Toma lá dá cá

Lula cobra dívida de maus pagadores
Por Villas-Bôas Corrêa no JB

A irritada e crescente impaciência, subindo o tom a cada novo pito, com que o presidente Lula cobra dos aliados - que receberam adiantado o pagamento no rateio de cargos, desde o obeso ministério à invasão das autarquias e onde quer que se descubra uma vaga na máquina estatal - a dívida de honra da aprovação pelo Congresso dos projetos de interesse vital para o governo é evidente.

Não há dúvida de que o presidente tem lá a sua razão. Mas o embaraço que enrola o governo no cipoal de cobranças, pedido de desculpa seguida da reincidência, exalando o odor de uma crise potencial no esquema de apoio ao governo, mergulha as raízes na desordem partidária, na sucessão de erros cometidos pelas lideranças oficiais e no baixo nível da representação parlamentar, uma das piores desde a redemocratização de 45, com a queda do Estado Novo de Getúlio Vargas e noves fora os quase 22 anos da ditadura militar, quando a atividade política e o exercício do mandato parlamentar baixaram ao porão da farsa ou da comédia do faz-de-conta.
Agora, não. A desmoralização do Legislativo é da responsabilidade compartilhada do governo e dele próprio. E a crônica da prometida e sempre adiada reforma política é a confissão pública, com as pancadas surdas do falso arrependimento de cada senador e deputado federal, titulares e suplentes, de que todos sentem que como está não pode continuar. Mas, e a coragem, o desprendimento para cortar na carne as fatias das mordomias, das vantagens, da verba indenizatória e demais trambiques que adornam o mandato parlamentar como um dos melhores empregos do mundo?