1 de mar. de 2008

Inovar, inovar

Por Ralph J. Hofmann

Ha pouco estava trocando idéias com um amigo sobre os problemas de controle aéreo no Brasil. Culpa de pilotos, culpa do controle aéreo, culpa do equipamento, treinamento, etc.
O assunto trouxe à tona a diferença entre curtir aquele Volkswagen 1959 em estado de novo e curtir um velho torno Romi de 1966 mantendo-o em operação.
Não tenho absoluta certeza, mas creio que os equipamentos de infra-estrutura ainda hoje operando no controle do espaço aéreo brasileiro foram negociados com a França ainda no tempo em que Delfim Neto era Ministro. Tenho quase certeza de que na ocasião o mesmo finalizou uma negociação de "buyers credits" que iniciara como Embaixador na França.
Infelizmente no Brasil uma vez instalada uma tecnologia não se faz previsão de "upgrade” e troca de equipamento obsolescente, aliás, uma atitude até comum a governos. Após 9/11 os americanos descobriram que os sistemas de informática da FBI e da CIA eram caquéticos. Apenas a NSA tinha sistemas de ponta.
Ha alguns anos, dando consultoria de Comércio Exterior a uma fábrica de parafusos descobri uma "bolt machine" de vinte e cinco anos, alemã, que me foi apresentada com orgulho. Quando comecei a verificar ela tinha um tempo de troca de ferramentas altíssimo, por sua idade exigia um dispêndio alto em manutenção e sua produtividade não era lá essas coisas. Sugeri comprarem uma máquina nova em Taiwan e passarem a máquina velha, cortada em pedacinhos para uma fundição passar pelo forno cubilot derretendo a máquina para não criar pequenos concorrentes. A máquina de Taiwan sofreria uma depreciação de cinco anos e operaria nesses cinco anos com manutenção mínima. Sua amortização custaria menos que os custos que hoje pesavam sobre a máquina velha, e sua produtividade seria altíssima além de oferecer troca rápida de ferramentas. Após cinco anos esta máquina seria também sucateada e daria lugar a uma nova geração de máquinas.
Nem o fabricante aceitou minha sugestão, nem a ANAC e sua predecessora DAC aceitariam esta atitude sobre seus equipamentos. Quando um equipamento é adquirido parecem achar que não precisam prever o esgotamento de sua utilidade. É face antiquada do Brasil.
Tenho certeza que no seio da FAB isto não é novidade, e pior, é motivo de revolta. O problema é que um subalterno só pode ir até um certo ponto na defesa de seus objetivos. Se for excessivamente veemente em defender suas idéias já estará sendo insubmisso (aliás isto na década de 30 aconteceu com o Gal. Billy Mitchel que foi à corte marcial por criticar a falta de inovação da USAAF ante os avanços de outras nações). E no Brasil cada ano é um ano completamente novo em termos de obter recursos ante a nossa arrecadação centralizada e nosso contingenciamento de orçamentos.
Ninguém parece aceitar que administração é isto mesmo. Constante inovação e reação à alteração dos parâmetros de demanda de mercado e alterações no ambiente. E isto se estende às estruturas do serviço público também.

Um comentário:

ma gu disse...

Alô, Ralph.

Seu post se aplica bem ao partido no poder, estribado em idéias formuladas na primeira metade do século 19, e que, já postas em prática, levou seus povos à pobreza e miséria. Fica provado que usa antolhos. Isso permite que só olhem para a frente. Como eu acho que inovação se encontra no entorno, ele não consegue ver esse conceito. Para o partido, inovar é um verbo desconhecido...