29 de mai. de 2007

Emendas imorais em um Congresso suspeito

Por Pedro Oliveira - Jornalista e presidente do Instituto Cidadão

(São Paulo) Nada do que está rolando por ai nestes dias de Guatama, Mendes Junior, corrupção, amantes e propinas representa novidade para ninguém. Tudo o que a imprensa nacional noticiou todo mundo já sabia ou desconfiava. As novas denúncias não são tão novas assim. O que aconteceu foi a exposição de mais um episódio que joga lama no Congresso Nacional e tende afundar ainda mais no charco da indignidade figuras de expressão na política brasileira. Tudo, no entanto cheira a coisa passageira e para isto já entrou em prática um grande processo de “blindagem” dos acusados, pois a condenação de um poderá significar a capitulação de muitos. O plenário do Senado, transformado em palco de dramalhão mexicano para exibição de “amadas e amantes”, com direito a aplausos e cumprimentos ensaiados e programados, da mostra de que ali tudo pode acontecer. Inclusive nada.
Talvez as recentes denúncias sirvam apenas para acender o debate mais do que necessário sobre a imoralidade das emendas parlamentares ao Orçamento da União, que servem mais como moeda de troca e corrupção do que como instrumento de serviços ao interesse público dos brasileiros. O momento que deveria ter acontecido desde o escândalo dos “anões do orçamento”, na década passada, pode ter chegado agora como uma imposição da sociedade a um Congresso desacreditado e sob gravíssimas suspeitas. Está provado que o esquema da corrupção não está limitado a capacidade do Executivo de cooptar parlamentares em troca de liberação de verbas. O processo é muito mais grave misturando empresas desonestas, lobistas, deputados, senadores e o dinheiro do povo.
Precisa se lutar em busca de um orçamento impositivo não permitindo ao governo o poder de decidir a liberação de verbas de acordo com o seu interesse. Todos devem concordar que a democracia não se realiza pelo retalhamento de verbas, mas pela negociação de projetos e programas de interesse público. É preciso acabar com a farra de parlamentares inescrupulosos irem buscar suas eleições com o dinheiro sujo de propinas de empreiteiras, retirados das obras superfaturadas e dos assaltos ao erário.
Um outro aspecto que deverá ser debatido trata de mudanças na Lei de Licitações que se encontra no Senado. As alterações propostas conduzem pelo menos a dois objetivos: o combate à corrupção e o aumento da eficiência nos gastos públicos. As licitações para obras e serviços de engenharia passam a ter maior transparência e mais economia com a adoção da modalidade Pregão. Todas essas mudanças deverão enfrentar reações fortes daqueles que convivem com o imoral e o ilegal, e esta parcela é forte tanto na Câmara dos Deputados, como no Senado Federal.
O instituto da impunidade deveria ser outra frente a ser encarada nas mudanças que o momento exige. A grande maioria corrompe ou é corrompida na certeza de que nada vai acontecer. Estes não estão preocupados, pois podem sofrer o constrangimento das algemas da Polícia Federal, mas têm a seu lado o manto protetor de uma legislação equivocada e uma justiça amiga. Fica difícil acreditar nessas mudanças.
Como diz Arnaldo Jabor: “Estamos diante do corpo aberto da Pátria, nua na mesa de dissecação e nada podemos fazer. A tragédia é que estamos vendo o retrato nítido da história do País, e ele vai escorrer pelo ralo. Que podemos fazer, nós cidadãos desesperados de impotência?”.
Que Deus nos proteja!

Nenhum comentário: