Recordando
A matéria abaixo foi publicada na Revista Veja de novembro de 2006 (Edição 1982) quando o tal governo de COALIZÃO de Lula foi iniciado. Vale reler.
O PMDB está encantado
Por Diego Escosteguy
No dizer inesquecível de Roberto Jefferson, o governo do PT criou o mensalão porque achou que era "mais fácil pagar o exército mercenário do que dividir o poder". Na semana passada, o presidente Lula começou a discutir a divisão do poder em seu segundo governo – e, à luz da experiência passada, isso é um excelente sinal. A partilha de cargos com aliados costuma soar mal para ouvidos mais puristas, mas ela, em si, não tem nada de ruinoso. Trata-se de uma forma de buscar a governabilidade e, além disso, aos cidadãos brasileiros pouco importa o nome do ministro da Saúde ou dos Transportes. O que importa é que o ministro seja honesto, reúna condições de fazer uma gestão eficiente e tenha capacidade de execução. Num sinal de que é para valer sua disposição de compor o governo com as forças aliadas, o presidente Lula chegou a reconhecer que a participação do próprio PT precisa ser redimensionada para o segundo mandato. Lula resumiu bem a questão: "O PT vai ter a participação no governo que tem o tamanho do PT. Aliás, o PT já tem o cargo mais importante do governo, que é a Presidência da República".
De agora em diante, é preciso zelar pelo triunfo da competência – mas quem mais se refestela com a chegada ao poder é o velho PMDB, lobo faminto do cerrado político. Com o comando de três ministérios e uma sucessão de postos endinheirados em estatais de porte, o PMDB já colocou diante do presidente Lula suas lideranças mais jovens e aguerridas – como os senadores José Sarney e Renan Calheiros. O sangue novo entre os negociadores é o deputado Jader Barbalho, do PMDB do Pará, que acaba de ser alçado à condição de interlocutor gabaritado do partido. Barbalho vem com força e persistência, jogando todo o seu empenho em deixar no passado o rombo bilionário da velha Sudam, a autarquia que cuidava do desenvolvimento da Amazônia. Desde que foi pilhado nesse escândalo da Sudam e adjacências, Barbalho já teve de renunciar a um mandato parlamentar, chegou a ser preso pela Polícia Federal e desfilou com um par de algemas nos pulsos – e continua sob investigação. Mas nada disso foi empecilho para que ele fosse recebido pelo presidente Lula no Palácio do Planalto, na semana passada.
A matéria abaixo foi publicada na Revista Veja de novembro de 2006 (Edição 1982) quando o tal governo de COALIZÃO de Lula foi iniciado. Vale reler.
O PMDB está encantado
Por Diego Escosteguy
Lula abre negociações para ampliar os cargos do partido no governo – e anima os grandes patriotas da legenda..
No dizer inesquecível de Roberto Jefferson, o governo do PT criou o mensalão porque achou que era "mais fácil pagar o exército mercenário do que dividir o poder". Na semana passada, o presidente Lula começou a discutir a divisão do poder em seu segundo governo – e, à luz da experiência passada, isso é um excelente sinal. A partilha de cargos com aliados costuma soar mal para ouvidos mais puristas, mas ela, em si, não tem nada de ruinoso. Trata-se de uma forma de buscar a governabilidade e, além disso, aos cidadãos brasileiros pouco importa o nome do ministro da Saúde ou dos Transportes. O que importa é que o ministro seja honesto, reúna condições de fazer uma gestão eficiente e tenha capacidade de execução. Num sinal de que é para valer sua disposição de compor o governo com as forças aliadas, o presidente Lula chegou a reconhecer que a participação do próprio PT precisa ser redimensionada para o segundo mandato. Lula resumiu bem a questão: "O PT vai ter a participação no governo que tem o tamanho do PT. Aliás, o PT já tem o cargo mais importante do governo, que é a Presidência da República".
De agora em diante, é preciso zelar pelo triunfo da competência – mas quem mais se refestela com a chegada ao poder é o velho PMDB, lobo faminto do cerrado político. Com o comando de três ministérios e uma sucessão de postos endinheirados em estatais de porte, o PMDB já colocou diante do presidente Lula suas lideranças mais jovens e aguerridas – como os senadores José Sarney e Renan Calheiros. O sangue novo entre os negociadores é o deputado Jader Barbalho, do PMDB do Pará, que acaba de ser alçado à condição de interlocutor gabaritado do partido. Barbalho vem com força e persistência, jogando todo o seu empenho em deixar no passado o rombo bilionário da velha Sudam, a autarquia que cuidava do desenvolvimento da Amazônia. Desde que foi pilhado nesse escândalo da Sudam e adjacências, Barbalho já teve de renunciar a um mandato parlamentar, chegou a ser preso pela Polícia Federal e desfilou com um par de algemas nos pulsos – e continua sob investigação. Mas nada disso foi empecilho para que ele fosse recebido pelo presidente Lula no Palácio do Planalto, na semana passada.
Além das lideranças públicas do PMDB, a máquina do partido já começou a movimentar aquele pedaço que fica nas sombras, geralmente longe do olhar do público e da atenção da imprensa – mas sempre, é claro, empenhado em fazer o melhor pelo Brasil. Um dos mais concentrados em despejar toneladas de competência e eficácia no novo governo é Luiz Carlos Garcia Coelho, empresário ligado ao senador Renan Calheiros. Nos últimos dias, Luiz Coelho começou a fazer contatos na área do Ministério da Saúde, em que o PMDB planeja aumentar sua participação. Coelho tem competência provada no mundo das licitações e dos contratos federais desde o governo de Fernando Collor, quando foi denunciado pelo Ministério Público Federal como um dos responsáveis pelas fraudes na compra de leite em pó da velha LBA, então sob o comando da primeira-dama Rosane Collor. Também tem competência comprovada na ocupação de espaços no poder pela mão do PMDB. No atual governo, por exemplo, onde tem PMDB, tem Coelho. Os Coelhos se reproduziram rapidamente. Tem Coelho irmão no Ministério da Previdência, tem Coelho sobrinho na Funasa, tem Coelho filha na assessoria de Renan Calheiros.
Outro focado em ampliar a massa de competência do governo é o lobista Cláudio Gontijo, que presta serviços à empreiteira Mendes Junior em Brasília. Ele é um dos braços do PMDB empenhados em fazer o melhor possível para o país nas estatais do setor elétrico – em que o partido já é forte mas quer ficar mais forte ainda. Gontijo conhece bem o atual presidente da Eletrobrás, Aloisio Vasconcelos Novais. Quando não está consumindo energias em descobrir formas de ajudar o governo, Gontijo pode ser visto nos jantares oferecidos pelo senador Renan Calheiros em sua residência oficial. Numa outra freqüência, mas ainda nas imediações elétricas do poder, está o empresário Fernando Sarney, filho do senador Sarney, que tem tentado abrir portas no Ministério de Minas e Energia e na Eletrobrás. Amigo do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, Fernando Sarney costuma despachar em Brasília na casa mantida pela entidade no Lago Sul, bairro nobre da capital, onde bate um bolão quando o assunto é ajudar no sucesso do novo governo.
A chegada do PMDB ao poder também fez aflorar o sentimento patriótico, o desejo de servir ao povo, do maranhense Edison Lobão Filho, cujo pai é o senador Edison Lobão, o pefelista mais próximo de Sarney. O chamamento do dever tem levado Lobão Filho a manter contatos (discretos) que poderiam conduzi-lo ao Ministério das Comunicações. O empresário mineiro Nelson Neves, ex-sócio do deputado Eunício Oliveira numa firma de vigilância, é outro que já arregaçou as mangas para dar o melhor de si pelo novo governo. Neves é um homem de prestígio na arena política. Na terça-feira passada, na festa de casamento de seu filho em um clube de Brasília, entre os convidados ilustres estavam Eunício Oliveira e o senador Heráclito Fortes. Com seu cacife e sobretudo sua disposição de sacrificar-se pelo Brasil, Neves tem buscado oportunidades de negócios em órgãos nos quais o PMDB recentemente ganhou cargos de reforço. Órgãos como a Transpetro, a Petrobras, a Gerência de Álcool da BR Distribuidora e os Correios. Por coincidência, foi nos Correios que o servidor Maurício Marinho foi flagrado em um vídeo embolsando propina de 3.000 reais – e virou o estopim da crise do mensalão.
Outro focado em ampliar a massa de competência do governo é o lobista Cláudio Gontijo, que presta serviços à empreiteira Mendes Junior em Brasília. Ele é um dos braços do PMDB empenhados em fazer o melhor possível para o país nas estatais do setor elétrico – em que o partido já é forte mas quer ficar mais forte ainda. Gontijo conhece bem o atual presidente da Eletrobrás, Aloisio Vasconcelos Novais. Quando não está consumindo energias em descobrir formas de ajudar o governo, Gontijo pode ser visto nos jantares oferecidos pelo senador Renan Calheiros em sua residência oficial. Numa outra freqüência, mas ainda nas imediações elétricas do poder, está o empresário Fernando Sarney, filho do senador Sarney, que tem tentado abrir portas no Ministério de Minas e Energia e na Eletrobrás. Amigo do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, Fernando Sarney costuma despachar em Brasília na casa mantida pela entidade no Lago Sul, bairro nobre da capital, onde bate um bolão quando o assunto é ajudar no sucesso do novo governo.
A chegada do PMDB ao poder também fez aflorar o sentimento patriótico, o desejo de servir ao povo, do maranhense Edison Lobão Filho, cujo pai é o senador Edison Lobão, o pefelista mais próximo de Sarney. O chamamento do dever tem levado Lobão Filho a manter contatos (discretos) que poderiam conduzi-lo ao Ministério das Comunicações. O empresário mineiro Nelson Neves, ex-sócio do deputado Eunício Oliveira numa firma de vigilância, é outro que já arregaçou as mangas para dar o melhor de si pelo novo governo. Neves é um homem de prestígio na arena política. Na terça-feira passada, na festa de casamento de seu filho em um clube de Brasília, entre os convidados ilustres estavam Eunício Oliveira e o senador Heráclito Fortes. Com seu cacife e sobretudo sua disposição de sacrificar-se pelo Brasil, Neves tem buscado oportunidades de negócios em órgãos nos quais o PMDB recentemente ganhou cargos de reforço. Órgãos como a Transpetro, a Petrobras, a Gerência de Álcool da BR Distribuidora e os Correios. Por coincidência, foi nos Correios que o servidor Maurício Marinho foi flagrado em um vídeo embolsando propina de 3.000 reais – e virou o estopim da crise do mensalão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário