3 de fev. de 2008

A cultura da indolência

É irrefutável a tese de que uma pessoa faminta precisa, primeiro, comer o peixe para, depois, aprender a arte de pescar. Sob esse escudo de salvação humanitária as economias mundiais, entre elas a brasileira, tiraram, nos últimos 20 anos, cerca de 2 bilhões de pessoas da pobreza. O esforço merece aplausos até o instante em que os governantes, com o argumento de diminuir as desigualdades, usam o conceito de justiça social como sinônimo de nivelamento material, esquecendo que só encher barriga é um exercício capenga de promoção de cidadania.
O viajante que observar com atenção a paisagem social nordestina será surpreendido com uma efervescência consumista que se espraia pela miríade de cidades e povoados dos nove Estados, com milhares de consumidores das classes D e C acessando gôndolas de supermercados, entupindo lojas, comprando celulares, indo ao cabeleireiro, enfim, enchendo carrinhos de compras. O programa de distribuição de renda do governo Lula movimenta de fato o comércio local.
A surpresa, porém, vai além da performance consumista. É assombrosa a constatação de que, no Nordeste, o descontrolado assistencialismo do Estado paternalista plasma uma deformidade que já começa a ter conseqüências nefastas sobre a tessitura produtiva da região: o comodismo, a preguiça, a mediocridade. A cultura da indolência se expande. A postura parasitária finca raízes na terra fertilizada por um sistema que não oferece alternativas sólidas para a elevação humana. Ao contrário, incentiva o atraso. Hoje, o Bolsa-Família abriga 46 milhões de pessoas, um em cada quatro brasileiros. A geometria da acomodação entorta as relações de trabalho. Empregadas domésticas, por exemplo, rejeitam a carteira assinada, com a qual perderiam o benefício. Quando se dispõem a trabalhar, recebem “por fora” o salário do patrão. Caso tivessem registro, ultrapassariam a renda per capita mínima mensal de R$ 120, teto para não perder o direito ao Bolsa-Família. São comuns os casos em que, no núcleo familiar, o pai, aposentado, provedor dos filhos desempregados, recebe proventos do Funrural, a mãe fica com o benefício do governo, além do ganho extra como doméstica (que esconde), enquanto os filhos passam a ser meros registros para ganhos adicionais.

Ler a matéria de Guadêncio Torquato em O Estado de São Paulo

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Giulio, Artigo verdadeiro. Bom cálamo o Torquato. Nota-se no relato final que o nordestino está aprendendo a mentir e delinqüir. Pedagogia do exemplo? Copiando o perfil de Autoridades?

Anônimo disse...

Caro Giulio, caro Yamacaru. Dizem que é falta de ética citar outros blogs, embora eu não ache, porque o que é bom tem que ser divulgado (e divulgo a Adriana e todos vocês por onde ando). Bem, li no Reinaldo de Azevedo, hoje mesmo, sobre isto, pois no Carnaval ele estava numa praiona destas "naturais": o povo não é bom. Não é na simplicidade que se consegue a bondade, mas no cultivo de qualidades morais, na educação e na aquisição de valores éticos. O exemplo que vem de cima é uma tristeza, assim como as prioridades do Governo nos gastos públicos, culpando quem morre de febre amarala, por exemplo, enchendo o bucho dos banqueiros, fomentando o jogo nas bolsas, devastando nossas matérias-primas e o seu descaso por tudo o que é honestidade, ética, educação, moral, cultura. O seu amor pela família de Lobos atrapalha muito também o progresso do povo.