Brasil – o que aconteceu?

Por Peter Wilm Rosenfeld

Há já bastante tempo escrevi sobre a corrupção que grassa pelo Brasil, tendo se tornado uma verdadeira praga; deixou de ser epidemia para se tornar uma pandemia !
Volto ao assunto porque quer me parecer que, ao invés de melhorar, o problema está muito mais grave do que jamais foi.
Além disso, também me referirei à liberdade com que ministros, senadores e deputados (esses últimos federais e estaduais), vereadores, etc., abusam dos cofres da viúva para seus prazeres e divertimentos pessoais.
Não há qualquer estado brasileiro em que essas doenças não estejam grassando; dos mais de 5.500 municípios que existem no Brasil, penso que de muito poucos, se é que de algum, possa ser afirmado com segurança que está livre de ambos os males.
Da corrupção não se livra nenhum dos Poderes. Talvez predomine no Poder Executivo, por ser o que realiza mais obras, contrata mais serviços.
Penso, porém, que atualmente é muito difícil existir qualquer obra ou qualquer serviço que não seja super-faturado.

Na cidade em que resido, capital de estado, apurou-se uma fraude vultosa na Assembléia Legislativa na compra de selos de correspondência para uso da própria Assembléia e dos deputados, praticada por um Diretor da Assembléia e que vinha acontecendo há já alguns anos !
O custo da obra para adequar o Rio de Janeiro para a realização dos Jogos Panamericanos superou em muitas vezes o valor orçado, não sendo realizadas várias obras com as quais a cidade se havia comprometido, notadamente a extensão da linha do Metrô até a Barra da Tijuca e a despoluição da Baia da Guanabara.
Simples (e que simples seria!!!!) erro de cálculo ? Ou sub-estimação dos mesmos ? Claro que não. Se fosse só isso, os responsáveis deveriam ter sido sumariamente demitidos e seus diplomas cassados ! É evidente que houve um enorme super-faturamento.
E, é de se perguntar, será que essa corrupção não existia em anos passados ? Claro que existia.
O “mar de lama” do governo Getúlio Vargas, que se suicidou por causa disso em 1954, continha uma substancial parte de corrupção. A construção de Brasília se tornou folclórica (e quase levou o Brasil à lona), sabendo-se que a entrega de muitos materiais era feita com o mesmo caminhão entrando em uma obra várias vezes, sem descarregar esses materiais, e a entrega era certificada como se tivessem sido caminhões distintos (e isso é só um dos exemplos).
É certo que naquela época virtualmente não existia o jornalismo investigativo, tão freqüente como útil nos dias de hoje. Certamente por isso são hoje tornados públicos muito mais fatos do que antes fazendo com que pensemos que a moral hoje é muito inferior à do passado. Ledo engano.
Nem preciso fazer referência aos desmandos de Maluf, Celso Pitta e outros tantos em S.Paulo, pois os casos foram discutidos e divulgados nacionalmente
Hoje em dia a roubalheira é muito maior, talvez porque os corruptos (e seus opostos corruptores) apostem na impunidade, por várias razões, entre elas a real falta de vontade de nossas autoridades de se municiarem adequadamente de provas.
Agora, e daí vem a interrogação apresentada acima: o que aconteceu ?
Terá o povo brasileiro baixado tanto de nível moral ? Certamente isso aconteceu.
Mas também não será porque vendo tudo o que está acontecendo o brasileiro queira pôr em prática a famosa Lei de Gerson, que enuncia que “há de se levar vantagem em tudo, sempre ?”
Realmente, para um cidadão probo é doloroso constatar isso. É triste ver tanta sujeira, tanta falta de vergonha, tanto descaramento e tanta roubalheira.
E isso por parte de gente educada, que tem boa ou excelente remuneração e não precisaria roubar (esse é o verbo adequado) para viver bem.
Quanto ao uso dos cofres públicos para divertimento, a que me referi acima, estão sendo realizados “cursos” e seminários para prefeitos e vereadores, que são simples desculpas para passeios, tanto em território brasileiro como no exterior; assim como estamos vendo, a todo o momento, governadores viajando ao exterior sob os mais diferentes pretextos.
Ultimamente o mais notório foi o do Ministro da Justiça, que viajou a Mônaco para apressar o andamento do processo de extradição do Sr. Salvatore Cacciola. Nem a documentação exigida acompanhou o Ministro !!!
Estamos chegando ao fundo do poço com respeito à moralidade em geral.
Cabe aos sociólogos estudar esse assunto com profundidade e expor as razões disso, antes que o nível de lama chegue a nossos pescoços e nos afoguemos nele.!!