Por Adriana Vandoni
João estava feliz da vida, ia para Brasília fechar um grande negócio. Foram meses de conversas, acordos e enfim, o negócio seria fechado naquele dia. Preparou sua bagagem. Apenas uma muda de roupa, afinal, nunca se sabe e, apesar de ter em seus planos voltar no mesmo dia, o inesperado poderia acontecer.
- Mas você vai levar só isso, João? Perguntou Clara, sua esposa.
- Oras, já estou levando muito. Não pretendo dormir por lá. Chego, vou para a reunião e volto no vôo da noite.
- Mas João, você não sabe do apagão aéreo?
- Sei, mas não faço escala alguma. É vapt-vupt.
E lá foi o João feliz da vida para fechar seu grande negócio. Sem atraso decolou de Cuiabá rumo a Brasília. Em menos de duas horas já sobrevoavam a capital brasileira da sacanagem. Tudo parecia dentro dos conformes até que o comandante avisou:
- Senhores passageiros, não podemos pousar no aeroporto de Brasília. Neste momento os controladores de vôo acabaram de entrar em greve. Mas não se preocupem, fiquem tranqüilos, temos combustível para mais uma hora e meia de vôo.
- Tranqüilo? Este homem está dizendo para eu ficar tranqüilo? E se acabar o combustível?
João estava entrando em pânico, mas se conteve quando uma passageira começou a gritar:
- Eu quero sair. Socooooorro. Eu quero descer. Quero descer pra quebrar a cara daquele cangaceiro de araque. Eu quero desceeeeeer.
A aeromoça veio para acalmá-la e ela gritou:
- Quebro a sua também, não encoste em mim, sua perua fardada.
A passageira foi acalmada pelos próprios passageiros, inclusive o João que até ensaiou uma revolta, mas...diante de tamanho escândalo...teve que se conter. É bem verdade que tomar um comprimidinho que estava na bolsa ajudou a tranqüilizar a passageira. Os berros passaram, mas o choro e o firme propósito de quebrar a cara do tal cangaceiro permaneceu.
João disse a si mesmo que não ia se apavorar. Em poucos minutos estariam aterrissando sem dano algum, afinal, o avião tinha combustível para uma hora e meia.
E ficaram lá, feito urubus a sobrevoar a carniça. O tempo passando e João calmo. João calmo. Calmo. Calmo. Olha no relógio e...Deus! Já estavam sobrevoando Brasília havia cinqüenta e nove minutos.
- Aeromoça, chama o homem lá, rápido. O combustível vai acabar em poucos minutos.
- Por favor, tenha calma senhor. O comandante é bastante experiente e nada de ruim acontecerá.
João bufou e se calou, mas ficou olhando pro relógio. Inquieto, impaciente.
- Aeromoça, quer fazer o favor de falar para o comandante que já estamos voando há uma hora e nove minutos.
- Senhor, fique tranqüilo, o comandante sabe o que faz.
Tic tac, tic tac, tic tac. Já alterado João disse:
- Aeromoooça, avisa ai que estamos no ar há uma hora de vinte e dois minutos.
- Senhor, quer fazer o favor de manter a calma!
- Eu estou calmo. Muito calmo. Quem disse para a senhora que eu estou nervoso? Mas escute bem: Vá logo lá merda!, e avisa ao FDP que eu quero descer desta p&#@.
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