30 de mai. de 2007

Carta Aberta ao Presidente do Senado

Prezado senador José Renan Vasconcelos Calheiros,

Em meados de junho de 1946, a bordo do navio brasileiro Duque de Caxias, completei dois anos de idade e oito dias depois desembarcava no porto do Rio de Janeiro. Estava emigrando da Itália para a terra do futuro, para a terra da esperança.
Cresci junto a brasileiros e junto a eles aprendi a amar essa tão sofrida terra. O bandeira auriverde é a minha bandeira e o hino de Francisco Manoel da Silva e Osório Duque Estrada é o meu hino, aquele que sempre me emociona, quando ouço seus o primeiros acordes.
Sou o décimo oitavo primogênito descendente de tradicional família que se estabeleceu em Belluno ( onde nasci) no século XIV. Comigo encerrou-se a linhagem italiana e sinto o maior orgulho que meus descendentes, filhos e netos tenham nascido no Brasil. Durante os cinqüenta anos que aí vivi, tive a rara oportunidade de viajar, morar e trabalhar em diversas cidades de diversos estados. Sou um conhecedor do hinterland não por ouvir dizer, ou por ler em livros, mas por ter vivido.
Desde ainda criança, por motivos que não cabem nessa carta, acompanhei as sérias crises nacionais do após guerra: o atentado de rua Tonelero, o suicídio de Getulio Vargas, a deposição do presidente Carlos Luz e o impedimento “manu militari”, para que Café Filho assumisse o que lhe era de direito constitucional. A renuncia de Jânio Quadros, o parlamentarismo feito a enxó, a derrubada de João Goulart , as duas décadas da ditadura militar, o desastrado governo de José Sarney e a renuncia motivada pela desonestidade pessoal de Fernando Collor de Mello.
Todavia, jamais vi a nação mergulhada num lamaçal de tal envergadura como nestes últimos cinco anos. A corrupção e a impunidade andando juntas pelos corredores dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os escândalos tem a freqüência de um por semana. Ainda se apurava a chamada Operação Hurricane, quando surgiu a devastadora Operação Navalha.
Lembro quando a capital ainda era o Rio de Janeiro e o Senado estava no Palácio Monroe. Os senadores dos outros estados ficavam hospedados no Hotel O.K (rua Senador Dantas), quando passava por lá, ficava no hall de entrada olhando para esses senhores doutos, sérios e honestos, como que em estado de reverência. Eram senadores da República.
Agora senador, com grande desanimo o vejo atingido por um corte profundo dessa navalha. O jornalista Policarpo Junior, do hebdomadário Veja (edição 2010), não dá a notícia sobre um seu “suposto” envolvimento com o sr. Cláudio Gontijo, ele o acusa frontalmente, entre outras coisas, de ter as contas pagas por uma pessoas que representa os interesses de uma empresa que serve ao governo.
Um sua “fala defesa” no Senado (28/5), o senhor acabou desperdiçando tempo e palavras, pois as acusações continuaram onde estavam. O sr. pediu a uma pessoa de quem, por idoneidade, deveria manter distância, que pagasse a pensão devida à sua filha, com dinheiro que o senhor diz que lhe dava. Mas não mostrou documento algum que sustentassem essa afirmativa, ontem declarou a alguns jornalista que não tem como comprovar os pagamentos. Também faltou com a verdade ao dizer sobre Cláudio Gontijo que
“Ele fez a interlocução entre as partes pois tinha amizade com a mãe da criança..” e o fato foi logo desmentido por Pedro Calmon Filho, advogado da mãe de sua filha afirmando que: “Minha cliente nunca tinha visto Gontijo e não tinha amizade nenhuma com ele”.
Senador, um homem de bem, que se veja envolvido em fatos dessa gravidade, deve licenciar-se de sua cadeira senatorial, até que as desconfianças que lhe pesam sejam dirimidas.
Essa é a forma de impedir que o Congresso, já muito desacreditado, se desmoralize mais ainda, fato que acelerará a crise institucional que começou a germinar lenta mas inexorável no país. As crises dessa natureza se sabe quando e como começam, não se sabe como terminam, mas a experiência mostra que sempre de forma traumática para nação.
O que espero senador, é que raspando no fundo do tacho, recolha o que lhe restar de dignidade e se licencie, pois agora se trata de uma obrigação cívica, haja vista que o senhor perdeu a condição moral de continuar no cargo para o qual foi eleito..
Meus atenciosos cumprimentos
Giulio Sanmartini
(*)a fotografia mostra o autor da carta

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