14 de mai. de 2008

De tudo um pouco

Para Peter Wilm Rosenfeld, as últimas semanas a política brasileira produziu tantos temas, que ele resolveu tratar de um pouco de cada, “antes que percam a atualidade”. No texto “Vários” (em leia mais) Peter comenta o dossiê da Casa Civil contra FHC, a lei que regulamenta a propaganda política e a justiça que permite que Lula use programas de governo, como o PAC, para promoção e também sobre alguns indicadores econômicos.

Vários
Por Peter Wilm Rosenfeld

DOSSIÊ – São indiscutíveis os fatos de que “alguém” da Casa Civil da Presidência da República mandou preparar um dossiê listando as despesas feitas pelo ex-presidente da República e sua mulher usando o cartão corporativo do Governo (nota: o uso da expressão “mulher” não é, de maneira alguma, pejorativo. Quando do casamento, tanto o Juiz de Paz, no civil, como o religioso que oficia, declaram que o casal passou a ser marido e mulher. Nenhum dos dois usa a expressão homem e mulher, ou esposo e esposa ou qualquer outra. É nesse contexto que uso o termo). Sem embargo, a Ministra-Chefe da Casa Civil insiste em manter sua negativa inicial, de que se tratava de um simples “banco de dados”. Ora, foi a partir de um banco de dados que se preparou o dossiê, que acabou chegando por correio eletrônico no computador de um dos assessores do Senador Álvaro Dias. Agora, então, o Governo está tentando tapar a peneira mudando o foco do problema para descobrir “quem” efetuou esse envio e, uma vez descoberto esse “quem”, saber porquê o fez.
A mentira inicial, porém, continua. Foi preparado um dossiê sim, e sua base foi um, ou “o”, banco de dados existente na Casa Civil.
Esse fato, por si só, poderia ser a justificativa da desastrada pergunta feita pelo Senador Agripino Maia à Ministra-Chefe da Casa Civil a respeito das “mentiras” da Ministra Dilma Rousseff no período em que esteve presa sob o codinome Estela. Se o Senador supôs que invocando o passado da Ministra tinha uma boa desculpa, enganou-se redondamente. A resposta da Ministra foi perfeita, dadas as circunstâncias. Mas que tem mentido sobre o assunto “banco de dados/dossiê” é verdade.

PROPAGANDA POLÍTICA – Todos sabemos que ainda não é permitido fazer propaganda eleitoral. Podemos achar essa disposição legal ridícula, mas ela existe e, em existindo, tem que ser respeitada. Estamos assistindo à maior autoridade do Poder Executivo, o Sr. da Silva, transgredindo essa lei à toda a hora, nos discursos que faz em reuniões fechadas ou em comícios abertos. Ainda na semana passada no R. G do Norte se não me falha a memória, bradou raivosamente (como tem sido seu habitual tom de voz) que “podem ter certeza de que ganharemos essas eleições”. Ora, se isso não é propaganda política sem qualquer tentativa de disfarce, não sei mais o que é propaganda. E o problema se torna muito sério quando o infrator é o primeiro mandatário. Como querer que um candidato a Prefeito ou a Vereador de qualquer cidade localizada em um longínquo interior se atenha à lei ? Jamais, principalmente se o exemplo vem da mais alta instância do País. Tão ou mais notável esse fato como o de o Sr. da Silva não ter sido pelo menos admoestado por qualquer autoridade do Poder Judiciário (que, por definição, tem que ser isento de influências político-partidárias).

PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO – Esse programa me traz à memória o programa tapa-buracos com que o atual Governo tentou enganar a população. Apesar de todos os alertas de que aquele programa representaria dinheiro jogado fora, foram desperdiçados alguns bilhões de reais tentando enganar a população. Aparentemente ninguém no Governo se deu conta de que existiam milhares, se não milhões, de fiscais daquele programa, prontos para apontarem, com provas, a inutilidade daquele trabalho: os usuários das estradas, tanto os profissionais quanto os que as usavam apenas a passeio. E todos, sem exceção, alertaram sobre o desperdício. Não obstante, as “otoridades” técnicas e políticas, possivelmente de olho em algo mais (R$), foram adiante com o programa com o resultado conhecido de todos.
O PAC (que, inclusive, inclui estradas que constavam do “tapa-buracos”), vai em idêntico rumo e, conseqüentemente, chegará ao mesmo destino. Nem a supostamente competente “gerentona” Ministra Rousseff conseguirá mudar essa situação. Diga-se de passagem que muitas de suas assertivas sobre o PAC e de seu andamento atual não correspondem à realidade. Será que mesmo em nosso atual sistema democrático é necessário mentir para enganar alguém ? E valerá a pena ? Duvido.

ALGUNS INDICADORES DA SITUAÇÃO ATUAL – Publicados no jornal Zero Hora de Porto Alegre (RS) no último domingo, cito alguns números que preocupam:
Saldo de nossas contas externas – Que vinha sistematicamente apresentando superávits, está negativo em pouco mais do que US$ 10,8 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2008.
Dívida interna – Alcançou o inimaginável montante de R$ 1,36 trilhão (R$ 1.360.000.000.000,00 !), que corresponde à praticamente metade do PIB do País!
Taxa de juros – Uma das mais elevadas do mundo, tendo sido recentemente elevadas para 11,75%.
Inflação – Subiu para 5,04% nos últimos doze meses.
Petróleo – Quando alardeado ao som de trompetes e clarins que o Brasil havia conquistado a auto-suficiência de petróleo, escrevi que se tratava de u’a mentira, pois continuaríamos importando um tipo de petróleo mais caro e exportando um mais barato, com saldo negativo para nós. A situação agora mudou: estamos importando mais petróleo (quantidade) do que estamos exportando. Logo, o saldo negativo aumentou. Como se sabe, toda e qualquer mentira tem pernas curtas...
Para terminar, uma boa notícia: o Sr. da Silva informou ao distinto público que não mais diz “menas” tendo, em troca, aprendido a dizer “en passant”; ainda, que ainda não sabe bem o que é “investment grade”....A sugestão é que deixe de usar expressões chulas, de baixo calão (como o “sacanagem” pronunciado ao condenar o resto do mundo por combater nossa política de biocombustivel.)

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