31 de mar. de 2007

O país da peta!

Por Adriana Vandoni

Dois assuntos movimentaram os últimos dias e têm tudo a ver com o dia da mentira. Primeiro foi a declaração da Ministra Matilde Ribeiro. Há de se fazer aqui uma observação: ministra de um ministério tão insignificante “em ações” quanto ao da Pesca e ao das Mulheres. Ministérios inúteis que se não fossem por uma ou outra asneira cometida pelos seus guias, passariam pela história com a relevância que merecem. Nenhuma.
Não me causou espanto a estúpida frase da tal Matilde, a não ser pelo fato de acreditar até então, ser esta uma prerrogativa do presidente Lula. O que me causou espanto foi a reação popular.
Ora, não sejamos cínicos. Vivemos em um país de mentiras, de piadas. Somos regidos por uma Constituição que no lugar de fazer justiça, legitima injustiças e preconceitos, uma Constituição cuja interpretação discrimina. Vivemos em um país onde as políticas públicas são formuladas para consolidar o racismo, o preconceito e a exclusão, quer seja de raça, de gênero ou social. Ah este Brasil das cotas infrutíferas! Qual o resultado da cota obrigatória de mulheres em partidos políticos? Nenhum. Qual será o resultado das cotas obrigatórias para afro descendentes nas universidades? Nenhum. E assim por diante. O uso de reserva de cotas pode e deve ser adotado, desde que sejam políticas temporárias e assessórias de políticas estruturais. Da forma como o Brasil tem adotado as reservas de cotas, servirão apenas para consolidar diferenças entre gêneros, raças e níveis sociais. Sem medidas estruturais, serão apenas peças de marketing eleitoral. O mesmo acontece com a interpretação das Leis brasileiras que, não raro, presume inocente o rico e condena o pobre mesmo antes deste ser julgado.
Mas a culpa não é apenas da Justiça ou do Governo, a culpa é acima de tudo, da permissividade da população brasileira. Somos tolerantes em demasia.
A Matilde disse que achará normal se um negro insurgir contra um branco. Mas o preconceito brasileiro, caríssima Matilde, não é quanto à raça, é pior ainda, vivemos uma declarada discriminação econômica. Daí vem o absurdo de enaltecer bem sucedidos golpistas e, como cúmplices, os permissivos brasileiros os aceitam até como autoridades.
Precisamos de uma dose a mais de intolerância e isso tem a ver com o segundo caso da semana que me chamou a atenção, o Rabino Henry Sobel, preso nos Estados Unidos por roubar uma gravata e internado com perturbações psíquicas. Respeito a história e os serviços prestados pelo Rabino. Tenho consciência da existência de perturbações psíquicas e não descarto a hipótese deste ser o problema dele, mas tanto ele quanto um deputado corrupto, ou outro delinqüente qualquer, devem ser tratados como pessoas que transgrediram normas, do contrário, roubemos e nos declaremos com “desequilíbrio psíquico”.
Ao escrever isso em meu blog, recebi dezenas de e-mails defendendo o rabino. Isso me assustou mais do que ver a foto dele fichado pela polícia americana, pude perceber aí toda a tolerância do brasileiro. O crime deve ser tratado como tal, independente das razões que o levaram a cometer. Uma mulher pega roubando um litro de leite para alimentar seu filho está cometendo um erro grave, tão grave quanto os cometidos por qualquer delinqüente, quer seja deputado ou traficante. Seus motivos podem ser legítimos e nobres, mas o erro foi cometido e, convenhamos, o dono do mercado roubado é um trabalhador que não pode ser responsabilizado pelo desgoverno brasileiro que faz com que uma mãe não possa alimentar seu filho dignamente.
Que todos tenham o direito de se defender, mas não devemos balizar nosso grau de tolerância apenas pela classe econômica. O fechar dos olhos aos pequenos desvios nos faz, a cada dia, complacentes com todas as formas de delitos.
Um “roubinho” aqui, um desviozinho ali. Um roubo aqui, um grande desvio ali, pra tudo se acabar, e se dar um jeitinho, na quarta-feira de cinzas. É o que nos restará!
Bom primeiro de abril a todos!

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