26 de jan. de 2008

O negócio é privatizar

Vamos imaginar o cidadão comum, aquele que não agüenta mais pagar impostos, sofre com a prestação da casa própria comprada no subúrbio e protesta contra a perda aquisitiva de seu salário. Já tirou os filhos do colégio particular, vendeu o Fusquinha por conta da alta da gasolina e ignora como saldar os débitos com o cartão de crédito e o cheque especial.
De repente, surge diante dele um desses arrogantes cobradores e propõe a solução: a privatização. Por que o indigitado companheiro não privatiza o quintal, inclusive o galinheiro? Como não vai chegar, o remédio será privatizar a cozinha. Sua mulher não vai gostar na hora de fazer café ou preparar o almoço, pois precisará pedir licença aos novos donos e aguardar a hora de ferver a água, mas outra alternativa não há.
Mesmo assim, não adiantará. Deve ele, então, privatizar a sala e o quarto dos filhos. Mesmo sujeito a ver a filha privatizada junto com os móveis, acaba cedendo. Não demora muito e a família será obrigada a se mudar para o quartinho da empregada, mas privatizar é a solução.
Guardadas as proporções, o País vive o mesmo drama. Sob a chancela do sociólogo, e com a adesão do torneiro-mecânico, privatizaram o subsolo, as telecomunicações, os portos, as rodovias, os bancos, os monopólios ligados à soberania nacional e, agora, avançam na agressão ao próprio território nacional.
Essas tentativas de invasão parecem cíclicas, mas de algumas décadas para cá avançam sobre a Amazônia. Fernando Henrique Cardoso autorizou o arrendamento, por quarenta anos, renováveis por mais quarenta, de quaisquer glebas na região, inclusive nas reservas indígenas. Quem pode se habilitar?
Quem quiser, como o Lula confirmou nos últimos quatro anos. Em especial estrangeiros, empenhados em manter a floresta intocada, como um vasto jardim, misto de botânico e zoológico, à disposição de turistas, cientistas, ONGs, multinacionais e grupos que se interessem por adquiri-la.
Como a demonstrar a veracidade dessa agressão, o secretário do Meio Ambiente do Reino Unido, cujo nome se perderá no lixo da História, acaba de fazer coro com antigos governantes dos países ricos. A exemplo do que pregam e já pregaram George W. Bush, Tony Blair, Margaret Thatcher, Al Gore, Mikail Gorbachev, François Mitterrand e Felipe Gonçalez, entre outros, o gringo defendeu esta semana a privatização da Amazônia.
Aqui para nós, depois de tomarem o quintal, irromperão pela cozinha, a sala e os quartos de nossos filhos. E quando formos todos amontoados no quartinho dos fundos, exigirão que nos retiremos. É a privatização.

(*) Foto: Fernando Henrique Cardoso, considerado o grande privatizador
Por Carlos Chagas.

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