30 de jul. de 2007

Os caudilhos

Por Ralph J. Hofmann

Nos anos oitenta negociei com Cuba alguns contratos de exportação. Já havia negociado contratos semelhantes com países da Cortina de Ferro. Nessas ocasiões eu sempre tinha pelo menos dois interlocutores. Convidava-se um membro de uma delegação para um chopp corria o risco de levar boa parte da delegação russa ou polonesa comigo.
Para minha surpresa esse problema não surgia com os cubanos. Eram seguros de si, simpáticos, bem falantes, tinham gosto no vestir (longe das roupas sem forma dos eslavos), e aceitavam bater um papo num bar sem levar testemunhas.
Posteriormente vim a entender. Eram todos da Nomenklatura e até já filhos de membros da Nomenklatura cubana. Controlavam os órgãos da administração de compras do governo.
Foi fácil fechar negócio. Difícil foi conseguir garantias de pagamento. O Governo Sarney acabou pagando o mico. Em troca de vacinas de que não necessitávamos pois as cepas de meningite que combatiam não eram as mesmas do Brasil.
O que chamou a atenção no decorrer das negociações, num período em que a Rússia já estava reduzindo seu aporte diário de subsídios, que no auge montava a US$ 1 milhão por dia, para US$ 350 mil por dia, era como eram tênues os recursos da ilha. Propus um escambo. Charutos ou rum contra o meu produto. Não podia. Eram receitas em moeda forte que Cuba usava para comprar alimentos. Sucatas de ferro. Idem. A resposta era sempre que se necessitava da moeda forte para comprar alimentos. Vinte e tantos anos após o início do regime de Fidel o país não tinha nenhuma folga para comprar equipamentos para consertar seu parque industrial canavieiro salvo com financiamento do país fornecedor para escambo por produtos de sua industriam farmacêutica.
Ninguém sentara, examinara a economia cubana, identificara seus potenciais mais fortes e implementara uma política de desenvolvimento. Haviam administrado sua economia como quem herda uma máquina andando e a opera como está sem jamais reservar um fundo para crescimento.
O pior não é isto. O pior é que os novos caudilhos, Hugo Chavez, Evo Morales, e até certo ponto as pessoas que influenciam o nosso regime atual no Brasil, Marco Aurélio Top-Top e José Dirceu parecem ter incutido a mesma malemolência nos países que regem. O que fará Evo Morales quando não houver mais ativos estrangeiros para espoliar? O que fará Hugo Chavez quando tiver eliminado a produção dentro de seu país e as polpudas receitas do petróleo, se bem que imensas não conseguirem compensar a falta de produção dentro de seu país? Salvo países de pequena população nenhum produtor de petróleo jamais conseguiu dar condições de vida ao seu povo apenas baseado na receita do petróleo.
No caso do Brasil a coisa é muito mais séria. Os caudilhos de Brasília fizeram fenecer os centros de excelência administrativa do país. Relegaram para um futuro sem data providências para a manutenção da estrutura do país. Em essência estão gastando a máquina enquanto ela funciona, apenas consertando o que estraga. Por ignorância? Pode até ser, mas há estruturas que foram implantadas nos anos setenta, pelos militares, que sabiam planejar, e que em alguns momentos tiveram seu desenvolvimento atrasado, seja por dogma (como a Lei da Informática), ou seja, por falta de disponibilidade (como no período em que 40% das receitas em divisas iam para a compra de petróleo), mas que de alguma forma sempre eram complementadas e melhoradas. Agora por ignorância ou por desvio de fundos ou ainda por um projeto de devolver o país aos anos trinta estamos vendo entrarem em colapso a infraestrutura que tanto custou para construir.
O que podemos esperar de caudilhos? Que construam? Normalmente o caudilho se preocupa com sua estrutura de poder, suas fontes de prazer e suas reservas para caso seja derrubado. Colocar poder na mão de quem não dependa do Caudilho? Nunca.

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