23 de jul. de 2007

Onde estão as tralhas

Por Ralph J. Hofmann

E eu queria um ranchinho, uma vaca magra e um cantinho pra mim morar.
(Ary Toledo)

Acabo de receber um desses e-mails em que se transcreve as compras da presidência da república.
Os mesmos não me chocam mais, pois já nos acostumamos à idéia de que do ponto de vista do governo atual nada é mais justo de que dotar os vorazes gafanhotos da república com tudo que exista de melhor, e especialmente de que isto deve ser servido em quantidades pantagruélicas.
Até sugiro que devam ser realizados semanalmente exames de triglicérides e colesterol nos elementos que servem à presidência. Seria desumano permitir que venham a enfartar devido à necessidade de consumir tamanhas quantidades de suprimentos. Talvez esses funcionários devam ser pesados na entrada e na saída do trabalho. Uma balança ligada a um computador notificaria: Esta manhã você estava com X quilos. Agora está com Y quilos. Sugerimos que caminhe para casa sob pena de tornar-se obeso.
Contudo o exame da lista de ventiladores, lâmpadas, ventiladores, ar condicionados despertou em mim aquele espírito do proprietário de automóvel.
Em primeiro lugar, em que cômodo de que edificações estarão os materiais comprados (verificar por número de série da fatura)?
Em segundo lugar, se os equipamentos foram colocados em substituição a lâmpadas queimadas, onde estão os equipamentos descartados?
Longe de mim desconfiar da lisura de nossos funcionários da presidência, mas anos de vida em grandes empresas me acostumaram a considerar esse tipo de controle absolutamente normal. Afinal, a estrutura administrativa da presidência, com três mil funcionários, corresponde a uma indústria de bom tamanho, que provavelmente teria vendas brutas de R$ 800 milhões, com um staff administrativo de não mais de 150 pessoas, aí incluídos diretores, e que recolheria aos cofres públicos algo como R$ 250 milhões anuais na forma de impostos, contribuições e achaques. Nada mais correto que as despesas de manutenção e alimentação fossem da mesma ordem. Mas constatamos que num ano (2004) um operário da indústria hipotética contribui com uma produção que gera R$ 83 mil, enquanto o indivíduo que presta serviços à presidência gasta R$ 124 mil. Ou seja, é necessário o fruto do trabalho de aproximadamente 4500 operários de indústrias para manter as despesas (sem contar os salários) de 3000 pessoas.
Como o povo brasileiro é generoso!

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