4 de abr. de 2007

Propaganda Político-Partidária

Por Peter Wilm Rosenfeld

Apesar da enorme vontade de escrever sobre o caos que se está abatendo sobre o Brasil, com prejuízo de milhares de pessoas (passageiros e seus familiares, atendentes das companhias de aviação, tripulantes, etc.) resolvi escrever sobre algo que invade a privacidade de milhões de pessoas, sem lhes deixar qualquer outra opção.
Como dito acima, o caos se reflete sobre milhares de pessoas; aqui estou tratando de milhões em todo o Brasil.
Trata-se da abusiva, invasiva, imoral e indecente propaganda político-partidária que voltou a nos ser impingida todas as noites.
Abusiva porque a ninguém se perguntou se desejava ouvir/ver o que os políticos apregoam com falsa sinceridade.
Invasiva porque os ouvintes/espectadores não têm outra opção.
Imoral e indecente porque o que se apregoa são deslavadas mentiras, sobre propósitos dos partidos, supostas propostas de realizações futuras, dados incorretos de eventuais realizações passadas.
O propósito de todos os partidos, sem exceção, é um só: chegar ao poder e, uma vez lá, locupletar-se com os dinheiros dos contribuintes (e, talvez, com o desejo de se perpetuar nesse poder).
Esse propósito é oculto, pois nenhuma pessoa que se apresente na televisão ou fale no rádio será honesto o suficiente para mencioná-lo.
Além do mais, de onde sai o dinheiro para pagar a suposta gratuidade da propaganda? Evidentemente que do bolso do povo, de uma forma ou de outra. Todos os partidos têm direito a receber de um “fundo partidário”, mesmo que não tenham qualquer significado no quadro político do país.
Esse dinheiro, do fundo partidário, sai dos impostos que nós todos pagamos. A famosa “viúva” só tem recursos através daquilo que arrecada (de nós).
Logo, a propaganda é gratuita somente para os partidos políticos. O povo é que paga.
Estamos a um ano e meio das próximas eleições, que são municipais; a eleição anterior ocorreu em outubro do ano passado, tendo a população inteira sofrido, durante meses a fio, bombardeio até pior.
Será que o povo merece ser submetido a esse sacrifício? Se não merece, será que foi consultado para saber se o deseja, ou se o considera necessário?
Certamente a resposta a essas perguntas será um enorme “não”, provavelmente uníssono, exceto pelos políticos diretamente interessados em gastar dinheiro público em proveito próprio.
Duvido que em qualquer país democrático do mundo haja um sistema sequer parecido com o vigente no Brasil. Os cidadãos certamente não o permitiriam. Se os partidos desejam apregoar suas virtudes, que o façam com recursos captados de pessoas que espontaneamente queiram contribuir.
Como exemplo, posso citar o caso dos Estados Unidos. Existe um fundo federal de financiamento de campanhas eleitorais; o partido ou candidato que se valer desse fundo tem que se submeter a uma série de exigências e limitações. Recentemente, a Senadora Hillary Clinton, que quer se candidatar à Presidência da República nas eleições do ano que vem, preferiu financiar sua campanha com dinheiro arrecadado de entidades (pessoas ou empresas) privadas, pois deu-se conta de que arrecadaria mais dinheiro do que o valor que o governo lhe alocaria, sem as limitações que teria se o aceitasse.
Para finalizar, repito: estarmos sendo submetidos a esses ridículos e vergonhosos programas eleitorais é um abuso que transcende qualquer limite.

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