A realidade brasileira não é condizente com o tão propalada aumento do IDH, que está sendo faturado demagogicamente per um governo enganador, mas que o seu ridículo passou a ser um prato cheio para a grande maioria dos chargistas brasileiros.
Roberto Pompeu de Toledo (Veja edição 20037) externa sua visão sobre mais essa conversa para criança ir dormir com fome.
"O Brasil, se o leitor se recorda, é aquele país em que, por ordem cronológica...
Segunda-feira 19: um turista italiano de 29 anos é morto em Ipanema ao tentar evitar que fosse roubado o cordão de ouro de seu pai. Terça 20: os jornais noticiam que uma menina, identificada como "L.", passou quase um mês dividindo a mesma cela de delegacia com mais de vinte homens, no Pará. Quinta 22: onze pessoas são presas, acusadas de pertencer à quadrilha que, apesar de trancafiado numa cadeia tida como "de segurança máxima", o notório Fernandinho Beira-Mar continuava a comandar. Sábado 24: o corpo de uma professora uruguaia, decapitado e com evidências de que sofrera estupro, é encontrado em Imbassaí, no litoral da Bahia. Domingo 25: uma arquibancada do superlotado Estádio da Fonte Nova, em Salvador, desaba, causando sete mortes e dezenas de feridos. Ainda bem que...
Terça 27: um mendigo é queimado na região central de São Paulo. Tem 80% do corpo atingido e é internado em estado desesperador. Ainda na terça 27: a Fundação Getulio Vargas divulga estudo informando que 53% dos brasileiros não contam com saneamento básico nos locais em que moram. Ao ritmo em que avançam as obras no setor, a cobertura só será completada, segundo o estudo, no ano de 2122. Ainda bem que, para contrabalançar projeções tão pessimistas...
Roberto Pompeu de Toledo (Veja edição 20037) externa sua visão sobre mais essa conversa para criança ir dormir com fome.
"O Brasil, se o leitor se recorda, é aquele país em que, por ordem cronológica...
Segunda-feira 19: um turista italiano de 29 anos é morto em Ipanema ao tentar evitar que fosse roubado o cordão de ouro de seu pai. Terça 20: os jornais noticiam que uma menina, identificada como "L.", passou quase um mês dividindo a mesma cela de delegacia com mais de vinte homens, no Pará. Quinta 22: onze pessoas são presas, acusadas de pertencer à quadrilha que, apesar de trancafiado numa cadeia tida como "de segurança máxima", o notório Fernandinho Beira-Mar continuava a comandar. Sábado 24: o corpo de uma professora uruguaia, decapitado e com evidências de que sofrera estupro, é encontrado em Imbassaí, no litoral da Bahia. Domingo 25: uma arquibancada do superlotado Estádio da Fonte Nova, em Salvador, desaba, causando sete mortes e dezenas de feridos. Ainda bem que...
Terça 27: um mendigo é queimado na região central de São Paulo. Tem 80% do corpo atingido e é internado em estado desesperador. Ainda na terça 27: a Fundação Getulio Vargas divulga estudo informando que 53% dos brasileiros não contam com saneamento básico nos locais em que moram. Ao ritmo em que avançam as obras no setor, a cobertura só será completada, segundo o estudo, no ano de 2122. Ainda bem que, para contrabalançar projeções tão pessimistas...
De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado na semana passada, o Brasil avançou para o primeiro dos três grupos em que se dividem os países segundo o índice de desenvolvimento humano (IDH). Deixamos o grupo intermediário, o dos países com "médio desenvolvimento humano", e passamos a integrar, ainda que em septuagésimo e último lugar, o honroso pelotão do "alto desenvolvimento humano". O feito vale ser cantado em versos:
De agora em diante, quando o assunto é ideagá,
regozijemo-nos, irmãos: chegamos lá!
O IDH, criado pelo indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia em 1998, é uma medida que combina riqueza com níveis de escolarização e expectativa de vida. A promoção do Brasil é atribuída por um lado ao crescimento da renda proporcionado pelo programa Bolsa Família e por outro pelo aumento da expectativa de vida, que passou dos 70,8 anos no relatório do ano passado para os 71,7 anos no de 2007. Com isso, atingimos 0,800, a pontuação mínima – numa escala de zero a 1 – para figurar entre os mais desenvolvidos. O Brasil, se o leitor se recorda, é aquele país em que, por ordem cronológica...
Segunda-feira 19: um turista italiano de 29 anos é morto em Ipanema ao tentar evitar que fosse roubado o cordão de ouro de seu pai. Terça 20: os jornais noticiam que uma menina, identificada como "L.", passou quase um mês dividindo a mesma cela de delegacia com mais de vinte homens, no Pará. Quinta 22: onze pessoas são presas, acusadas de pertencer à quadrilha que, apesar de trancafiado numa cadeia tida como "de segurança máxima", o notório Fernandinho Beira-Mar continuava a comandar. Sábado 24: o corpo de uma professora uruguaia, decapitado e com evidências de que sofrera estupro, é encontrado em Imbassaí, no litoral da Bahia. Domingo 25: uma arquibancada do superlotado Estádio da Fonte Nova, em Salvador, desaba, causando sete mortes e dezenas de feridos. Ainda bem que...
Tais probleminhas, um aqui, outro acolá,
que são eles, diante de um alto ideagá?
Domingo 25, "dia internacional pela eliminação da violência contra a mulher": a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal, órgão da ONU) divulga relatório afirmando que três em cada dez mulheres brasileiras já foram vítimas de "violência extrema". Terça 27: um mendigo é queimado na região central de São Paulo. Tem 80% do corpo atingido e é internado em estado desesperador. Mesmo dia: o delegado-geral da polícia do Pará diz que a menina L., aquela trancafiada com os homens na delegacia, tem "alguma debilidade mental". A culpa seria portanto dela. Ainda na terça 27: a Fundação Getulio Vargas divulga estudo informando que 53% dos brasileiros não contam com saneamento básico nos locais em que moram. Ao ritmo em que avançam as obras no setor, a cobertura só será completada, segundo o estudo, no ano de 2122. Ainda bem que, para contrabalançar projeções tão pessimistas...
Aqui, segundo atesta nosso ideagá,
vigora alto padrão de vida desde já.
Imagens fortes são geradas do Brasil para o mundo. A do corpo do italiano morto em Ipanema, estendido, coberto, no asfalto da Avenida Vieira Souto, enquanto a seu lado, sentado no meio-fio, o irmão o velava, a cabeça enterrada entre as mãos, alheio aos carros e às pessoas que passavam. A do Estádio da Fonte Nova dividido: uma parte comemorando a ascensão do time do Bahia à série B do Campeonato Brasileiro, aos pulos e gritos, no gramado, enquanto outra parte, aflita, zonza ou desesperada, se reunia em torno dos mortos e feridos. A da menina L. fotografada de costas, ao lado de um policial. Baixinha e miúda, ela não chega ao ombro do acompanhante. É uma criança. Um cínico poderia concluir:
Se o ideagá tão bem nos trata em sua prancheta,
figure-se como anda o resto do planeta!
O governo da Bahia e o do Pará chegaram a conclusões coincidentes quanto aos desastres que os afligiam. O da Bahia decidiu implodir o estádio em que ocorreu a tragédia do domingo. O do Pará vai demolir a delegacia em que a menor L. esteve presa, trocando sexo por comida com os homenzarrões que lhe faziam companhia. Ainda bem que existe o IDH para lembrar-nos que integramos o pelotão dos países mais afortunados. Senão até poderíamos imaginar um "poemeto da solução final":
Vão pôr abaixo o Fonte Nova na Bahia
e no Pará demolirão a delegacia.
Uma consulta, sem maldade ou intenção vil:
– Será que dava pra demolir o Brasil?
De agora em diante, quando o assunto é ideagá,
regozijemo-nos, irmãos: chegamos lá!
O IDH, criado pelo indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia em 1998, é uma medida que combina riqueza com níveis de escolarização e expectativa de vida. A promoção do Brasil é atribuída por um lado ao crescimento da renda proporcionado pelo programa Bolsa Família e por outro pelo aumento da expectativa de vida, que passou dos 70,8 anos no relatório do ano passado para os 71,7 anos no de 2007. Com isso, atingimos 0,800, a pontuação mínima – numa escala de zero a 1 – para figurar entre os mais desenvolvidos. O Brasil, se o leitor se recorda, é aquele país em que, por ordem cronológica...
Segunda-feira 19: um turista italiano de 29 anos é morto em Ipanema ao tentar evitar que fosse roubado o cordão de ouro de seu pai. Terça 20: os jornais noticiam que uma menina, identificada como "L.", passou quase um mês dividindo a mesma cela de delegacia com mais de vinte homens, no Pará. Quinta 22: onze pessoas são presas, acusadas de pertencer à quadrilha que, apesar de trancafiado numa cadeia tida como "de segurança máxima", o notório Fernandinho Beira-Mar continuava a comandar. Sábado 24: o corpo de uma professora uruguaia, decapitado e com evidências de que sofrera estupro, é encontrado em Imbassaí, no litoral da Bahia. Domingo 25: uma arquibancada do superlotado Estádio da Fonte Nova, em Salvador, desaba, causando sete mortes e dezenas de feridos. Ainda bem que...
Tais probleminhas, um aqui, outro acolá,
que são eles, diante de um alto ideagá?
Domingo 25, "dia internacional pela eliminação da violência contra a mulher": a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal, órgão da ONU) divulga relatório afirmando que três em cada dez mulheres brasileiras já foram vítimas de "violência extrema". Terça 27: um mendigo é queimado na região central de São Paulo. Tem 80% do corpo atingido e é internado em estado desesperador. Mesmo dia: o delegado-geral da polícia do Pará diz que a menina L., aquela trancafiada com os homens na delegacia, tem "alguma debilidade mental". A culpa seria portanto dela. Ainda na terça 27: a Fundação Getulio Vargas divulga estudo informando que 53% dos brasileiros não contam com saneamento básico nos locais em que moram. Ao ritmo em que avançam as obras no setor, a cobertura só será completada, segundo o estudo, no ano de 2122. Ainda bem que, para contrabalançar projeções tão pessimistas...
Aqui, segundo atesta nosso ideagá,
vigora alto padrão de vida desde já.
Imagens fortes são geradas do Brasil para o mundo. A do corpo do italiano morto em Ipanema, estendido, coberto, no asfalto da Avenida Vieira Souto, enquanto a seu lado, sentado no meio-fio, o irmão o velava, a cabeça enterrada entre as mãos, alheio aos carros e às pessoas que passavam. A do Estádio da Fonte Nova dividido: uma parte comemorando a ascensão do time do Bahia à série B do Campeonato Brasileiro, aos pulos e gritos, no gramado, enquanto outra parte, aflita, zonza ou desesperada, se reunia em torno dos mortos e feridos. A da menina L. fotografada de costas, ao lado de um policial. Baixinha e miúda, ela não chega ao ombro do acompanhante. É uma criança. Um cínico poderia concluir:
Se o ideagá tão bem nos trata em sua prancheta,
figure-se como anda o resto do planeta!
O governo da Bahia e o do Pará chegaram a conclusões coincidentes quanto aos desastres que os afligiam. O da Bahia decidiu implodir o estádio em que ocorreu a tragédia do domingo. O do Pará vai demolir a delegacia em que a menor L. esteve presa, trocando sexo por comida com os homenzarrões que lhe faziam companhia. Ainda bem que existe o IDH para lembrar-nos que integramos o pelotão dos países mais afortunados. Senão até poderíamos imaginar um "poemeto da solução final":
Vão pôr abaixo o Fonte Nova na Bahia
e no Pará demolirão a delegacia.
Uma consulta, sem maldade ou intenção vil:
– Será que dava pra demolir o Brasil?
Um comentário:
Caro Giulio:
Acho que só o Congresso Nacional e todas as casas Legislativas(mas com todos lá dentro), já daria pra colocar este imenso país nos trilhos.
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