Lula está certo

Por Adriana Vandoni

"Construímos um país errado, onde não se respeita direitos e deveres"

Quer saber de uma coisa? Lula está certo. Pra que servem esses Tribunais de Contas, que só atrasam o desenvolvimento do país! Segundo ele, o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público são obstáculos à realização de obras no Brasil. Segundo Lula há a necessidade de mudança na lei das licitações.

"É preciso mudar. Não pode continuar do jeito que é porque, aqui no Brasil, se parte do pressuposto que todo mundo é ladrão”. Também acho. E acho mais, pra que servem também esses legislativos e judiciários, já que se um não legisla, o outro não possui leis que permitam punir os criminosos? Legislar? Como, se só se criam ou mudam leis sob o acordo e interesse do poder executivo? Seria mais fácil e barato dispensar esse poder. Judiciário? Pra quê? Digam-me? Já que a justiça não tem leis que permitam prender quem possui recursos para pagar bons advogados, que com recursos intermináveis protelam quaisquer punições, até que ocorra a prescrição do crime ou morte do criminoso endinheirado. Nossas leis foram criadas para proteger suspeitos inocentes, mas seus autores se esqueceram de evitar as brechas que impedem a punição dos criminosos verdadeiros endinheirados. Então, se não há leis para punir, pra que a existência deste poder? Pra prender bandidos comuns bastariam alguns delegados com autorizações especiais dos executivos. Simples!!
Alguns dizem que somos o país da piada pronta, onde o agiota cobra mais barato que o banqueiro, onde o contrabandista dá mais garantias e assistência de seus produtos que o comércio formal, onde o crime pode ser cometido, desde que de acordo com as nossas regras, que alguns até chamam de Leis, mas que em uma nação de verdade teria o sentido como o descrito pelo dicionário Houaiss, como sendo a “regra escrita de alcance geral, emanada pelo poder legislativo do Estado e promulgada pelo presidente da República”. Mas o próprio dicionário permite um outro sentido, por metonímia, o de que pode significar o “predomínio da vontade de alguém sobre a de outrem; ascendência de uma pessoa sobre as demais”. Creio ser esta a melhor definição para as leis que nos regem. O país inova, e, desfaz-se da doutrina de tripartição dos poderes, já que o executivo além de executar e legislar, não permite a punição, e pior ainda, defende os comprovadamente criminosos e investe contra quem não reza da sua cartilha.
Lula está certo. Na sua rusticidade ele apenas verbaliza o que está à frente de todos, inclusive dele próprio, que apenas se aproveita da situação. Construímos um país errado, onde não se respeita direitos e deveres. Nada mais normal que nos adeqüemos a isso, e devemos, portanto, mudar não só a Lei das licitações, como propôs Lula, mas acabar com o Legislativo e Judiciário, e darmos poder absoluto ao executivo, exercido pelo povo e para o povo, por um representante deste, desde que orientado por movimentos sociais, das minorias, por ONGs, inclusive as financiadas por estrangeiros “bem intencionados”, além dos sindicatos, é claro. Este representante poderia, além de administrar, criar leis e punir quem estivesse contra as regras criadas pelos “legitimamente eleitos pelo povo”. Seria o ápice da democracia, a verdadeira democracia brasileira, legitimamente forjada no nosso glorioso Brasil.