Como com Minha Mulher

Por Giulio Sanmartini

Zé Grande, ainda mora em São Bernardo (SP), em uma pequena casa alugada e recebe de aposentadoria, depois de 35 anos de trabalho, pouco menos que R$ 1 mil. Foi colega de trabalho de Lula, jogaram peladas juntos, juntos tomara seus porres de Tatuzinho em botequins cospe grosso.
Eram amigos de freqüentarem-se as casas. Zé Grande viu o amigo evoluir no Sindicato tornar-se um nome nacional. Mas depois que Lula mudou para o apartamento emprestado pelo compadre Roberto Teixeira, Zé não foi mais convidado, mesmo assim sempre foi politicamente fiel ao antigo colega. Os encontros começaram a rarear, Lula só aparecia no período eleitoral, mudaram também seus hábitos, já não tomava mais cachaça, mas whisky Old Eight, pois era o melhor do bar, suas roupas foram refinando-se, sua barba sempre bem aparada, as unhas perderam o sujo constante de graxa comum nos operários metalúrgicos, agora até tratava as unhas.
Mas Zé Grande além de votar no amigo, ainda fazia campanha por conta própria e sempre arrumava mais alguns votos.
Emocionado viu pela televisão, o “companheiro” desfilar no Rolls Royce, indo assumir cargo mais alto do país. Era uma esperança, pois representava um exemplo a todos que tivessem tenacidade, estes poderiam também chegar lá, Lula havia “deselitizado” o acesso ao Palácio do Planalto.
As decepções do primeiro governo não fizeram Zé mudar sua conduta.
Nessa segunda feira, deu uma passada no bar do Chagas, para tomar sua beiçada e comer duas sardinhas fritas, enquanto fazia hora para o novela das oito, nisso entra Carlos, que sempre foi anti Lula, diziam as más línguas que por puro despeito e inveja, olhou para Zé Grande e começou a falar sobre as últimas do governo, com um sorriso bem irônico.
- Pois é Zé, O PAC nasceu paralítico, teu presidente viaja e conta mentiras, o desemprego aumenta, o governo não funciona, a ministra Relaxa e Goza, o irmão e o compadre estão encrencados com a máfia dos caça-níqueis, isso sem falar no presidente do Senado que foi escolhido por ele. Como fica tua relação com o Lula?
- Minha relação com o Lula é como a relação com minha mulher – começou respondendo Zé Grande, para espanto dos que os ouviam, mas logo explicou – De minha mulher tenho um pouco de medo, um pouco de respeito, quando exagera, brigo com ela um pouco, um pouco gosto dela. Mas acima de tudo, o que quero mesmo é outra mulher!
(*) qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência