13 de jun. de 2007

De Costas para o Rio

Por Fabiana Sanmartini

Passei minha infância longe da Zona Sul, aonde ia apenas a passeio e durante as férias escolares. Minhas avós moravam uma no Jacarezinho e outra no Grajaú. E entre esses dois lugares e a Ilha do Governador tive uma infância bem cheia de lembranças boas. Acho que quem está chegando aos 40 como eu, deve lembrar-se das mesmas coisas. A simpática senhora do armarinho, no Jacarezinho, que de tão pequena que eu era não me recordo o nome, onde minha avó Wanda me comprava conjuntos de shots e camiseta que eu emporcalhava sistematicamente. O jornaleiro que me vendia os gibis e o apaixonante transfer. Os carnavais com meus irmãos e prima fantasiados iguais, em um bloco empolgadíssimo no correto do Largo do Jacaré e o Bloco da Rua Flack.
O Grajaú não era diferente, cadeiras na porta senhoras fazendo o apontamento da vida alheia enquanto brincávamos na rua.
Tinha violência? Não me lembro. Sei com certeza que o mais apavorante era o “homem do saco”.
Já fazia um pouco mais de um ano que não ia ao Jacaré. Estive lá esta semana e a nossa casa, o largo, a banca de jornal e até o armarinho continuam no mesmo lugar. Então porque saí com meu coração tão cheio de nostalgia? É que hoje não se anda mais pelas ruas do subúrbio sem temer pela violência, pelas balas perdidas. Do Subúrbio não, do Rio.
O subúrbio hoje está tomado pelo poder das milícias, que se você não paga, encarregam-se pessoalmente de se fazerem necessários. E paga-se bem, alguém que pague um aluguel de mais ou menos R$ 500,00, paga pela “segurança” algo em torno de R$ 50,00 chegando a R$100,00 no caso de comerciantes, por semana. E com “um qualquer” a mais, consegue-se uma ligação clandestina, ou gato, de TV á cabo.
Se não estou realmente ficando velha e defasada, me lembro que a segurança pública era responsabilidade do governo e que se saísse do controle, poderíamos contar com o governo federal. Mas fica difícil a concorrência com os governantes. Aliás, minha mãe me dizia que se eu me perdesse dela nas ruas movimentadas do Centro da Cidade, era para procurar um policial! Pasmem!!!!
O Cristo Redentor, que sempre achei que protegia o Rio, já fico em dúvida se esta de braços abertos ou se é “mãos ao alto” mesmo.
Longe de mim querer de volta a ditadura. É que carecemos de tranqüilidade e um mínimo de garantia de vida para elegermos os próximos desgovernantes.
Os políticos, demagogicamente, agora querem que o Cristo seja eleito uma da “novas” Sete Maravilhas do Mundo, mas na realidade, há tempos, eles viraram as costas para a Cidade que já foi Maravilhosa.

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