20 de fev. de 2008

A recusa em perceber o mal

Por Ralph J. Hofmann

Talvez nossa resistência a examinar cientificamente o fenômeno que representa o “mal” em todas as suas formas represente o medo do que poderá ser o resultado.
(Robert W. Walker – Blind Instinct)

Não quero me arvorar em intelectual da pesada. Esclareço que as palavras acima não foram tiradas de algum tratado solene confrontando o bem e o mal. São parte de um romance de suspense psicológico, best-seller de uns seis ou sete anos atrás.
Contudo tem tudo a ver coma situação do país hoje no que se refere à moral e à ética.
Nós, as pessoas que sempre nos perfilamos em oposição às esquerdas, tivemos de enfrentar o fato de que em algum momento os militares que apoiávamos usaram de atalhos que não nos agradavam. Não conseguimos hoje negar as evidências quanto ao governo Geisel eliminar completamente uma facção. Não discutimos ha anos como foi a morte de Wladimir Herzog. Apenas contrapomos que também houve mortes infames executadas pela outra parte, e, não raramente contra seus próprios correligionários/. Uma pequena suspeita de não-ortodoxia terá custado a vida de muitos jovens que militavam na subversão.
Fatos como estes deveriam estar no conta-corrente das acusações, dos pedidos de extradição por outros países. Estão mexendo com feridas cobertas por acordos destinados a trazer o país à democracia plena.
E a democracia veio. Há mais de vinte anos. E os acossados viraram governo, E este governo assassina, acoberta assassinos e ladrões, compra influência, corrompe, fomenta a violência, rouba e destrói.
E o faz com o tradicional culto à personalidade já tão nosso conhecido. Nosso Ceaucescu ou Hoxha é mais benigno. Tem uma cara e barriguinha de urso Koala. Aquela língua presa de menino de três anos. Uma gracinha.
O que me preocupa hoje são as pessoas que se recusam a analisar o que acontece no país. Apoiaram por vinte e dois anos um ideal vinculado ao PT. Nas palavras que ouvi numa entrevista do Ziraldo: “Este pessoal entende do riscado. Vamos ter um governo honesto e ético”.
E o Ziraldo, o Paulo Betti Chico Buarque e outros continuam a dizer tal coisa. Ou seja, recusam-se a avaliar cientificamente o mal que nos cerca. E há muitos destes. Um a um vão admitindo desvios. Se avaliarem o que se passa terão de admitir que antes de tudo querem ver seus amigos no poder. Mesmo que sejam arrancados nacos enormes da democracia.
Recentemente escrevi um artigo criticando o General Felix. Recebi correspondência me criticando por estar atacando a um general da reserva, homem que teria percorrido respeitávelmente todos os passos de uma carreira honrada. Quem me escrevia não era um apoiador d governo atual. Apenas considerava general sinônimo de impoluto. E não é verdade. As evidências da leviandade do general estavam justamente nas palavras que ele próprio dissera tentando blindar o presidente. O “mal” se apropriara do general, como de tantos outros.

Nenhum comentário: