25 de jun. de 2007

Raízes do Nosso Tempo

Por Laurence Bittencourt Leite

O medo de uma sociedade capitalista de fato (que é o que nos caracteriza enquanto modo de vida) onde o ser humano, segundo algumas concepções contrárias, seria colocado “numa máquina que nos torna sem consciência”, que retira nossa individualidade e autonomia, gerou uma vasta literatura nos campos da esquerda política e dos nacionalismos nascentes na Europa, que promoveram, por exemplo, o surgimento do comunismo, fascismo e nazismo. Foi uma condenação do capitalismo em bloco, como diria Lênin.
Incrível que todos esses “ismos” colocaram, depois de sua chegada ao poder, o ser humano exatamente numa camisa de força, cujo objetivo (pelo menos teórico) seria o contrário. E o maior paradoxo gerado por essa literatura surgida do combate ao capitalismo, a burguesia, o liberalismo e por conseqüência a democracia, gerou as duas grandes guerras mundiais. Por trás dessas ideologias políticas, estavam os “profetas da tradição ofendida”, aqueles que iriam libertar o individuo das garras modernas, ou na visão de Hitler que “iria curar o mundo” dos interesses econômicos.
Se ficarmos apenas no comunismo (embora as outras ideologias tenham tido o mesmo caminho e destino) veremos que o mesmo não conseguiu gerar o paraíso prometido na terra (a semelhança entre a proposta comunista de um paraíso na terra, com o ideário católico de um paraíso em outro mundo, já foi por demais explicado por outros autores que dispensamos uma maior apreciação). Ao contrário. Muito ao contrário. Na verdade, o que fizeram foi gerar um misto de censura, perseguição, ausência de liberdade de expressão, e morte a milhões. Para quem prometia a “liberdade do individuo”, em última analise, o que conseguiram foi condenar esse mesmo individuo a viver dentro de uma camisa de força.
Isso (essa análise) é velha, certamente, mas acho eu, que merece ser lembrada. Como disse George Santayana, “quem esquece o passado, está condenado a repeti-lo”. Logo...
E trazendo essa análise macro, digamos assim, surgida na Europa, podemos ver que no Brasil (e na América Latina como um todo), uma minoria clama, luta, torce e quer a modernidade. Mas as forças contrárias (todas conservadoras e reacionárias, é bom lembrar, ainda que incrivelmente se achando progressistas) resistem violentamente e parecem ser em maior número.
Dessas forças imobilizantes, conservadoras, são construídas (competentemente diga-se, ainda que reacionários) toda uma pregação e discursos pregando a volta também a um certo “paraíso perdido”, que o capitalismo com sua energia (revolucionária, diga-se) parece ter acabado. Não sabem esses, que jamais entramos no mundo capitalista, estando o Brasil como a América Latina ainda presa ao velho feudalismo do século XVI e XVII.
Claro que há muito de romantismo nessas forças contrárias e seus discursos antimodernistas, anticapitalista, de onde extraem muito de suas forças e seguidores. Sem se dar conta, essas resistências se manifestam sob uma crítica ferrenha à civilização moderna (sinônimo de capitalismo), vista por eles, como uma camisa de força. Basta ver a pregação do PT por mais de 20 anos.
É fácil perceber que o capitalismo, no Brasil e na América Latina (principalmente) parece ter o mesmo efeito de um velho Deus bíblico, a exigir renuncias, moralidade, trabalho, ordem e pouco prazer. Essa foi a linha teórica erguida, por exemplo, por Herbert Marcuse em sua obra monumental “Eros e civilização”. Foi esse conflito com o capitalismo nascente (ou melhor com o seu modo de ser) na Europa que fez surgir toda uma gama de literatura, chamada de moderna (Flaubert, Dostoievski, Kafka, Thomas Mann, Virgínia Woolf, ou mesmo americanos como Poe, D. H. Lawrence, Esra Pound, entre outros), se colocando em oposição direta ao mundo proposto e erguido pelo capitalismo.
Os escritores (é bom saber que o surgimento do romance só ocorre com a ascensão do capitalismo) de um modo geral, são os grandes críticos do mundo e do estilo de vida burguês, capitalista, escrevendo exatamente sobre essa inadequação do homem (do escritor especificamente) diante dessa nova ordem.
O desgosto pela realidade fez criar uma portentosa literatura e no campo da política uma onda de desejo por um paraíso perdido. É o desejo a um mundo simplificado. Hoje é possível dizer que a 1ª Guerra Mundial foi a primeira revolta contra esse novo mundo de ordem imposta pela burguesia. Incrível que muita literatura também já foi escrita tentando vincular as duas Guerras Mundiais como realizada pelo capitalismo, quando na verdade, surgiram como uma oposição radical (a Segunda Guerra mais ainda) a ele.
Tudo isso é história, certamente. E se tomarmos a excentricidade com que se produz e continuam produzindo “papers”, ensaios e críticas ao capitalismo, hoje abraçado pela “onda verde”, os ambientalistas (mais uma vez o desejo a um paraíso perdido), veremos que, foi com o capitalismo que, por exemplo, as mulheres alcançaram em muito sua libertação, antes negada. As exigências do trabalho as levaram para fora do lar, deixando de ser “apenas” mãe e esposa. As mulheres são, por assim, dizer uma das grandes beneficiarias desse capitalismo e dessa perda de um mundo mais “espiritual”.
Em última análise, a modernidade trouxe a mulher para o mundo do trabalho, pela exigência feita por esse mundo. Hoje me faz rir, quando vejo por exemplo, determinadas figuras femininas se oporem ao capitalismo, sem se dar conta que sua “crítica” é aceita exatamente nesse mundo que elas parecem querer combater e muitas eliminar.
Isso é tão verdadeiro, que basta dizer que recentemente foi divulgado pelo jornal “Folha de São Paulo”, que a China passou a ser o país mais poluidor do planeta, mais que os Estados Unidos com sua industrialização. Mas certamente a China não merecerá repúdio violento como os que vemos em relação ao berço do capitalismo, os EUA. Isso só prova, que os ataques e ódios são ao capitalismo. Ou seja, unilateral.
Se quiserem numa percepção bem próxima, nossa, basta dizer que o PT chegou ao poder por causa da democracia (braço político do capitalismo). O que resta saber, é se a democracia irá ser mantida pelo PT.

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