9 de jan. de 2008

As entrelinhas de Dirceu

Por Chico Bruno

Na quarta-feira, 2, quando começou a circular, em São Paulo e Rio de Janeiro, o número 16, da revista Piauí, ainda, estava entre Holambra e Jaguariúna, no Condomínio Fazenda Duas Marias.
No dia 3, troquei as bolas e perdi o avião, que saiu de Viracopos, em Campinas com destino a Brasília no horário aprazado. Consegui remarcar a viagem, só que por Guarulhos, pagando uma bela diferença para o dia seguinte.
Só soube da reportagem da revista Piauí sobre o Zé Dirceu, assinada pela Daniela Pinheiro, quando cheguei a minha varanda em Vilas do Atlântico e bloguei o Noblat.
Infelizmente, a revista, cujo preço de capa é R$ 9,50, mas é vendida com um desconto por R$ 7,90, só chegou a Salvador no fim do dia 7.
Li a matéria da Daniela sobre o Zé Dirceu e fiquei sem saber por que cargas d’água a mídia não explorou alguns fatos significativos da reportagem.
Um deles é a hostilidade a Dirceu. No relato ele é destratado numa churrascaria em São Paulo, nos aeroportos de Guarulhos e Lisboa, sendo neste maltratado na chegada e na saída para Madri.
Outro fato significativo é a revelação dos encontros semanais que Dirceu mantém com Palocci. Como a repórter da Piauí não detalha o teor das conversas, caberia aos jornais que repercutiram a reportagem correr atrás dos objetivos de reuniões tão amiúde.
A reportagem também deixa no ar o poderio de Dirceu junto a ocupantes de cargos importantes do governo Lula, a ponto do embaixador José Viegas colocar a sua disposição em Madri um carro da embaixada. Outro fato que não foi explorado pela mídia.
Fica patente na matéria, que Zé Dirceu trabalha como consultor, usando o prestígio que adquiriu muito mais como ministro todo-poderoso de Lula, do que pelo seu passado.
Um exemplo disso é a facilidade com que Dirceu promete ao editor-chefe da RTP, televisão pública de Portugal, um encontro com a presidente da similar brasileira, Teresa Cruvinel.
“Eu ligo para ela, vocês se encontram, vai ser muito bom trocar essa experiência”, disse um Dirceu confiante.
Mas, o fato mais marcante é o pensamento sobre os senadores.
- Esse Garibaldi é um gaiato. Já trocou o guarda-roupa, deve estar arrumando os dentes, isso vai dar um trabalho danado. Ninguém segura esses senadores, não. Eles fazem tudo por uma rádio. Todos têm rádio. Têm sócios ocultos, laranjas. Não se dão nem ao trabalho de colocar um pequeno empresário na frente do negócio, nada. Esse Garibaldi tem duas rádios. Registradas na Anatel e no TSE. E fica por isso mesmo, lamentou Dirceu.
Desse comentário, a mídia extraiu apenas os trechos em que Dirceu se refere ao presidente do Senado, Garibaldi Alves, dando ênfase ao fato do deputado cassado tê-lo chamado “gaiato”, quando o mais importante é o tratamento genérico dado aos senadores no trecho “... ninguém segura esses senadores. Eles fazem tudo por uma rádio".
Ao terminar de ler a reportagem entendi as recomendações de Elio Gaspari e Lucia Hippolito.
Uma matéria com mais de mil e quinhentas linhas sempre esconde pequenos detalhes, que às vezes passam despercebidos.
Por isso, nada como o texto completo, para ser lido com a devida atenção ao “subtexto, ao contexto e ao pretexto”, como disse Lucia.

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