4 de abr. de 2007

O lanche dos ministros

Por Pedro Oliveira - Jornalista e presidente do Instituto Cidadão.

(Brasília) Têm coisas que envergonham o país e que acontecem no Brasil como se fosse o fato mais normal do mundo. A imprensa cala, os políticos não têm autoridade moral para falar e a sociedade apática “deixa acontecer” e vai em frente. Sempre que viajo ao Chile, ou mesmo até outros paises menos desenvolvidos da América Latina, fico a me perguntar quando assisto a reação das ruas a determinadas ações de agentes públicos e seus atos imorais: por que não somos assim? Não defendo a violência como regra, mas a reação forte e enérgica do povo poderia mudar muita coisa na podre política e na Administração Pública brasileira. Não desejo plantar o extremo, mas já pensou se cada político ou administrador que fosse apanhado roubando ou corrompendo tivesse a mão direita cortada? Meu Deus...mais da metade do Congresso Nacional teria que aprender a escrever com a mão esquerda.E os governadores, prefeitos, deputados estaduais? Com certeza seríamos conhecidos como “o país dos manetas”.
Por estes dias lia uma nota em um acanhado canto de página de um jornal e fui buscar no Diário Oficial da União um fato que me chamou a atenção: “STF decide reforçar o seu lanche da tarde”. No DO encontrei um aviso de licitação através do qual o Supremo Tribunal Federal pretendia dar um “upgrade” no lanche da tarde de seus ministros e também no dos integrantes do Conselho Nacional de Justiça e ainda uma reforçada no cardápio de suas “recepções institucionais”.
No fasto menu proposto no procedimento licitatório haviam itens lights como queijo branco e biscoitos água, além de um tradicional “chá de chapéu de couro” , que tem poderes intiinflamatório e diurético e segundo se informa muito consumido na Suprema Corte. Mas também continha alguns itens mais calóricos para satisfação dos ministros e conselheiros, a exemplo de hambúrguer, queijos camembert e gorgonzola, além de bolos de vários tipos como brownie e sonhos, peito de peru defumado, presunto cozido, requeijão, queijo processado sabor provolone, biscoitos e pão de queijo congelados, além uma variedade de geléias de frutas.
Contava-me uma fonte que conhece de perto a fartura do lanche, mas que dele não participa por tratar-se de um simples mortal, que todas as tardes em um programado intervalo dos julgamentos os ministros se reúnem para “jogar conversa fora, falar de política, comentar as notícias dos jornais, contar piadas e comer, comer muito”.
Os ministros dos Tribunais Superiores têm direito a morar em luxuosos apartamentos, mobiliados e mantidos à custa do dinheiro do povo, carros de representação e combustível, motoristas, assessores, excelente salário e vida de príncipes. Podem e devem fazer uma invejável poupança e ver crescer um valioso patrimônio para curtir na aposentadoria.
Não tenho nada contra que os ministros façam seus lanches, mesmo que em horário de trabalho, mas o que me espanta é que em um país de miseráveis, de pais de famílias desempregados, de milhões passando fome, se ostente através da imprensa oficial a prática de se fartar soberbamente, com o dinheiro público que compraria milhares de cestas básicas para matar a fome de milhões.

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