15 de fev. de 2008

O que será que será

Por Raphael Curvo - Advogado pela PUC-RJ e pós-graduado pela Cândido Mendes-RJ

Algo me intriga nas leituras que faço, diariamente, dos dados informativos sobre as mais variadas atividades econômicas, culturais, etc. Alguns dados dizem que cresce em ritmo acelerado a ocupação da mão de obra e que isto é reflexo da economia brasileira em expansão. O presidente diz que nunca na história deste País, a força econômica chegou em nível tão alto. A indústria está em forte processo de crescimento e gerou em 2007 um aumento de 2,2% de empregos, menor apenas que o índice de 2004 que atingiu 6,02%. Informam também esses dados, que ocorreu um considerável aumento das nossas exportações com base na alta produtividade.
Justifica-se o entusiasmo do presidente. Entretanto alguns pontos devem ser levados em consideração. O aumento de produtividade não implica em aumento de produção que gera empregos. Em uma fria avaliação, a produção industrial brasileira encontra-se de certa forma em regime de estagnação. Não houve aumento significativo da participação brasileira, hoje de 1%, no bolo das exportações mundiais, fato que daria números de pujança ao setor industrial do Brasil. Os altos valores obtidos pelas exportações estão nas commodities agrícolas e minerais. Mesmo assim tais valores são provenientes da alta dos preços dessas commodities e não no volume exportado.
O crescimento industrial se deu em determinados setores como automóveis por exemplo. Apesar da dinâmica que a economia brasileira está imprimindo, ainda estamos muito aquém daquela necessária para maior estabilidade no atendimento da demanda da força trabalhadora que chega ao mercado todos os anos. A geração de empregos tem acusado reduzido avanço nos últimos tempos. E só se tornou mais impulsionada com a irresponsável abertura indiscriminada de créditos ao consumidor, que se jogou de cabeça no consumo. Como diz o presidente, "pobre também tem o direito de ter carro”. É uma verdade inconteste, desde que a ele seja dada uma boa fonte de renda ou, no mínimo, perspectiva de melhores ganhos. Os salários achatados e com baixo poder de compra está montando um cenário pouco promissor ante o volume das despesas que o consumidor logo terá pela frente. O cobertor vai ficar curto.
A alta arrecadação que tem obtido o governo tem sua base na área de serviços e no aumento da fiscalização associada ao aumento dos impostos que beira os 38%. O crescimento interno está com base na expansão do crédito e não no aumento do emprego e da atividade econômica, o que traz na bagagem maior poder aquisitivo, maior riqueza. Isto só será possível, e não tem outro caminho, com maciços investimentos na educação, em tecnologia e redução da carga tributária para que o setor econômico possa melhor remunerar e investir. Caso contrário, teremos hospitais cheios de doentes sem condições de bom atendimento, uma juventude alienada e detentora de pífio conhecimento, diminuindo a capacidade empreendedora, e os atuais geradores de empregos fechando as portas dos seus estabelecimentos. O momento é de muito perigo e demanda atenção em dobro. Impulsionar a economia via aumento de prazo para os créditos pode desandar a estabilidade econômica até agora surradamente conseguida.
Acredito que não há alternativa ao governo senão aquela de reduzir o apetite na arrecadação e cuidar com mais afinco das tarefas que dizem respeito a realizações como melhoria em toda a infra-estrutura, especificamente, nas estradas e portos. A nossa economia não pode mais ficar a mercê de poucas empresas tais como Petrobrás e Bancos, por exemplo. Os altos volumes de recursos que aportaram no Brasil nos últimos anos sempre foram compostos de valores para aquisição de grandes empresas. É o caso da MMX de Eike Baptista. Não adianta entrar dinheiro se continuam a cair os dentes da boca. O que será que passa pela cabeça do governo. O que será que será.

Um comentário:

Cantinho do Joe disse...

Tenho comentado com amigos.A bolha brasileira também vai estourar e não vai demorar muito.