22 de ago. de 2007

PARAPAN

Por Peter Wilm Rosenfeld

Esses últimos dias foram de arrepiar (e de chorar de emoção!).
O espetáculo que vimos, com pessoas com todos os tipos de dependência física disputando uma grande variedade de modalidades desportivas foi tocante.
A vibração dos atletas quando conquistavam um dos primeiros lugares, principalmente a medalha de ouro, deveriam servir de exemplo a todos os brasileiros (e não só a outros atletas).
Ali vimos brasileiros de verdade. Pessoas limpas, honestas, sérias, que queriam o melhor para o Brasil. Para si próprios, ao contrário do que vem acontecendo com quantidades cada vez maiores de brasileiros, queriam apenas u’a medalha e, embrulhados em uma bandeira brasileira, ouvir o hino nacional. Muitos não podiam ver como era a cerimônia, cegos que eram. Não importava. Seu poder de imaginação certamente tinha tudo o que acontecia bem presente em suas mentes (ou em seu imaginário).
Nenhum, penso, provinha de família abastada, que lhe proporcionasse grande conforto material. Como se viu, isso nem era necessário, pois seu esforço e sua participação já lhes bastavam.
Os brasileiros ganharam o dobro de medalhas de ouro e do total de medalhas do que as ganhas pelo segundo colocado, o Canadá. Isso apesar de todas as dificuldades que um deficiente brasileiro tem que enfrentar, contrariamente ao que ocorre em um bom número de países, que facilitam de todas as maneiras a vida dessas pessoas.
Vários recordes mundiais foram batidos por nossos para-atletas.
Comparemos a atitude desses brasileiros, de todas as idades, com nossos políticos, com raras e virtualmente desconhecidas exceções! Que diferença abissal! Se esses profissionais da política tivessem uma fração da brasilidade e da dedicação dos para-atletas, certamente seriamos um dos maiores e melhores países do mundo.
Lamentavelmente, isso não ocorre. O Brasil está ficando cada vez pior, tornando-se quase inabitável, tanto em cidades maiores como, cada vez mais, também em cidades menores. Os criminosos, quer armados, quer de colarinho branco, atuam em todos os setores, em qualquer cidade. Honestidade e seriedade passaram a ser qualidades em gradativa extinção; à medida que isso vem acontecendo, mais e mais pessoas são contaminadas com esses germes do mal, da corrupção, da falta de brasilidade, do sentimento de “quanto pior, tanto melhor”, da ganância, da falta de humildade, da prepotência do que “sabe com quem está falando”, do desprezo pelo próximo e pelos seres em geral, do “primeiro os meus, Mateus”.
Será que o único remédio que poderá talvez nos salvar será o de nos tornarmos todos deficientes físicos ? Será que somente assim passaremos a nos comportar como seres humanos de verdade? Não é crível!
Voltando aos para-atletas e a seus instrutores e guias.
Não posso deixar de registrar, com igual emoção, o carinho, a dedicação, o verdadeiro amor que se estabelece entre os instrutores e, principalmente, os guias e seus companheiros deficientes. Ver como um guia acompanha um cego em sua corrida de 100, 200 metros, cuidando para não se antecipar a seu pupilo sob pena de punição, vibrando quando conseguem uma boa colocação, é comovente. E qual sua recompensa? Poder presenciar e sentir a vibração de seu pupilo! Não é nenhum “mensalão”, quaisquer dez por cento de comissão, “Land Rover” ou algo similar. É uma recompensa absolutamente imaterial, completamente sentimental, e por isso de muito maior valor real do que essas cobradas por políticos e desonestos.
Triste, igualmente, é registrar a pequena atenção que esses jogos “para” (pan, olímpicos, etc.) despertam em nossos meios de comunicação em geral e no próprio povo. Analise-se o tempo e o espaço dedicados por jornais, revistas, televisão, etc, aos eventos “para”; pense-se que qualquer amante de futebol muitas vezes sequer lê as notícias eventualmente publicadas sobre uma competição “para”, contra muitos minutos dedicados ao futebol.
O mesmo ocorre com o número de pessoas que comparece aos estádios, ginásios, para assistir aos jogos. Não que a freqüência tenha sido decepcionante nos recentes jogos; mas foi comparativamente pequena em relação ao evento acontecido imediatamente antes do “para”.
De qualquer forma, meu intento ao escrever é o de ressaltar a brasilidade e, conseqüentemente, os feitos desses patriotas, chamando a atenção para quão bom nosso País poderia ser se houvesse maior patriotismo de boa parte de nossos 180 milhões de habitantes.
E, também, agradecer a esses atletas o grande bem que fizeram a muita gente com seu exemplo de dedicação e, naturalmente, com suas conquistas, ressaltando que, certamente, a maior conquista foi a terem sido escolhidos para representar o Brasil nessa competição.
Que nós todos, e principalmente nossos políticos, do Presidente da República aos vereadores e prefeito da menor cidade brasileira, se inspirem nesses exemplos e os sigam!

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