11 de out. de 2007

A defesa

Por Ralph J. Hofmann

Então o juiz monegasco olhou para o prisioneiro e disse:
“Conforme o senhor havia pedido lhes permitiremos alguns minutos para expor os motivos pelos quais não deve nada no Brasil, e muito ao contrário, devemos tomar precauções para vistoriar as bagagens dos emissários do governo brasileiro para assegurar-nos que ao partirem não estejam se apoderando de propriedades do Principado”.

O prisioneiro levantou-se cumprimentou as autoridades e entrou direto no assunto:
“Senhores estou aqui, não por qualquer crime que tenha cometido. Por ocasião dos eventos discutidos nesta sala, eu havia gerido meu banco baseado em juras do governo de que não desvalorizaria a moeda. Meu erro foi acreditar no governo. Fui traído por ele. Ao tentar resolver o problema me enredei mais ainda. Mas posso hoje defender-me com o argumento de que estava simplesmente me antecipando algum tempo aos padrões morais hoje vigentes no país. Só estou recebendo este tratamento por não pertencer às elites.
Podem achar isto estranho. Um banqueiro normalmente é elite. E até pode ser. Mas no Brasil elite é outra coisa. Para ser elite você deve ser eleito a algum cargo com dinheiro desviado do erário público, deve receber uma gorda pensão por quarenta e oito horas de desconforto há vinte e cinco anos atrás, deve pagar a despesa de manutenção de suas amantes com dinheiro de lobistas, ou deve conseguir que sua empresa de valor de mercado de dez milréis seja comprada por uma concessionária do governo por quinze milhões de reais.
O Brasil lembra a Inglaterra do século dezoito, ou a França de Jean Valjean. O roubo de um pão na Inglaterra levava ao degredo na Austrália. O roubo de um pão na França levou Jean Valjean a dez anos nas galés do rei. Uma mendiga no Brasil passa dois anos na cadeia por roubar para mitigar a fome.
Já o saque no valor de centenas de milhões de reais, cometido por um magistrado, leva a uma prisão domiciliar. Um promotor público assassino comprovado continua no cargo, é promovido e ganha um aumento.
Um ministro, aliás, vejam se na Itália não há algo contra ele e a família dele, pois seu sobrenome é italiano, Guido Mantega, amuado porque o congresso talvez não estenda a vigência de um imposto, chantageia o país inteiro, alegando que se não aprovado vai aumentar os impostos. Não lhe passa pela cabeça controlar os gastos do governo. Chantageia para ter mais com que gastar. E mais, esquecido dos princípios básicos do chantagista. Nunca extorquir mais do que o chantageado está disposto a conceder.
A verdade é, senhores, que estou aqui porque não pertenço às elites brasileiras. Sou um mísero imigrante, que por algum tempo se deu bem, mas não tendo freqüentado as instituições formadoras das elites brasileiras, escolas em Havana, Moscou Praga, Sofia, Ilha Grande e Carandiru não tenho proteção contra a sanha dessas elites.
Portanto peço à corte que me proteja e me permita seguir a minha vida como europeu aqui na Europa.

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro jornalista Ralph:
Sobre esta questão de aumentar impostos ou tarifas aqui no Brasil, você deve se lembrar do Ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, no governo do Figueiredo, em que ele mandou fazer uma tremenda propaganda para se economizar energia elétrica. Ao que prontamente a nação respondeu e por conseguinte imediatamente mandou aumentar o preço da tarifa de energia com a justificativa da queda de consumo. Acostumados e inertes, a levarmos tapas na cara e que atualmente tornou-se uma rotina neste governo petista.

ma gu disse...

Alô, Ralph.

Permita-me acabar a fábula.

Sentença:

Ouvido o prisioneiro, nos autos do processo trazido em mãos pelo Ministro da Justiça do país que requer a extradição, em exame nesta Corte, decido que o arrazoado do acusado tem fortes raízes lógicas contra as acusações lançadas no processo.
DECIDO.
Há que se convir que, conhecidos os usos e costumes do país requerente, nego a extradição de plano. Coloque-se o prisioneiro em liberdade imediatamente, com um pedido de desculpas pelo incômodo, concedendo-lhe imediato asilo político, porque claros os indícios de perseguição.
Expulse-se o representante legal do país, que deverá ser conduzido deste tribunal ao aeroporto, imediatamente, sob guarda, e colocado no primeiro vôo disponível.
A sentença transitará em julgado no momento da assinatura.
CUMPRA-SE. PUBLIQUE-SE.

Anônimo disse...

Muito boa fábula e ótima a sentença dada pelo(a) Magu.

L.A.S.

Anônimo disse...

O prisioneiro deveria ter incluído em seu pleito, após o primeiro parágrafo.
“ Vamos ao esclarecimento.
Quando me desesperei diante do prejuízo que meu banco teria com a desvalorização cambial, procurei meu amigo, o homem forte do Banco Central, rogando-lhe que me vendesse US$ 1,2 bilhões, à taxa de R$ 1,25, uma cotação de pai para filho, reconheço.
Para justificar meu pleito, aleguei, em carta manuscrita, que, uma vez atendido, abandonaria o ramo, para recomeçar minha vida e esquecer tudo (essas duas palavras foram sublinhadas, para chamar a atenção), numa promessa de enterrar o passado e todos os seus segredos.
Agora, me acusam de ter conseguido os dólares, mediante ameaça e chantagem.”

Ralph J. Hofmann disse...

Roberto

Muito bem colocado. Mas veja o acórdão do Magu hoje. Certo quew pé um tribunal de crônica, um juiz de crônica e um discurso de crônica, mas se nós tivessemos uma constituição com base na inglesa, realmente o socorro ao Cacciola teria sido normal. Se socorriam tantos outros.
E por outro lado, realmente até certo ponto evitaram choques no mercado, o que não deixa de ser o papel do BC. Era o que J.P. Morgan, fazia antes de os EEUU terem o FED. Constatava que choques eram muito amus para a recuperação da economia, donde fazia uma vaquinha de banqueiros e salvava a economia.