1 de mar. de 2008

Não é bem assim

Por Raphael Curvo - Advogado pela PUC-RJ e pós graduado pela Cândido Mendes-RJ

A história é parecida com aquele comercial de televisão que foca a questão da qualidade do material de construção. “Veja bem” diz o pedreiro. Esse veja bem é fatal quando se espera resultados positivos e qualidade de serviços. Os conflitos de informações e a falta de crença nelas, é um dos piores sustentáculos às ações de governos e sua credibilidade. Há muito, o Brasil vem sendo administrado com sérios desencontros entre o que se fala e o que se realiza. É como se fosse maravilhosas partituras de uma sinfonia sendo executadas por bizarra orquestra. Assim entendo o que de real está acontecendo.
O que preocupa em tudo isso, é que induz a população a crer que somos parte do mundo desenvolvido. Afinal, “nunca se comprou tanto automóvel” como agora. Propagam a idéia de que isso é forte sinal de economia desenvolvida, escondendo a momentânea situação consumista, estimulada pelo crédito exagerado. A grande massa da população, em razão da sua falta de preparo cultural e de bases consistentes na formação educacional (apenas 3% tem curso superior), não pode ter o alcance ao entendimento, com raras exceções, de que para ser parte do mundo desenvolvido, é básico ter um ensino de qualidade. Este, forte impulsionador de conhecimentos e desenvolvimento tecnológico como apoio à um parque industrial sólido e produtivo para gerar melhores empregos e salários. Básico também é, ter um sistema de saúde e de previdência que realmente ampare o trabalhador. Isto tudo associado a uma boa qualidade na infra-estrutura que possa oferecer melhor aproveitamento das riquezas brasileiras e reduzir custos empresariais e no bolso do contribuinte.
É muita perigosa a propaganda, entre outras, que faz o governo brasileiro a respeito do momento econômico mundial. Os riscos são imensos e a economia brasileira não está fora de alcance. Eles virão pelo comércio e não pela via financeira. Uma redução nos índices das relações comerciais no cenário mundial vai, com toda certeza, acertar em cheio a nossa economia. Ainda não temos um parque produtivo industrial com capacidade de produzir bens acabados e muito menos ainda, forte mercado para tais bens. O mercado interno está no limite. Estamos sendo engolidos na seara do mercado internacional, hora a hora, pelos chineses, indianos e outros do continente asiático. Mesmo dentro do mercado de nosso maior parceiro comercial, os Estados Unidos, a nossa fatia vem caindo todos os anos, motivada, principalmente, pela exdrúxula política do descolamento da maior economia do planeta. Os americanos gastam em consumo anual três vezes o PIB do Brasil, ou seja, cerca de 9 trilhões de dólares. Isto exige produção e o Brasil não pode ficar como mero fornecedor de matérias primas, 65% de sua arrecadação exportadora, para os produtores. São estes que, ao final da escala industrial, enchem os cofres de verdade.
Essa história de que temos mais dinheiro que nossa dívida, é jogo de cena que tem objetivos puramente eleitorais. Transmite a idéia de que está sobrando dinheiro. É como se o leitor guardasse no colchão todo o seu ganho mas sua casa está para cair na sua cabeça, demoronando paredes, telhados esburacados, sem luz e água e com as roupas em petição de miséria. De que vale então guardar o dinheiro? No caso do Brasil, saúde, educação e infra-estrutura, entre outros, são os equivalentes a esta casa. Tudo funciona mal. Quantos brasileiros, por exemplo, perderam a vida em estradas e hospitais pela falta de aplicação de recursos, retidos para poder fazer o discurso de que temos dinheiro em caixa. O caixa “reservas internacionais” foi realizado, não por vontade política, mas por contingência do mercado que obrigou a compra de dólares para deter a valorização do real, prejudicial às nossas exportações, às empresas exportadoras. Essas compras deixaram um rombo de 47 bilhões no Banco Central. Enfim, o que se diz em discursos do dia a dia, não se concretiza na prática a não ser a doação de dinheiro, via programas sócio-eleitorais. Então, o dito, não é bem assim.

4 comentários:

ma gu disse...

Alô, Adriana.

Aproveitando a deixa do Raphael, que fez uma análise perfunctória da situação, veja bem, o governo e as instituições de crédito, na ganância de estabelecer um patamar irreal, está, isto sim, conduzindo o país para a mesma situação que levou os USA para a crise atual.
Comprar um automóvel novo, para pagar em 60 ou 80 meses, com os juros cobrados 'neztepais', é dar um tiro no pé. Vão ficar sem o carro e sem o dinheiro, assim como os americanos (e vários brasileiros) ficaram sem seu dinheiro e suas casas.
Só poderia ser política petralha...

Anônimo disse...

E mais, Magu, num país onde o ter (carro) é muito mais importante que ser (educação de boa qualidade), destrói qualquer possibilidade de progresso futuro.

Ralph J. Hofmann disse...

Raphael

Só um detalhe. Comprar dólares não deixa um rombo. Apenas substitui dólares por reais no Bco. Central. O problema está no fato de que o dólar, de qualquer maneira está caindo, e não são 40 bilhões que vão segurar seu valor em relação a outras moedas. A solução é importar equipamentos para produção de bens acabados comm estes dólares.

Anônimo disse...

Assim como o Curvo também não vou fazer curva,vivemos num país do "faz de conta".
O Brasil fictício do Lula gasta milhões com publicidade tentando enganar a todos.O governo dirige a nação a partir das empresas de publicidade.Até a cachaça do Lula é produto de publicidade, ele bebe e ainda faz o tipo.