Por Adriana Vandoni
No começo do escândalo do mensalão, quando aquelas denúncias de compra de parlamentares começaram a vir à tona, abismava-me ao ver a que ponto havia chegado o parlamento brasileiro. As declarações recentes do deputado José Eduardo Cardozo, secretário-geral do PT, são claras e inequívocas: “não tenho dúvida de que houve situações de ilegalidade com a destinação de recursos financeiros de forma indevida a aliados políticos”. O que se passava na cabeça daqueles homens que usavam aquela casa como se fosse um prostíbulo, só que no lugar de seus corpos vendiam suas idéias? Porque tanta ganância? Haveria prazer naqueles atos? Tal qual as meretrizes, talvez o negócio fosse dinheiro, apenas isso.
É certo que nos subterrâneos, nos rendez-vous de toda sociedade, convivem de gigolôs e aprendizes a prostitutas.
O que difere uma casa de tolerância do parlamento brasileiro, é que as “moças” da casa de tolerância não hipotecaram seus corpos como representante de um povo, elas vendem uma mercadoria que lhes pertence, enquanto que o ocupante do parlamento vende sua opinião depois de ter sido hipotecada a serviço do povo, ou seja, vende uma mercadoria que não é só dele, que não lhe pertence.
Comecei então a procurar pessoas de bem parlamento brasileiro. Mirava em um e acompanhava o seu desempenho, suas posturas e opiniões. Alguns pareciam se indignar com aquilo tudo, mas a maioria não tem opinião formada de nada, apenas uma conveniência da hora. Um exemplo que me chocou foi do então parlamentar Eduardo Paes, na época do PSDB, opositor e ferrenho orador contra os aqueles atos ilícitos cometidos na república do PT, tornou-se secretário de esportes do Rio de Janeiro e passou a elogiar o governo que tanto combatia antes. Seu exemplo deixou claro que o certo hoje é o errado amanhã, o errado hoje é a certeza da correção de amanhã. Não se está lá para defender os princípios ou ideais, sejam os da situação ou da oposição. Assuntos de relevância pública só são considerados quando o clamor popular os obriga a fazer algo. Se esse clamor cessa, instala-se a pasmaceira, e o trabalho volta a ser a procura pela liberação de suas emendas e de verbas para “as suas bases”. São eles, em sua maioria, os “dinheiristas”, termo que ouvi certa vez de um interlocutor revoltado com alguns desdobramentos políticos.
Sentados à mesa de um restaurante, batendo com a mão, forte a ponto de chacoalhar copos e garrafas, chamando a atenção das mesas vizinhas, dizia-me: “fulano é 'dinheirista', não é oposição nem situação, é 'dinheirista'!, essa turma só pensa em dinheiro e não tem compromisso com ideais.”
Ouvia atenta e com a admiração que nutro pelas pessoas que são capazes de defender suas posições. Ouvia com o respeito que tenho pelos coerentes, seja qual for sua inclinação ideológica. A discordância de idéias é parte da democracia, e almejar ideais de consenso é acreditar em um regime opressor e totalitário. Compreendo e louvo a mudança de opinião, quando isso representa amadurecimento intelectual. Mas alguns ideais são básicos e independem da linha ideológica.
E assim aquela palavra “dinheirista” ficou na minha cabeça. Acreditei piamente nesse meu interlocutor. A veemência com que defendia seus argumentos e com que atacava os tais “dinheiristas” era coerente com o que penso, e imaginava que isso também ocorresse com ele.
O tempo passou e me reservou uma surpresa. Aliás, esse é o lado bom do tempo. Ele cura feridas, dissolve nós, amadurece e principalmente, mostra a verdadeira face de uma pessoa. Pois o tempo me fez compreender que aquele ferrenho interlocutor nada mais era que um dos “dinheirista”. O tempo me explicou que aquele bater na mesa, aquele espumar de raiva ao defender um ideal coletivo não passava de uma crise de rebeldia adolescente de um filho bastardo do “dinheirismo”.
Essa compreensão que o tempo me trouxe, foi de grande representatividade para a minha percepção da política brasileira. Este é um fato que deve ser corriqueiro a muitos e muitos brasileiros que como eu, ainda insistem em acreditar.
Bem-aventurado seja o dia em que os guardiões da ética e da população mais humilde não sejam aqueles para os quais a corrupção significa um bom negócio, mas descrito assim porque ele não fez parte.
9 comentários:
Cara Adriana, Não seria a viagem turística um menosprezo ao Povo, no curso da crise dos cartões, Petrobras? Um ultraje à ética nacional? Não seria melhor pensar em alternativas serenas, prudentes e eficientes, sem o privilégio do STF, para resolver esse problemas? Inicie no tópico um ciclo de perguntas. Como fazer para punir os usuários dos cartões? E as Chefias? Os seus visitantes dariam opiniões. Comentar por comentar é interessante, o seu texto é sempre agradável, mas fazer a repetição da impunidade causa desconforto. É partir do nada para lugar nenhum. Pense nisso. Várias ações sobre os temas noticiados. Notificações de Partidos. Pedido de esclarecimentos à intocável Justiça. Examine. O País precisa sair da crise e através da Lei. Do contrário, vamos escrever assuntos amenos (essa declaração é por si só uma confissão de culpa e deveria levar à extinção do partido), ou esperar a atuação da Justiça italiana.
Adriana,
faço minhas as palavras do anônimo das 9:54 PM e te convido a entrar no blog coturnonoturno, que me foi apresentado por uma comentarista do seu blog, a RÔ-LITORAL.
Lux
Meu ou minha querida anônimo(a) se você é capaz de se enternecer ao visitar a ala de câncer infantil de qualquer hospital desse vale de lágrimas; você ainda faz parte dos que não venderam a alma para o diabo.
Agora, se o objetivo é surfar nas oportunidades e se dar bem e que todo mundo respeite sua plácida existência de maioria silenciosa ou minoria explorada; é outra
história.
A Adriana chutou o pau da barraca, o Diogo Mainardi chamou a famiglia presidencial de corrupta,não basta reclamar direitos, é preciso saber quem botou o cágado no alto da árvore e tirá-lo de lá.
Esperar a justiça italiana é o caminho mais curto para tirar da reta uma obrigação nossa.E pretender que um blog democrático venha como o exercito de Josué matar os reis adversários para que meu camelo não sinta sede é acochambrar demais...
Desculpe a falta de tato, mas não é por falta de dedos
Apesar de estar lendo o coturnonoturno ainda, não tenho mais feito comentários lá, pois fui chamada de petralha, por alguém. Pode? Eu, petralha? Minha leitura de blogs não é masturbação mental, é uma tentativa de ver o que a imprensa alterntiva pode dar como caminho e interpretação alternativos à imprensa amestrada que separa assuntos para que não percebamos a conexão da máfia internacional que nos governa. Essa máfia governa não só o país, no âmbito central, mas pequenas cidades também, onde os mesmos advogados dos corruptos a nível central defendem os politiqueiros corruptos pequenos. Leio e faço pesquisas também na internet, por exemplo entro no Google e coloco: Pitta e Fernando Henrique. Aí descobri que houve um encontro deles na Ilha das Cabras, em Ilhabela, que pertencia ao Gilberto Miranda. Ora,no episódio Renan, o Gilberto Miranda foi decisivo no abafa. Anos se passaram, mas por que Gilberto Miranda continua tão importante, ele que foi escudeiros do Collor etc. etc. e depois romperam etc. etc.? é como se fosse uma tempestade de idéias que muitas vezes não leva a nada, mas, citando Mainardi a respeito do episódio Lula na Itália, estou à espera de Godot. Os Godot de meu canto dominam a imprensa, a Justiça, a polícia, o legislativo, mas as eleições vêm aí e não sou de nenhum partido, sou só uma cidadã que não gostaria de ver mais esses corruptos, ainda mais famílias interira no poder. Se o DNA de um já é prejudicado, imagine o da família real! Vocês podem crer, a candidatura de um desses eu já afundei, com pesquisas de dados concretos, com a ajuda de Deus e de algumas leis que vieram oportunamente.
Quanto à Justiça italiana, tudo o que vier é bem vindo, mas o caso já está no Ministério Público brasileiro, também. Por algum caminho tem que dar, deve haver alguém ou algum grupo de cidadãos disposto a recuperar a nossa dignidade de cidadãos. Se Deus quiser eu, pequeniniha, vou estar junto com eles. Gratuitamente, só por amor e por ideal.
Desculpem, falei como uma matraca. Mas estou com a pulga atrás da orelha de que esta viagem do Lula, levando o Lulinha, o maior expresário do capitalismo de Estado, é para agilizar certas coisinhas da máfia. Vou pesquisar.
Eles vão simular um acidente para que o povo fique consternado e se esqueça das falcatruas. Assim, quando ele voltar são e salvo, cairá nos braços do povo para ser glorificado. Acabei de ler isso, pode?
Alô, Adriana.
Após ler este post e todos os comentários, gostaria de dizer que gostei muito da sua retrospecção. Sim, o tempo é o senhor da razão, e este seu 'causo' demonstra bem isso. A matriz intelectual que permite escrever suave, quase doce, não é para qualquer um entender. Chamar este artigo de assunto ameno é problema de 'restrição interpretativa'. Qual um Mateus Rosé, agradável de beber, quase gelado mas, não deixa de ter uma 'pega' meia seca. Assim, inclino-me para o Marreta, quando diz que você chutou o pau da barraca.
A 'ética nacional', citada acima, não existe. A ética nacional, até onde vejo, é vender seu voto pelo valor de uma bolsa. E os que não o venderam, porque acreditaram ou ainda acreditam em discursos, são apenas inocentes úteis. Pena que isso represente mais de 60% da nação.
Também apanhou bem, pois Eduardo Paes mostrou claramente que sua posição ética o era em função de não estar participando do regabofe.
Se você conversasse com ele hoje, diria: - Desculpe, minha cara, você não entendeu bem aquilo que eu disse.
Finalmente, alguns petralhas tem algum cérebro. Quando um deles tascou petralha na Rô-litoral, já sabia que iria atingí-la e assim se livrar dela. Espero que ela não desista de seus comentários lá, apenas por causa desse golpe inteligente. Pelo visto, ela já estava incomodando.
Não tenho tempo mais mais de um blog. Acho que escolhi o melhor, apesar do Giulio dizer que temos só 26 leitores (hehe).
Obrigada Magu, já mudei de pseudônimo lá. Eu, como uma aposentanda nos meus primeiros dias livres, tenho tempo e fé. Lá tem uma pessoa muito inteligente como você que assina "mago". Achei que era você. Então, vou ler nas entrelinhas se há diferenças de opiniões. A turma lá é um fervo, mas muito radical, isto é, alguns, mas é bom ver a informação. Aqui é outro nível e agradeço à Adriana e sua equipe podermos prezar do seu cuidado e da sua intreligência na informação. Falaram que é monótono, mas não é. A corrupção tem sido monótona. Mas, como Mainardi, estamos à espera de Godot, destrinchando, viajando na maionese, estudando, dando foras...
Alô, Adriana.
Para a Rô-litoral. Não, minha cara, o 'mago' não sou eu. O inteligente deve ter escolhido seu pseudônimo em razão disso. Até curioso você usar 'entrelinhas', porque magos lêem nas 'estrelinhas'.
O meu apelido vem do personagem de desenho animado, Mr. Magoo, míope como uma porta. Como eu tenho muita 'dificuldade' em entender o que leio, daí, por comparação, a alcunha, que uso há muitos anos...
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