17 de set. de 2007

Onde estão?

Ralph J. Hofmann

Ha pouco me telefonaram para dizer que haviam se encontrado com Fulana. Fulana está em Porto Alegre na casa dos pais para ter um bebê. Mas onde estava Fulana que há muito tempo não a vejo.
O marido de Fulana era piloto da Varig. Sem emprego fez um curso intensivo de inglês. Foi contratado para Dubai, submeteu-se a alguns meses de treinamento, fez alguns vôos como co-piloto e agora é novamente comandante.
Como este piloto há outros 27 em Dubai. Um número semelhante no Qatar. Mais ainda na China. O pessoal dos Emirados está pilotando em condições de primeiro mundo. Tudo dentro de normas IATA e IALPA. Na China há problemas.
Todo este pessoal está com contratos de cinco anos.
Sabem quanto isto está custando ao Brasil? Sabem qual é a estimativa de custo para que um piloto chegue a este estágio de competência? Por baixo, US$ 3.000.000,00. Cem pilotos no exterior significam uma fuga de US$ 300.000.000,00. Seis Aerolulas. Sabem a falta que estão fazendo? Esta falta representa a falta dos vôos da Varig, da estrutura experiente da Varig, do exemplo que velhos profissionais calejados podiam dar aos mais jovens. Estimemos por baixo que isto nos custe ao longo dos próximos anos uns US$ 2.000.000.000,00. Um ano de exportação de suco de laranja.
Nem que amanhã se reponha toda a estrutura de controle aéreo com equipamentos novos o problema estará resolvido. Vão faltar equipes experientes para tocar o negócio. Tiveram de emigrar para manter suas famílias.
Qual a próxima etapa? Peritos caríssimos, formados nas escolas privadas, às custas da combalida classe média brasileira, os pais passando aperto para pagarem os cursos terminarão seus cursos e procurarão colocação no exterior assim que tiverem alguma experiência. A imoralidade e insegurança inerentes à vida no Brasil no momento serão mais fortes que qualquer noção de patriotismo. Preferirão amar a Pátria Mãe de longe. Quanto custa um engenheiro recém formado? Por baixo, avaliando o custo de alimentar, medicar e vestir um filho por 24 anos em R$ 100.000, 00 e o custo de escolas até um diploma superior em outros R$ 30.000,00 podemos dizer que um engenheiro ou físico ou professor de geografia custa US$ 65.000,00 para formar. Imaginemos que deixe o país para fazer render o investimento que seus pais fizeram nele. Este é o tamanho do investimento perdido pelo país.
E não vá algum gênio partidário de Fidel Castro que esteja lendo isto inventar de achar que então o país deve coibir a saída destas pessoas. A Carta Magna das Nações Unidas, da qual o Brasil é signatário garante o direito de ir e vir. Já foi suficientemente grave o tempo de Mario Henrique Simonsen quando o brasileiro para viajar ao exterior tinha de fazer um depósito equivalente a US$ 1.000,00.
O país tem hoje como aproveitar e pagar bem essas pessoas. Contudo não tem condições de dar paz e serenidade ao longo dos anos. Não garante que uma bala perdida não entre pela janela, ou que não seja fuzilado no trânsito de uma grande cidade. Não tem garantia de que o INSS dentro de 35 anos tenha como pagar sua pensão. Não tem garantia de que de um momento para outro, com uma penada o governo remova as condições de operar um negócio qualquer.
Isso é mais grave do que a remoção ilegal de ouro ou diamantes ou moeda forte do país. Compromete o futuro.

2 comentários:

ma gu disse...

Alô, Hofmann.

Perdão, tenho de discordar da sua conta. A coisa é muito pior. Eu não tenho filhos mas, um amigo que tem 3 filhas, uma já formada na faculdade e as outras duas em fase de, fez uma conta na linha da sua inserção e concluiu que, até que as 3 estivessem formadas, o custo final seria de aproximadamente R$ 1.200.000,00 (sem contar correção do dinheiro). Isso significa quase U$ 200,000 cada uma, e não U$ 65,000.

Ralph J. Hofmann disse...

Magu

Agradeço e confirmo teus números. Fiz a conta, apliquei um K&T e entre a opção pior, boa e ótima apliquei a menorzinha. Não quis ser catastrofista demais.
Tenho 61 anos, um filho engenheiro com mestrado (que passou todos os anos de faculdade cavando bolsas de pesquisa, com carga máxima horária de aulas e de pesquisas remunerada), um filho quartanista de engenharia (que agora volta tendo interrompido por um ano para fazer um trabalho de pesquisa junto a uma universidade européia) e uma filha advogada que não passa no exame da OAB pois este não é feito para aferir capacidade e sim para excluir). Isso significa que o pai (eu) está quebrado após educar os filhos.
Quando olho para teus números vejo que há diferenças regionais de custo mas certamente eu não deixaria abaixo de US$ 100.000,00 se meus filhos não tivessem se auto-ajudado engajando-se em pesquisas e tendo feito um grande esforço para frequentar uma universidade federal, o quie só conseguiram porque eu os mantive com muito esforço em colégios de primeira linha.

Os filhos dos capitães de indústria, com honoráveis exceções não se preocupam com as universidades públicas. Qualquer Di Gênio os diverte. Donde as vagas para filhos inteligentes e preparados ainda existem nos cursos federais, ao contrário do que alegam os fãs das quotas.

Me estendi demais Magu, mas tudo isso suscita vários aspectos.

Abraços Magu, V. sempre dá dentros.