Um dos aspectos mais danosos do aparelhamento das agências governamentais reside no aspecto completamente irresponsável com que foram designadas pessoas para gerir mecanismos complicados de administração de entidades reguladoras e fiscalizadoras deste país.
Aqui cabem dois exemplos, um simples e outro mais complicado.
Nos últimos dias tenho acompanhado um problema de vazamento de chuva para um apartamento de último andar num prédio frente àquele em que resido. Teoricamente a laje e platibanda do prédio foram impermeabilizadas por um alto valor há coisa de seis meses. Contudo constatou-se que os apartamentos de último andar vazios nos últimos meses, agora sendo preparados por seus novos proprietários ainda estão sendo inundados sempre que há chuvas fortes ou chuvas que durem alguns dias. O engenheiro da empreiteira alegou que tudo fora feito da melhor forma possível.
A nova proprietária trouxe um modesto empreiteiro de pequenos serviços de reforma, homem experiente, modesto, que há décadas atende os pequenos problemas de prédios próximos.
Este executou testes práticos, desenvolvidos à sua maneira e simulando chuva constante constatou os vazamentos e emitiu uma opinião sobre os motivos, sendo sua opinião totalmente negada pelo engenheiro.
Posteriormente, removida parte do material afetado constatou-se que mais valia a opinião do modesto empreiteiro do que do engenheiro. De fato a reforma havia negligenciado certas precauções. Não quer dizer que outro engenheiro não teria percebido o problema, mas de fato neste caso a experiência do empreiteiro foi mais importante que o conhecimento do graduado em engenharia.
O exemplo mais sofisticado é o da NASA. Em 1945 os Estados Unidos conseguiram localizar uma boa parte da equipe de Werner Von Braun antes dos russos e os levaram para os Estados Unidos, onde desenvolveram o programa de foguetes espaciais americanos. Anos adiante, com a criação da NASA no governo Kennedy foi necessário apresentar membros da equipe ao congresso americano para testemunharem sobre as necessidades de fundos e a aplicação dos mesmos. Foram pedidos currículos desses alemães. Para surpresa geral, a maioria desses cientistas apenas tinha diplomas do ensino médio técnico. Não tinham bacharelados, mestrados nem doutorados. Simplesmente entrando para o serviço de pesquisa haviam absorvido todo o conhecimento na prática, haviam aprendido a pesquisar a teoria, e ainda assim eram as maiores autoridades do assunto fora da Rússia. Ms nunca haviam tido tempo para fazer um curso superior. A necessidade de apresentar currículos de doutor fez com que a NASA lhes comprasse diplomas de doutorado em universidades fajutas.
Tudo isto para dizer que, se a idéia fosse de promover pessoas humildes dentro de estruturas complicadas, provavelmente teria sido fácil encontrar dentro da estrutura de entidades como o DAC, predecessora da ANAC, algumas pessoas consideradas de notório saber e guinda-las a posições chave na estrutura. Todas as estruturas bem sucedidas possuem pessoas assim.
Não é o caso de compor toda uma diretoria com esse tipo de pessoa. São necessários outros talentos, inclusive a capacidade de mover-se num mundo mais sofisticado, contudo calculo que dentro de uma diretoria um único indivíduo indicado por pressões políticas deveria ser o suficiente, e mesmo assim deveria ser uma pessoa com algum conhecimento do assunto ou ao menos uma pessoa de habilidades especiais no campo da administração.
Mas talvez este conceito seja demais para um país que elegeu o algoz da eficácia duas vezes.
31 de jul. de 2007
NOTÓRIO SABER
Ralph J. Hofmann
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