3 de ago. de 2007

HAL 9000

Ralph J. Hofmann

Lembram aquele adesivo para automóveis que era uma única palavra “FRÓIDSPLIKA”.
Freud Explica. No caso do que ocorreu de fato a bordo do avião da TAM acho que não temos que olhar para Freud. Temos de olhar para um cineasta e um autor. Tratam-se de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke.
O cineasta e o autor trabalharam em cima do roteiro de 2001 Odisséia No Espaço entre 1964 e 1968. Arthur C. Clarke é aquela raridade. Por um lado autor, por outro um cientista que foi pioneiro na eletrônica durante a segunda guerra mundial, pois foi um dos jovens oficiais colocados nos programas de radar e depois da guerra estudou matemática no Kings College. Durante a guerra ajudou a criar o sistema de aproximação a aeroportos controlado do solo, um dos primeiros sistemas em que o piloto entregava seu avião ao controle externo.
Uma das primeiras aplicações deste sistema foi na ponte aérea de Berlim em 1949, quando devido aos russos terem fechado o acesso por terra garantido em Potsdam, Berlim Ocidental teve de ser suprido por via aérea durante muitos meses, inclusive no inverno com má visibilidade. Clarke também foi o idealizador do Satélite Geoestacionário de Comunicações.
Posto isto sabemos que Clarke não é simplesmente um escritor de ficção científica. Podia prever como previu muitos desenvolvimentos científicos que hoje aceitamos como parte de nossas vidas.
Kubrick e Clarke colocaram a nave do filme 2001 – Odisséia o computador Hal 9000. Este controlava tudo. Só que por algum motivo Hal pira. O motivo não interessa, mas a verdade é que Hal passa a assassinar os membros da tripulação. Como está no centro de tudo a tripulação acossada usa Hal para investigar as mortes que estão ocorrendo. E Hal é o culpado, donde sua delinqüência apenas pode ser descoberta quando sobra um último sobrevivente e Hal.
Os modernos aviões são quase tão complexos quanto a espaçonave de 2001 – Odisséia.Não dependem mais de cabos, dependem de circuitos eletrônicos e hidráulicos. Os pedais, manche e manetes de um avião moderno hoje simulam a resistência de um avião não computadorizado de antigamente, para que os pilotos tenham sensibilidade. Na realidade poderiam ser teclados de um computador PC ou até mouses.
Isso não quer dizer que um computador de aviação deliberadamente sabote o trabalho dos pilotos. Mas por outro lado em grande medida a checagem do estado de um avião é feita pelo próprio computador de bordo. Se este tiver um probleminha, e nós usuários de PCs sabemos quantos probleminhas acontecem entre o software e o hardware de nossas máquinas, adeus para os diagnósticos.
Donde deveríamos ser muito cuidadosos ao dizer que a manete do Airbus da TAM estava assim ou assado, portanto o piloto falhou. Sabe lá se o computador não atravessou o samba?
Talvez nunca saibamos com certeza o que aconteceu.
Mas continuam existindo algumas realidades. Congonhas não tem área de escape. A pista havia assustado outros pilotos de Airbus, donde havia indicações de que não seria bom seguir pousando com Airbus nessas condições de pista molhada. O poder público não pode alegar ignorância. Há sinais de um descaso criminoso, numa situação em que havia muitos relatórios ao longo dos anos e as pessoas que deveriam assumir a luta por melhores condições simplesmente arquivaram os relatórios para não balançar o barco.
A maioria dos sistemas de um avião possui duplicação. Mas isso não é possível fazer com o computador. Dois computadores poderiam entrar em conflito. O computador é único. Sabemos que há antecedentes de aviões em que o computador ficou desnorteado e causou acidentes. Pelo menos o local em que os aviões pousam deveria ser adequado, prever anomalias, e não apostar em que tudo vai ser bom ou como canta o Ministro Gilberto Gil “Tudo, tudo vai dar bem”.

2 comentários:

benesatur disse...

Concordo plenamente.Esta é uma visão sensata, correta, dentro da lógica e da razão.Muito bem

Anônimo disse...

Quem é Gilberto Gil?



ah sei, o cantor em tour pela Europa promovendo shows, há alguns meses?