5 de fev. de 2008

Não quer ver

Diz o ditado que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Faz sentido, mas, refletindo sobre as reações do presidente Lula às notícias sobre a explosão no desmatamento da Amazônia, cheguei a uma conclusão diferente: pior cego é quem, além de não ver, tenta tirar a visão dos outros. E, se esse cego dirige um país, sua atitude assume dimensões criminosas e até catastróficas.
Tal é o caso de Lula ante a recente polêmica sobre o crescimento explosivo na taxa de desmatamento da Amazônia. Em vez de reconhecer a gravidade do problema, o presidente procura minimizá-lo com mais uma de suas analogias infelizes, dizendo que os técnicos “detectaram um tumorzinho e já saíram dizendo que era câncer”. Pior: mesmo que possa haver algum erro nos dados, é inegável que o desmatamento na região é alto e impulsionado pela expansão da cultura da soja e da pecuária. Até os cachorros na rua sabem disso... Mas não o Lula. Assim como não via o mensalão e tantas outras barbaridades, também aqui nosso presidente deseja transmitir à opinião pública sua mórbida cegueira, voluntária e seletiva.
A ministra Marina Silva (grande mulher!) corajosamente deu o nome aos donos dos bois e das colheitadeiras. Peitou governadores e outros figurões e sustentou seus dados e fatos com firmeza exemplar. E o Lulão, em vez de colocar-se ao lado da verdade e da coragem, sai-se com mais bazófias e estultices: “Se for constatado o aumento do desmatamento, o País tem todo o tempo do mundo para revertê-lo”, disse o presidente, criminosamente. Tempo é exatamente o que “não” temos. Enquanto políticos e outros líderes plantarem incertezas e cultivarem falsas esperanças para ampliar seu tempo de gozo do efêmero poder, caminharemos todos para o ponto de não-retorno. Para a situação onde limites críticos terão sido ultrapassados, será tarde demais para tentarmos remediar os danos causados.

Leia a matéria de Aron Belinky no Jornal da Tarde

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