24 de set. de 2007

Camelódromo

Por Ralph J. Hofmann

Temos a tendência de dar a prédios e costumes um excesso de importância. Uma vez que dediquemos um formato a alguma coisa nos arraigamos a elas, mesmo ante evidências de que elas não funcionam.
Decididamente os belos prédios do Congresso Nacional do Brasil não são funcionais. São odes como tantas outras à visão de Juscelino Kubitschek e ao escultor transvestido em arquiteto Oscar Niemeyer.
A verdade é que não funcionam. O que funciona é o velho sistema da diretoria do Bradesco. Os diretores sentados numa sala sem tabiques ou paredes, visíveis a todos e se enxergando mutuamente. Isso dificultaria as conspirações e facilitaria o serviço de supervisão da imprensa.
Outrossim, já que o legislativo transformou-se num imenso camelódromo, possibilitaria a montagem eficaz de banquinhas para venda de votos.
Quanto ao atual conjunto de prédios do congresso, à luz dos trinta e tantos ministérios hoje em existência, certamente poderiam ser aproveitados. Parte serviria para acomodar os serviços vastamente ampliados após a década de cinqüenta, de ministérios como os da Agricultura, Minas e Energia, Industria e Comércio e até para o Ministério Aloprado.
Seria possível aproveitar a grande experiência dos grandes operadores de hipermercados para construir em noventa dias um novo prédio para o Congresso. Obviamente este não poderia ser em Brasília, pois infringiria as intocáveis visões de Lúcio Costa e Niemeyer.
Portanto, aproveitando este fato, propomos que justiça seja feita ao Estado do Rio de Janeiro, que alega que a retirada do governo feriu de morte sua terrinha. .
Esse imenso galpão abrigando as duas casas e os gabinetes deveria ser em algum lugar como Vassouras.
Mas já que estamos nessa vamos descentralizar mesmo. Vamos dificultar a impropriedade de relacionamentos incestuosos entre os poderes. Sugiro que o judiciário passe a Rio Pardo ou até Gramado no Rio Grande do Sul. Essas localidades são pequenas e mais uma vez ficaria facilitado o monitoramento das idas e vindas de advogados, deputados, senadores, lobistas e ministros. Pisou no aeroporto local, apareceu um carro estranho na rua, a imprensa imediatamente detecta.
Não será mais possível transportar discretamente malas ou caixas de rum de um lado para outro. “Ministro, o Senhor Vai conseguir fumar todo este caixote de panatelas num fim de semana?” - “Senador, é verdade que o Senhor reservou 20 meninas da casa da Marion para uma festa na fazenda do Tubiano?”.
E lá em Brasília? Lá em Brasília a festa seguiria. Mas sempre um pouco mais difícil. O Lobista A passaria pelo Ministério Z e depois teria de tomar um avião para outro estado para falar com o Senador B. Ou marcariam encontro na praia em Santa Catarina.

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