23 de mai. de 2007

Perfeição

Por Peter Wilm Rosenfeld

Nosso digno e esforçado Presidente Lula declarou, na semana passada, em sua primeira entrevista coletiva do presente segundo mandato, “Estou quase atingindo a perfeição e posso chegar lá!”
Faltou a Sua Excelência dizer em que está em vias de atingir a perfeição. Se em seu desempenho pessoal como primeiro mandatário, se em seu relacionamento com a imprensa, ou com que setor da economia ou se com a população em geral. Ou, talvez, comandando o País de uma forma geral. Talvez estivesse se referindo a sua elegante apresentação atual, com ternos bem cortados, camisas perfeitas e gravatas combinando. Seria interessante sabermos.
Isso porque, excetuando-se alguns setores da economia (com especial destaque para o financeiro e para o desempenho da Polícia Federal), o Brasil vai muito mal em quase tudo.
Se o Bolsa Família tão badalado deu ao Presidente Lula grande popularidade entre os pobres (quem não gosta de ganhar algum dinheirinho sem ter que trabalhar? No caso, se trabalhar deixa de ganhar dito dinheirinho...), levando-o, agora, a cogitar seriamente de também premiar com dinheiro os alunos que passarem de ano nas escolas; de resto, o País está um desastre.
Desastre moral, com a corrupção crescendo a níveis nunca antes vistos neste País (o impecável ministro nomeado Mangabeira Unger acertou na mosca ao usar expressão semelhante à que usei), chegando às portas do Palácio do Planalto, sem que os sabidamente corruptos de calibre maior, obtendo “hábeas corpus” em poucas horas após sua detenção, fiquem presos. Senadores, deputados federais, governadores, etc., chegando a prefeitos e vereadores, além de ministros e demais autoridades, ostensivamente mudando de lado quando lhes é oferecido algum real, ou nomeando parentes ou outras pessoas que nada sabem (a Governadora do Pará, Julia Carepa, é entendida nesse assunto).
Desastre físico, com estradas (quer federais, quer estaduais ou municipais) deterioradas aumentando de forma significativa os custos e o perigo de qualquer viagem. Portos mal equipados e/ou mantidos precariamente, também aumentando os custos. Aeroportos com linda e moderna aparência, com cinemas, restaurantes, lojas, etc., custando quase o dobro do custo efetivo, enquanto sua infra-estrutura é precária, colocando em risco a vida dos que utilizam o transporte aéreo.
Desastre nos setores de enorme importância social, com hospitais caindo aos pedaços nos aspectos materiais (prédios, equipamentos, mobiliário, medicamentos), universidades idem e escolas também, sendo que sob o aspecto humano a coisa não é diferente, com professores mal pagos e, muitas vezes, totalmente despreparados para o magistério.
Carga fiscal intolerável, sem que se conheça qualquer esforço de parte do governo federal para diminuí-la, muito antes pelo contrário; as “contribuições temporárias ou provisórias” são convertidas em permanentes, com total esquecimento dos motivos que levaram à sua criação. Além de o País estar transformado em um enorme cassino, com todos os tipos possíveis de loterias (exploradas pelos governos federal e estaduais ou pela contravenção, como o jogo do bicho), não se conhece o menor esforço para diminuir a burocracia, para modernizar o País (exceto no que tange à Receita Federal na cobrança do Imposto sobre a renda e sobre os salários e aposentadorias, setor cada vez mais informatizado).
O índice de criminalidade vem crescendo de forma assustadora. Não há mais segurança no País, seja em que cidade for. Dir-se-á que essa responsabilidade é dos Estados. Mas o Governo Federal está atuando no Haiti, exatamente nessa área, quando o problema do Brasil é aqui. Aliás, o Haiti é aqui; nossa República Unitária (deixamos de ser uma República Federativa há algum tempo) deveria funcionar nesse caso.
Ah, penso que adivinhei em que o Presidente está em vias de atingir a perfeição: na cooptação de toda e qualquer pessoa ou autoridade que lhe pareça ser útil para atingir seus propósitos. Haja vista que quase todos os partidos – e todas as pessoas desses partidos, estão apoiando o Governo. E mesmo os da suposta oposição têm seus momentos de fraqueza, como aconteceu na eleição do atual Presidente da Câmara dos Deputados.
Também melhorou muito na análise do direito de greve (O que não é possível, e nenhum brasileiro pode aceitar, é alguém fazer noventa dias de greve e receber os dias parados, porque aí deixa de ser greve e passa a ser férias). Como se diz popularmente, “quem te viu e quem te vê”!
Realmente, o Presidente Lula está próximo de atingir a perfeição.
PS: Mencionei a Polícia Federal, que está realizando um excepcional trabalho. Não creio que seria irresponsável a ponto de enviar ao Supremo Tribunal Federal uma peça acusatória contra um Ministro de Estado, se não tivesse argumentos muito fortes e convincentes. É o caso do final de semana passado, envolvendo o Ministro de Minas e Energia e a Construtora Gautama.
PS 2: O presente texto foi terminado dia 22/05, antes da “renúncia” do Ministro. Não se conhecem (mas se podem supor) as forças que levaram a esse ato. Certamente, porém, o mencionado no PS anterior serve como comprovação de que minha suposição estava correta.

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