18 de set. de 2007

Insistindo em Acreditar...

Por Fabiana Sanmartini

A Operação Duas Caras pode ser até considerada a resposta aos gritos da população. Nós que insistimos em acreditar que “desta vez o balão sobe”, que por algum lugar, em algum momento, fez-se uma fagulha e que a estrada pode até clarear.
O secretário de segurança do Rio José Mariano Beltrame declara que a operação que prendeu algo em torno de 52 policiais, quase em sua totalidade, lotados em Caxias, na Baixada Fluminense, vai continuar, mas que precisa de calma, tranqüilidade e discrição. Ora, vamos e venhamos, Secretário, tranqüilidade é coisa que o carioca, seja da zona norte, sul, oeste ou baixada, faz muito tempo desconhece. A calma é como se fosse um torpor que toma conta de nossos corpos amedrontados com a violência que já não bate mais à porta, arromba e nos toma de assalto, já que vivemos na mira dos fuzis dos narcotraficantes e de quem deveria nos estar protegendo. Os presos perfazem um total de 10% do batalhão de Caxias, e o secretário declara que no caso de falta de policiamento na região, solicitará ajuda da Força Nacional, aquela que está com os salários atrasados desde julho e que ameaçam abandonar o Rio. A secretaria de segurança tem 30 dias para reunir provas contra os PMs e levar adiante a prisão, caso contrário eles estarão de volta as ruas recebendo o salário medíocre, mas pago por nós e os R$ 2000,00 – R$ 3900,00 pagos pelo narcotráfico para manter seus informantes fardados. Os baixos salários e a falta de condições, material, armamentos, viaturas para o trabalho são a alegação dos que se venderam ao tráfico. E nós? São nossos impostos, ganhemos muito ou pouco, justos ou injustos que pagam não só a segurança, mas também a saúde e a educação, igualmente caóticas. A população também sai para trabalhar, manda seus filhos para escolas e tenta levar uma vida normal sem condições. Vivemos a insegurança de saber se voltaremos para casa ao final do dia ou se seremos arrastados por metros, talvez quilômetros e mortos em um assalto. E no final desta barbárie em que vivemos, o governador do Rio declara que na região onde morreu não só o menino João Hélio e agora a enfermeira Virginia Santana Almeida (Madureira e Del Castilho) realmente é pouco policiada. Apesar do pouco caso nós insistimos, gritamos e não nos corrompemos, estamos anestesiados, mas não deixamos de pagar nosso quinhão, ainda quando é a famigerada CPMF, retirada das nossas contas com a justificativa de ser utilizada na saúde. Saúde de quem? Mal caratismo não se justifica com falta de condições de trabalho e baixos salários. No país onde quem detém o poder compra mais que pessoas, compra impunidade, achincalha-se o governo e o estado do Rio que foi conivente, vive em total estado de desgoverno, sem saúde, sem educação, sem segurança e sem vergonha no que concerne a administração. E nós? Vamos continuar gritando por um Estado digno onde possamos sair às ruas, por um país que não nos faça abaixar a cabeça quando mencionado em uma roda, ainda que de botequim.

(*) Foto: um raro flagrante de um soldado da PM aplicando respiração boca à boca em uma criança num dos muitos conflitos sociais que acontecem na cidade do Rio de Janeiro.

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