa as operações da Petrobrás na Bolívia e renegocia, aumentando-o, o preço contratual do gás natural que compramos daquele País.
Certamente por recomendação do aspone top-top Marco Aurélio Garcia, o governo brasileiro aceita tudo com a maior naturalidade. O Sr. Da Silva proclama o que o País todo já sabia, que a Bolívia era soberana para decidir sobre suas riquezas naturais (o Brasil já proclama isso desde meados do século passado, quando foi criada a Petrobrás).
Agora, de repente, a casa está caindo. Às pressas a Petrobrás envia à Bolívia seu Presidente e mais uns tantos outros funcionários, para negociar com a ultra confiável Bolívia novos investimentos da empresa naquele país, além de tentar obter um aumento do volume de gás natural.
As descobertas de gás em Mexilhão, na bacia de Santos, parecem ser gigantescas, mas não se pode esperar que o início da produção ocorra antes de 2012. Administrada pelo PT, com seus “competentes e produtivos” empregados, talvez isso só ocorra em 2015 !
A pergunta que não pode deixar de ser feita é: “onde fica nossa auto-suficiência ?”
Penso que a resposta a essa pergunta é uma só: com o aparelhamento da Petrobrás, a empresa deixou de ser uma empresa brasileira e passou a ser um feudo do PT e dos partidos da chamada base de apoio ao Governo.

A Petrobrás (assim como a ANP e tantas outras empresas ou repartições governamentais) também passaram a ser feudos, com total abandono da meritocracia.
A Petrobrás está fazendo jus ao apelido que lhe deu o saudoso Sr. Roberto Campos, de Petrosauro. Se vivo ainda fosse, o Sr. Roberto Campos certamente já teria inventado apelidos semelhantes a uns tantos órgãos do executivo que também foram tomados de assalto pelo PT e pelos outros da chamada base.
Ah, quase ia esquecendo de mencionar que uma das soluções aventadas por nossas “otoridades” técnicas em energia é a importação de gás natural liquefeito, que seria transformado em gasoso em usinas a serem encomendadas, o que nos permitiria pensar em um abastecimento mais regular dentro de alguns tantos anos.
“Brilhante, meu caro Watson”, como diria Sherlock Holmes.
Para finalizar, o assunto de energia é tão sem importância para o governo do Sr. Da Silva que o cargo de Ministro de Minas e Energia está vago há muitos meses; não há pressa em preenche-lo...

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