2 de ago. de 2007

Fogo de palha?

Por Marcelo Aiquel – advogado

A expressão “fogo de palha” é tradicionalmente utilizada quando queremos nos referir a algo de não durará muito tempo. Algo que parece ter força própria, mas se esvai rapidamente, desaparecendo assim como uma paixão esfuziante, que se torna “fogo de palha” quando o encanto some depois de poucos dias. Da mesma forma que também poderá ser apenas “fogo de palha” toda a postura nacional de indignação surgida após o acidente trágico de Congonhas. Será?
Pois, conhecendo a natureza do povo brasileiro, especialmente da acomodada classe média, temo que o eloqüente vozerio que se ergueu em tom elevado nos últimos dias volte ao seu patamar de calmaria em poucas semanas.
Enquanto eu – como cidadão indignado frente às dezenas de sutis desaforos que nos têm sido ditos pelos governantes e seus representantes – tenho este receio, mais do que justificado em razão do histórico de reação do nosso bravo povo varonil, a casta dirigente do país conta exatamente com a enorme probabilidade de que esta indignação seja apenas mais um “fogo de palha”.
Como ocorreu em outros graves episódios (recentes ou não), logo a poeira baixa, as pessoas cansam (muito pouco fôlego para o tamanho da indignação), voltam a acomodar-se nas confortáveis poltronas defronte a TV e relaxar – sem gozar, logicamente, porque não somos a dona Marta que tem o fetiche do prazer no sofrimento alheio – assistindo ao futebol, a novela das oito, ou a um filme de ação, para delírio dos responsáveis pelo futuro do nosso país.
E o pior, e mais lamentável, está no fato de que a cada dia que passa estamos ficando mais distantes de uma efetiva mudança; de uma reforma concreta; da correção dos atos errôneos que causaram o atual “fogo de palha” de indignação. Igualzinho as outras vezes, como num replay das mesmas cenas.
Porém, é imperioso que depois, quando novamente houver um “levante indignado” não se procure colocar a culpa na casta governante. Antes, e honestamente, devemos olhar para trás e enxergar que só aconteceu outra vez porque, na última oportunidade, acendemos uma fogueira e a alimentamos apenas com palha seca. Jamais com carvão, lenha ou querosene, como interessa a quem busca calor duradouro.
Dizem que o Brasil é rico, grande, forte, lindo. Na verdade, ele é tudo isso e mais um pouco. Só que tremendamente vulnerável! E esta sua fraqueza é o caminho ideal para aqueles que têm o preparo e a persistência para seguir adestrando, domando, disciplinando, enfraquecendo e subjugando coletivamente aos que escutam as vozes que poderiam alertar para o evidente domínio que se avizinha.
O controle da opinião pública, com a caça disfarçada àqueles que ousam expressar o seu ponto de vista contrário, feita através do velho método de coação econômica aos órgãos que lhes dão espaços, ou de ataques desmoralizantes inteligentemente orquestrados por meio de seus aliados, foi o primeiro passo. Que o digam os jornalistas Boris Casoy, Arnaldo Jabor e Diogo Mainardi, por exemplo: as pessoas os escutam e lêem, vibram com os recados, acham perfeito o que dizem, comungam dos mesmos pensamentos, mas se quedaram inertes quando souberam que houve a tentativa de calá-los.
Ora, pelo amor de Deus! Isto é rigorosamente o mesmo que tentar calar a cada um de nós que concorda com as suas crônicas. Aceitar passivamente tal censura é submeter-se ao domínio da força sem lutar. Numa atitude covarde, deplorável, vergonhosa.
Mais um fato grave aconteceu. Mais um grito de indignação ecoou por todos os cantos do Brasil. Mais uma vez o alvo é comum.
Será que, mais uma vez, o FOGO É DE PALHA?

2 comentários:

Anônimo disse...

NÃO VAI SER FOGO DE PALHA!!!!!!!!!!!

ma gu disse...

O colega Marcelo fez um comentário muito pertinente, com o qual eu concordaria totalmente, e foi interessante ele lembrar a frase antiga. Mas a partir da vaia de um Maracanã lotado, passei a ter um fio de esperança de que a reação da população que paga impostos não seja apenas "fogo de palha".
O único risco é a capacidade do sapo (lembrando o nada saudoso Brizola) e seus sequazes em manipular a massa ignara, contrapondo-os aos que pagam seus impostos.