28 de ago. de 2007

Os piores hospitais

Por Alfredo Guarischi, Médico, Membro da Câmara Técnica de Oncologia do Conselho Regional de Medicina do RJ

No domingo a Folha publicou importante pesquisa sobre os melhores hospitais de São Paulo (SP) na opinião dos médicos. Houve o cuidado em entrevistar médicos conforme a prevalência das especialidades, na avaliação dos 343 hospitais (45 públicos, 28 filantrópicos e 270 privados).
Levando-se em conta os aspectos gerais o Hospital Albert Einstein com 43% dos votos venceu o Sírio-Libanês (18%), Oswaldo Cruz (15%), Hospital das Clínicas (7%) e São Luiz (5%). A ordem na escolha tem alguns vieses se levarmos em conta o problema principal do paciente - UTI pediátrica, maternidade, oncologia ou ortopedia de adulto. A qualidade da equipe médica e dos equipamentos, ambos com 58%, foram os fatores mais citados para justificar suas escolhas dos melhores hospitais. A equipe de enfermagem com 25% vem em segundo lugar. Os demais itens citados (hotelaria, exames, localização e credibilidade) foi bem menos importante na decisão, variando de 11 a 6%.
Na maior e mais rica cidade brasileira, dos cinco melhores, quatro tem seu foco principal no paciente que não tem o SUS como financiador principal. Nestes, assim como em 71% dos demais hospitais de SP, tem no sistema de saúde complementar seu principal financiador. Das 1729 operados em atividade no Brasil, 1140 atuam em SP. O que me intrigou nesta pesquisa é que nenhum hospital no qual a operadora seja proprietária ou controle diretamente a sua gestão, tenha recebido votação expressiva. Por que? Acho que é melhor deixar este tema para uma próxima crônica, mas o leitor é livre para imaginar os motivos.
No Brasil a percentagem da população que pode dispensar o SUS é de 22%, mas em SP esta percentagem chega a 37%, enquanto no restante do país é de 18%, sendo 12% na região Sul, 13% no Nordeste e 3% no Norte, conforme dados da Agência Nacional de Saúde. Portanto, para a maioria da população brasileira, mesmo em SP, não conta com hospitais de excelência.
Quando o ex-ministro Dr Abib Jatene criou o CPMF, para ajudar no financiamento da saúde pública, tinha um bom motivo. É triste, mas fica cada dia mais claro, o desvio da aplicação para outras áreas, com grande desprezo à saúde. Há muito tempo a saúde dos brasileiros vem sendo tratada com desprezo. As greves são mais uma prova da falência da saúde pública, não pela qualidade profissional (médicos, enfermeiros e demais categorias) mas sim pela falta de investimento em tecnologia, treinamento continuado e remuneração decente. Não creio que o corpo clínico dos melhores hospitais tenha feito alguma greve. Não creio que os nobres legisladores procurem o SUS para tratamento, preterindo hospitais privados.
Como seria na eleição dos piores hospitais do Brasil?
A equipe médica e de enfermagem não seria o principal fator pois a maioria dos que atuam em hospitais privados trabalhou ou trabalha em hospitais públicos ou filantrópicos. Em relação ao equipamento, hotelaria e exames existe uma brutal diferença. A localização do hospital, bem como sua credibilidade provavelmente serão fatores de menor relevância ou de algum modo subjetivo.
Até quando as condições de trabalho e a remuneração manterão o crônico apartheid que existe no sistema de saúde brasileiro?

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